Por Qi Yue e Wang Lu, correspondentes da Xinhua
Beijing, 3 jul (Xinhua) -- A China continua sendo o maior comprador de produtos agrícolas do Brasil, com aquisições atingindo US$ 9,43 bilhões nos primeiros três meses de 2025 e representando 28,7% do total das exportações agrícolas brasileiras, conforme estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil.
Há vários anos, os negócios sino-brasileiros se concentram nas exportações de soja para a China. "No ano passado, o Brasil exportou para a China cerca de 73% da sua produção de soja", apontou Maurício Buffon, presidente da Aprosoja Brasil.
No entanto, a China tem apresentado nos últimos anos uma transformação dos hábitos de compra - uma preferência por alimentos de alta qualidade e sustentáveis, o que abre portas para a ampliação e a diversificação de exportações de produtos agrícolas brasileiras, observou Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
"Impulsionado pelo crescimento da classe média chinesa e pelo aumento da renda disponível, o mercado chinês valoriza cada vez mais produtos saudáveis, naturais e sustentáveis, e o café é um grande exemplo dessa tendência", disse Viana à Xinhua.
Segundo o relatório 2025 sobre o Desenvolvimento do Café em Cidades Chinesas, a escala industrial deste produto na China atingiu 313,3 bilhões de yuans (US$ 43,29 bilhões) em 2024, com o número de consumidores domésticos ultrapassando 300 milhões.
De 2023 a 2024, as exportações de grãos de café do Brasil para a China saltaram 186,1% em relação ao período de 2022 a 2023, segundo um relatório do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). "O potencial de consumo do país asiático é gigantesco, levando em conta o tamanho da população chinesa e o aumento da classe média", observou Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
Em 2024, o Brasil foi a maior fonte das importações chinesas de café e produtos relacionados, com valor total de US$ 307 milhões, registrando um salto anual de 36,62%, segundo dados da Administração Geral das Alfândegas da China.
"O mercado de café em expansão da China reflete a força do consumo e oferece novas oportunidades para fornecedores globais de café. O Brasil, como maior produtor e exportador mundial de café, está bem-posicionado para atender a essa demanda crescente", disse Jorge Viana, presidente da ApexBrasil.
É previsto que a exportação de café brasileira registrará um aumento significativo em 2025, com a assinatura no ano passado de dois acordos estratégicos entre a Luckin Coffee, maior rede de cafeterias chinesa, e a ApexBrasil. Segundo estes acordos, a rede de cafeterias chinesa prevê a compra de 240 mil toneladas do grão entre 2025 e 2029.
"Com o consumo de café ainda em uma fase de adoção acelerada, o mercado de café da China permanecerá em um período estratégico de rápido desenvolvimento", diz Guo Jinyi, CEO da Luckin Coffee, em uma entrevista à Xinhua.
O presidente da ApexBrasil destacou que a parceria com a Luckin Coffee pode inspirar outros setores do Brasil, como açaí e sucos naturais, frutas tropicais, bebidas funcionais e produtos diferenciados com certificações de qualidade.
Em maio deste ano, a maior rede de bebidas e sorvetes da China, Mixue, fechou um contrato de compras com o Brasil, pretendendo ampliar a importação de insumos agrícolas. A empresa anunciou que comprará grãos de café, frutas processadas, além de outros produtos nos quais o Brasil possui vantagem competitiva, no valor de pelo menos 4 bilhões de yuans nos próximos 3 a 5 anos. A Mixue também planeja abrir unidades da marca e estabelecer uma fábrica de cadeia de suprimentos no país sul-americano, o que pode gerar cerca de 25 mil empregos locais.
Atualmente, cada vez mais empresas brasileiras estão participando ativamente nas exposições internacionais da China, como a Exposição Internacional de Importação da China (CIIE) e Exposição Internacional de Alimentos SIAL, visando trazer ao mercado chinês a rica variedade de produtos que destacaram a diversidade da gastronomia brasileira.
Na SIAL 2025 (Shanghai), uma das maiores feiras de alimentos e bebidas do mundo, com participação de 25 empresas brasileiras, produtos agrícolas do Brasil como carne, suco, vinho, própolis, café e especialidades como açaí e chá-mate, tornaram-se conhecidos e apreciados pelos consumidores chineses.
"O Brasil tem uma grande oportunidade para fortalecer sua presença na China, que conta com uma população cada vez mais disposta a experimentar novos sabores e uma demanda crescente por produtos premium e sustentáveis", destacou Viana.