Entrevista: Brasil deve explorar novas oportunidades de exportação ao mercado chinês, diz especialista

2022-02-22 14:00:24丨portuguese.xinhuanet.com

Rio de Janeiro, 20 fev (Xinhua) -- O Brasil deveria explorar novas oportunidades de exportação à China, mas para isso deve saber se posicionar em um mercado "supercompetitivo" no qual atuam os principais exportadores do mundo, disse Túlio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), em entrevista à Xinhua.

O diretor avaliou positivamente o crescimento do comércio bilateral entre o Brasil e a China em 2021, que superou US$ 130 bilhões, maior valor alcançado até agora em transações comerciais do Brasil com outro país. Não obstante, afirmou que, "a longo prazo, acredito que o Brasil tem que explorar novas oportunidades de mercado na China, em setores como o de manufaturados".

Para Cariello, o aumento do valor do intercâmbio comercial entre os dois países no ano passado se deveu principalmente "ao aumento do preço das matérias-primas", setor em que o Brasil é um dos principais exportadores do mundo, razão pela qual sugeriu que o país deve buscar novas alternativas para consolidar esta relação.

"No setor de manufaturados industriais, é muito difícil ter competitividade na China porque o produto chinês é mais competitivo, mas podemos apostar na qualidade do produto em vez do preço e apostar também na diversificação da pauta em um segmento onde já somos competitivos, como o agronegócio, passando a exportar mais produtos para a classe média chinesa", comentou.

"São produtos finais que chegarão aos supermercados chineses, algo que o Brasil vem fazendo nos últimos anos, com um grande crescimento das vendas de café, produtos de horta, fibra... Existe este mercado na China e acredito que o produtor brasileiro pode explorá-lo melhor, ainda que necessite também de uma abertura maior do lado chinês", afirmou.

Segundo Cariello "a China é um mercado altamente competitivo, no qual todos os grandes países exportadores já vendem esses produtos com maior valor agregado, o que impõe a necessidade de saber se posicionar no mercado chinês".

Recentemente, entrou em vigor o status de operador econômico autorizado (OEA) entre a China e o Brasil, o que permitirá que empresas de ambos os países que o obtiverem gozem de trâmites simplificados nas alfândegas, algo que deverá reduzir o tempo de chegada dos produtos e o preço nos portos.

Segundo o especialista, porém, o mais importante realmente é que produtores e exportadores brasileiros conheçam bem o mercado chinês.

"É fundamental que o produtor brasileiro tenha um conhecimento melhor do que é o mercado chinês, das características do consumidor, das adaptações que necessitamos fazer para atingir a ponta final da cadeia, ou seja o consumidor, devido à concorrência que teremos dos fornecedores já estabelecidos".

Cariello destacou que "uma abertura do lado chinês não é suficiente, o produtor e o exportador brasileiros têm que analisar e estudar bem o mercado, entender como funcionam os canais de venda".

O diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC defendeu que ambos os países se concentrem mais em estreitar a relação nos campos da sustentabilidade e da tecnologia, dois temas que estão na ordem do dia.

"A complementaridade econômica entre o Brasil e a China é muito evidente, e vemos isso claramente na questão do comércio bilateral, com o Brasil tendo a China como seu maior parceiro desde 2009 em exportações e a China como maior fornecedor do Brasil, mas acho que em termos de cooperação, deveríamos pensar em questões que ainda são um pouco incipientes nesta relação, como a sustentabilidade e a tecnologia", comentou.

"São dois pontos fundamentais. Nos debates sobre o meio ambiente, o Brasil tem tradição, é uma questão que vem desde os anos 90 e acredito que há um grande potencial de cooperação na área de sustentabilidade, porque há uma preocupação global com isso", ressaltou.

Sobre tecnologia, afirmou que "a China tem operado nesse setor, inclusive provocando desarticulações no mercado, com a questão da 5G, que já está bem desenvolvida, com a parte da internet das coisas, com a inteligência artificial... todos esses pontos fazem parte de uma nova economia que, em algum momento, pautará o comércio e os investimentos globais e acredito que, sim, existe a possibilidade de interação entre o Brasil e a China nesse campo".

Cariello também se referiu à cooperação em economia digital e inovação. No Brasil hoje, temos startups que foram compradas pela China e acredito que nesse setor, além dos investimentos, existe uma possibilidade de maior cooperação de geração de conhecimento, sabemos que há empresas chinesas que operam aqui, como a própria Huawei, que têm acordos com universidades brasileiras e o setor de telefonia móvel também tem possibilidades de cooperação, explicou.

"Acredito que são setores que têm um grande potencial, porque o que escutamos dos próprios chineses é que no Brasil temos uma qualidade considerável nas universidades, pessoas capacitadas para trabalhar e acho que existe esta convergência de interesses. A China tem realizado essas rupturas tecnológicas e o Brasil tem toda a capacidade para recebê-las, o que falta é um diálogo que promova essa aproximação, não só do governo, como também da parte de entidades privadas, afirmou.

"É algo surpreendente e positivo, não só para a China, mas também para o mundo. Vemos no Brasil alguns investimentos em energias renováveis e é um modelo que a China não tenta exportar, mas vejo que há uma sinergia, porque está incluído dentro da iniciativa do Cinturão e Rota que os investimentos em energia devem ser em energias renováveis e vejo isso como muito positivo", concluiu. Fim

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