Rio de Janeiro, 9 set (Xinhua) -- A economia do Brasil poderia ser 30% maior se o país fosse menos desigual e se a população negra, que representa 52% da população, tivesse as mesmas oportunidades que os brancos, como estudar por mais anos, aceitar melhores empregos, ter crédito para iniciar um negócio e viver em melhores condições materiais, segundo afirmaram nesta segunda-feira especialistas que participaram de um seminário organizado pelo governo.
Esse diagnóstico é compartilhado por pesquisadores, ativistas, representantes de organismos internacionais, técnicos e governantes que participaram do seminário Empoderamento Econômico da População Afrodescendente, realizado nesta segunda-feira na sede, em Brasília, do Instituto Estadual de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento.
"O empoderamento econômico da população negra não é uma opção, é uma necessidade. Se não fizermos isso, não seremos um país desenvolvido", disse a presidente do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo.
A diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Tereza Campello, também considera a desigualdade que exclui grande parte da população negra "um obstáculo ao crescimento do país". Para ela, a questão vai além das reparações históricas. "Se o Brasil não superar a desigualdade brutal, não seremos capazes de transformar a própria economia", disse ela.
"Do ponto de vista do consumo, estamos perdendo a possibilidade de melhorar o nosso mercado interno. Do ponto de vista das capacidades e do potencial, daquilo que estamos a perder em termos de inovação, de capacidade de trabalho, de capacidade criativa, estamos perdendo muito", lamentou.
Na opinião de Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres no Brasil, a desigualdade e a exclusão atrapalham o capitalismo no Brasil. "Como podemos pensar o capitalismo com base nos seus princípios de lucro, se não olharmos para quem pode gerar esse lucro, quem pode consumir desse lucro?"
Carolina Almeida, assessora internacional da ONG Geledés - Instituto da Mulher Negra, acredita que o racismo institucional no Brasil funciona como uma "estratégia de exploração" que "favorece e privilegia alguns e tira vantagens de outra parcela da população".
Do ponto de vista deles, é preciso pensar em políticas públicas de geração de renda. "Não queremos um empreendimento de sobrevivência, que já está acontecendo, não queremos um empreendimento que vem de uma situação precária e que serve para apoiar o empresário durante um mês. Queremos um empreendedorismo sustentável, queremos também um desenvolvimento sustentável", destacou.
"Sem resolver o problema racial, não concretizaremos o imenso potencial econômico do Brasil", disse José Henriques Júnior, economista do Ministério da Fazenda e coordenador da Trilha de Finanças do G20. Para ele, os bancos multilaterais e de desenvolvimento, como o BNDES, "têm um papel a desempenhar na promoção de políticas públicas".
Luciana Mendes, do Ipea, acredita que continua sendo um "desafio" para o país perceber que "a discriminação é prejudicial não só para quem a sofre diretamente, mas também para a sociedade como um todo". Para ela, esse entendimento é necessário para que a questão do empoderamento negro se torne uma "agenda central", disse.