Macau, 17 dez (Xinhua) -- Fang Fan, uma moradora de Guangzhou, tinha um objetivo claro para sua recente viagem a Macau: desfrutar de um lugar na primeira fila em uma apresentação do ícone musical norte-americano Herbie Hancock.
Para espectadores como Fang, Macau -- a apenas duas horas de carro ao sul de Guangzhou -- emergiu como um destino vibrante onde os sonhos de caçar estrelas podem se tornar realidade. Com uma variedade crescente de apresentações de alta qualidade e acesso mais fácil a ingressos em comparação com as metrópoles da parte continental chinesa, a cidade está crescendo rapidamente em apelo cultural.
Sendo um importante porto comercial sob ocupação portuguesa durante séculos, Macau regressou à pátria, a China, em 20 de dezembro de 1999, quando a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) foi criada.
Nos últimos 25 anos, Macau tem se transformado num centro multifacetado, evoluindo para além da sua alcunha de "Las Vegas do Oriente". Agora busca se estabelecer como um centro global de turismo e lazer, enquanto diversifica-se em setores como cultura e esporte.
CIDADE DAS ARTES CÊNICAS
Anos atrás, a paisagem cultural de Macau era muito diferente. Poucas pessoas consideraram viajar para lá para shows ao vivo. Wu Zhiliang, presidente do Conselho de Administração da Fundação Macau e residente da cidade há quase 40 anos, recordou uma época em que mesmo as apresentações gratuitas não conseguiam atrair o público local. Desde o seu retorno à pátria, no entanto, Macau tem se tornado um destino capaz de atrair artistas de classe mundial, como o tenor espanhol Plácido Domingo e Herbie Hancock. Essa transformação vem sendo alimentada pela crescente prosperidade da RAEM sob a política "um país, dois sistemas" - um arranjo único que lhe permite manter seu sistema capitalista e modo de vida dentro da China socialista. Até 2023, o PIB per capita de Macau mais do que quadruplicou em comparação a 1999, atingindo quase US$ 70.000.
Locais modernos como o Centro Cultural de Macau têm desempenhado um papel fundamental na realização de espetáculos, enquanto a RAEM também tem alavancado o seu rico patrimônio cultural. Em outubro de 2024, a renomada virtuosa sino-americana da pipa Wu Man se apresentou no Teatro Dom Pedro V, o primeiro teatro de estilo ocidental construído na China, em 1860.
"O local histórico combina lindamente com a pipa, um instrumento tradicional chinês", disse Wu Man à Xinhua. "A atmosfera era excelente e pude sentir o entusiasmo do público pelos sons e melodias cativantes."
As principais empresas de entretenimento também estão reconhecendo o potencial de Macau. Em 7 de dezembro de 2024, a Arena do Galaxy sediou o iQIYI Scream Night, um evento repleto de estrelas que celebra as principais conquistas do entretenimento. Este foi o segundo ano consecutivo em que a principal plataforma de entretenimento online escolheu Macau para a sua extravagância anual. De acordo com o iQIYI, o evento atraiu centenas de estrelas da indústria, milhares de espectadores ao vivo e centenas de milhões de espectadores online.
A crescente reputação da cidade como um centro cultural é evidente em suas estatísticas. O Livro do Ano de 2023 da RAEM relatou mais de 55.000 apresentações públicas e exposições culturais realizadas naquele ano, um aumento significativo de aproximadamente 38.000 em 2013.
APELO DO ENSINO SUPERIOR
Yanick de Almeida, um novato da Universidade de Macau (UM), escolheu esta cidade pela sua reputação de ser um lugar calmo e seguro para viver. Quando o jovem angolano chegou, ficou agradavelmente surpreendido com o que encontrou.
"Inicialmente, pensei que Macau seria como a parte continental chinesa, onde todos falam Putonghua", disse Almeida. "Mas rapidamente descobri que muitos dos meus colegas aqui também falam português ou inglês."
Para Sofia Costa, estudante de intercâmbio da Universidade do Porto, em Portugal, estudar em Macau tem sido uma jornada transformadora de crescimento pessoal e profissional. Atualmente estudando química supramolecular e medicina tradicional chinesa (MTC) na UM, ela descreveu o aprendizado da MTC como "uma oportunidade única na vida".
"Mergulhar na medicina chinesa tem sido uma experiência fascinante", disse Sofia. "Estou confiante de que o conhecimento que adquiri aqui será inestimável ao longo da minha carreira."
Dados da UM mostram que a universidade atualmente recebe mais de 350 estudantes internacionais de cerca de 50 países e regiões, incluindo Estados Unidos e Japão, marcando um aumento de 360% em comparação com uma década atrás.
A UM é uma das 10 instituições de ensino superior de Macau, uma cidade com uma população de cerca de 690.000 habitantes. Entre eles, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) destaca-se como um excelente exemplo do crescente apelo da RAEM como destino acadêmico.
Fundada em 2000, a MUST tornou-se rapidamente a maior universidade multidisciplinar de Macau, matriculando cerca de 23.000 estudantes, 94% dos quais vêm de fora da RAEM.
Nos últimos 25 anos, a reputação acadêmica de Macau cresceu significativamente. Como local histórico do Colégio de São Paulo -- a primeira universidade do Extremo Oriente -- Macau continua a construir o seu legado de ensino superior. Hoje, a UM está entre as 250 melhores universidades do mundo, ressaltando o compromisso da RAEM com a excelência acadêmica.
FASCÍNIO DE DIVERSAS CULTURAS
Tanto Almeida como Costa ficaram impressionados com a diversidade cultural de Macau. "Conheci pessoas de várias origens culturais, o que foi uma surpresa deliciosa", disse Almeida. "Sempre há alguém pronto para ajudar, o que tornou meu tempo aqui verdadeiramente agradável." Como uma cidade histórica onde as culturas chinesa e ocidental se encontram, Macau exibe um charme único que pertence a uma cultura típica do sul da China, mas com um toque europeu distinto.
Desde meados do século XVI, Macau tem servido como uma ponte vital que facilitou a troca de conhecimento entre o Oriente e o Ocidente, disse Wu Zhiliang, que passou décadas estudando a história e a cultura da cidade.
O centro histórico de Macau, designado Patrimônio Mundial da UNESCO, é um testemunho de um dos primeiros e mais duradouros encontros entre a China e o Ocidente.
Essa rica síntese cultural é incorporada por marcos como as Ruínas de São Paulo, cuja fachada integra elementos orientais, como inscrições chinesas e motivos de leões, em seu design. Perto dali, o Templo Na Tcha -- uma homenagem à figura lendária Ne Zha, um herói matador de demônios retratado no clássico chinês do século XVI "Jornada ao Oeste" -- ressalta a coexistência harmoniosa das tradições orientais e ocidentais.
O fascínio cultural de Macau estende-se para além das suas igrejas e templos icônicos. "Aqui, civilizações e culturas não se chocam, mas coexistem e se entendem, refletindo o ideal tradicional chinês de harmonia na diversidade", explicou Wu.
Esta mistura é talvez mais evidente na tapeçaria culinária de Macau. Ao longo dos séculos, a cidade preservou a culinária de diferentes nações enquanto criava novos sabores por meio da fusão criativa. A cozinha macaense, um dos primeiros alimentos de fusão do mundo, combina técnicas e ingredientes culinários chineses e portugueses. Também incorpora especiarias e temperos de regiões ao longo da antiga Rota da Seda Marítima, como curry e leite de coco, criando pratos com uma rica profundidade histórica e cultural.
Pedro Miguel Manhão Sou, um residente local cuja mãe gere um restaurante especializado em cozinha macaense, recordou a sua infância como sendo repleta de uma mistura colorida de culturas e sabores.
"Meu avô costumava administrar uma barraca de macarrão e, depois da escola, escolhíamos nossos acompanhamentos favoritos lá. À noite, saboreávamos os pratos macaenses que minha mãe preparava em casa. Esta era a nossa vida", disse ele. "Minha família celebra tanto a Festa da Primavera como o Natal."
Hoje, Macau é um dos lugares mais seguros e ricos do mundo, conhecido por seus restaurantes com estrelas Michelin, famosas tortas de ovo portuguesas e barracas de comida de rua vibrantes. Sua rica herança culinária não apenas atraiu amantes da gastronomia de todo o mundo, mas também ganhou reconhecimento internacional.
Em 2017, Macau foi nomeada Cidade Criativa da UNESCO em Gastronomia. Mais recentemente, em junho de 2024, a cidade foi designada Cidade Cultural da Ásia Oriental como parte de um programa iniciado pela China, Japão e República da Coreia para promover o intercâmbio cultural e a colaboração.
Com a sua crescente reputação global, Macau tem registrado um aumento no número de visitantes. Até 7 de dezembro de 2024, a cidade havia recebido mais de 32 milhões de turistas -- um aumento de 26% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados oficiais. José Chan Rodrigues, um residente de Macau com ascendência portuguesa, vê a cidade como uma ponte que promove uma compreensão mais profunda da China. Como um dos embaixadores culturais de Macau, Chan Rodrigues destaca o apelo único da cidade: Macau oferece aos viajantes quase tudo o que procuram, desde a mistura cultural à experiência culinária, tudo envolto numa cidade costeira de 33 quilômetros quadrados.
"Isso", acrescentou, "é o fascínio de Macau para o mundo".