(Multimídia) COP15 sobre biodiversidade é tão importante quanto as COPs sobre clima, diz diplomata brasileiro Rubens Ricupero

2022-03-24 13:27:20丨portuguese.xinhuanet.com

Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro do Meio Ambiente do Brasil, em entrevista à Agência de Notícias Xinhua. (Xinhua/Zhao Yan)

Por Chen Weihua, Pau Ramírez e Gabriel Fragoso

Rio de Janeiro, 23 mar (Xinhua) -- A Conferência das Partes (COP) sobre biodiversidade é tão importante quanto aquelas sobre mudanças climáticas, pois trata da vida e é essencial prestar atenção à biodiversidade do planeta para ter uma civilização ecológica no futuro, explicou o diplomata brasileiro e ex-ministro do Meio Ambiente, Rubens Ricupero.

A COP sobre biodiversidade trata da vida

Em entrevista concedida recentemente à Xinhua, Ricupero falou sobre a segunda parte da COP15, que será realizada neste ano na cidade chinesa de Kunming, após a primeira parte já ter sido realizada no ano passado.

"Considero a conferência sobre biodiversidade tão importante quanto a conferência sobre mudanças climáticas e, infelizmente, não recebeu a mesma atenção. Para mim, trata-se da vida, do que somos, seres vivos, do clima e das condições de vida. Se queremos ter uma civilização ecológica no futuro, primeiro precisamos prestar atenção à biodiversidade da Terra", apontou Ricupero.

O ex-ministro teve participação destacada na Rio-92, primeira Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992.

Segundo ele, "até hoje, a Rio-92 é a conferência que marcou o avanço mais importante nesse assunto, pois quando foi inaugurada tivemos a assinatura das grandes convenções, a primeira convenção da ONU sobre mudanças climáticas e a segunda sobre a diversidade biológica. Em nenhuma outra que veio depois foi alcançado um objetivo tão avançado, porque essas duas convenções quase constituem as constituições, o grande molde dentro do qual se realizam as reuniões anuais, as COPs", comentou.


Criação do fundo especial de apoio à biodiversidade

Presidente emérito do think tank Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, Ricupero declarou-se "muito feliz" com o anúncio feito pelo presidente chinês, Xi Jinping, na primeira fase da COP15 em Kunming, de criar "um fundo especial de apoio à biodiversidade dos países em desenvolvimento, entre US$ 200 e 300 milhões. Acho que foi um gesto muito positivo da China para ajudar os países em desenvolvimento nessa área."

Ex-embaixador brasileiro nos EUA e na Itália e ex-ministro da Fazenda e Meio Ambiente do Brasil, Ricupero disse "apreciar muito a aprovação da declaração de Kunming, que está muito bem elaborada com os princípios básicos".

"Agora precisamos aprovar um plano de ação com metas, com objetivos bem definidos, porque o grande problema que temos é reverter esse processo de destruição da biodiversidade. Todos sabemos que em 2019 a ONU publicou um relatório mostrando que 1 milhão de espécies vivas de plantas e animais correm um risco muito alto de extinção, e ainda não conseguimos parar esse processo. Houve progressos, mas como sabemos existem problemas de deterioração do meio ambiente", comentou.

"Precisamos fazer um grande esforço para que na segunda fase da COP15 em Kunming haja um plano de ação com objetivos claros, como poderemos reverter isso até 2030 para chegar a 2050 nesse ideal de civilização em harmonia com a natureza, que é o grande ideal que temos em termos de biodiversidade. Só conseguiremos se tivermos um avanço na conferência de Kunming agora, não só nas metas, mas também no financiamento para os países mais pobres", explicou.

Por isso, o especialista brasileiro considera que o plano anunciado pela China para ajudar os países em desenvolvimento para a biodiversidade é "muito valioso".


Importância do conceito de "civilização ecológica"

Secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), em Genebra, de 1995 a 2004, Ricupero referiu-se ao conceito de "civilização ecológica", que considera "superior ao conceito de desenvolvimento sustentável''. "Na minha opinião, o conceito de civilização ecológica deve substituir e acrescentar o de desenvolvimento sustentável. Acredito neste conceito mais amplo e inclusivo, e no campo dos valores, considero-o superior".

Nesse sentido, destacou que "este conceito de sustentabilidade é a solidariedade entre gerações, as mais velhas e as mais novas, a ideia de que devemos deixar aos nossos filhos e netos um planeta Terra igual ao que recebemos e não pior, essa ideia que temos que usar os recursos de uma forma que não impossibilite que a nova geração atenda às suas necessidades."

"Esse conceito ainda é muito marcado pela ideia de crescimento, o que é bom, mas não contém um elemento muito importante que faz parte do conceito de civilização ecológica, que é que para alcançar a sustentabilidade, temos que mudar profundamente os padrões de produção e consumo. Nunca teremos sustentabilidade se continuarmos produzindo de forma destrutiva, destruindo a floresta e poluindo o mar e os rios, e nunca alcançaremos a sustentabilidade se tivermos esse consumo em alguns países. É um desperdício, muito mais do que o ser humano precisa", explicou.

"Sabemos que no futuro teremos que mudar e transformar em profundidade a forma como a sociedade se organiza, como produz e como os seres humanos consomem, e isso é uma mudança de civilização, é a civilização ecológica. Por isso acredito que seja um conceito superior, mais nobre, pelos seus valores, a ideia de que temos que ter uma civilização que respeite a natureza", avaliou.

O diplomata brasileiro valorizou "muito positivamente" o papel que a China deu a esse conceito. "Já como meta da China, e acho que deveria ser uma meta de todos os países do mundo, deveriam imitar essa meta de civilização ecológica", afirmou.


Possível cooperação entre China e Brasil

Rubens Ricupero apontou uma possível cooperação entre China e Brasil em biodiversidade. "Um bom exemplo que China e Brasil poderiam dar é encontrar na floresta amazônica um projeto piloto entre eles no caso da biodiversidade, aquela ideia de mostrar que a floresta viva, em pé, acaba sendo mais valiosa para a população local do que a destruição da floresta, mas levando em conta os interesses das comunidades indígenas, dos mais pobres, dos camponeses, daqueles cuja sobrevivência depende da floresta."

"Acredito que a China e o Brasil devem aproveitar a conferência de Kunming e a nova fase das relações entre China e Brasil no futuro para escolher um projeto piloto, demonstrando o quanto pode ser feito. A China pode ajudar muito com suas capacidades científicas e tecnológicas, porque isso exigirá muita pesquisa e conhecimento", ressaltou.

O diplomata destacou que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) "poderiam usar o banco de desenvolvimento do grupo para lançar um grande projeto de proteção de grandes florestas, não apenas dos trópicos, também de países de altas latitudes, e demonstrar que é possível desenvolver uma economia em harmonia com a natureza, dentro deste conceito de civilização ecológica".

"Os BRICS poderiam fazê-lo porque representam os grandes continentes do mundo em desenvolvimento e têm todos os ecossistemas, desde os do Pólo Norte até os da Amazônia e da região equatorial, da África central. É uma espécie de miniatura do mundo, um microcosmo que poderia demonstrar que os governos do BRICS têm esse compromisso com o meio ambiente", acrescentou. Fim

O ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, Rubens Ricupero (primeiro à direita), participa da cerimônia de encerramento da 11ª sessão da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento em São Paulo, Brasil, em 18 de junho, 2004. (Xinhua/Yang Limin)

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