Pessoas passam por prédio desabado em Adiyaman, Turquia, no dia 18 de fevereiro de 2023. (Foto por Mustafa Kaya/Xinhua)

Oferecer apoio psicológico aos atingidos por desastres envolve um longo processo, dizem os profissionais de saúde turcos, pois superar os estágios do trauma demora.

Por Burak Akinci

Ancara, 25 fev (Xinhua) -- Como os sobreviventes dos terremotos na Turquia estão enfrentando perdas e traumas devastadores, o apoio psicológico é essencial para a cura depois de um desastre tão grande que afetou milhões, disseram especialistas.

Dezenas de milhares de pessoas morreram nos grandes terremotos que atingiram a Turquia e a Síria em 6 de fevereiro. A Confederação Empresarial e de Negócios da Turquia calculou o custo do desastre no país em 84,1 bilhões de dólares americanos, mas as consequências para a saúde mental são incalculáveis.

"Os grupos mais vulneráveis são mulheres, crianças, pessoas que já tinham transtornos mentais e pessoas com deficiências", disse a psiquiatra Hande Karakilic Ucer, de Ancara.

Sem mencionar as crianças que perderam os pais no desastre e foram separadas de suas famílias, disse ela à Xinhua.

Menino chora em abrigo na cidade atingida pelo terremoto, Kahramanmaras, Turquia, no dia 19 de fevereiro de 2023. (Foto por Mustafa Kaya/Xinhua)

Uma pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde da Turquia após o terremoto de 1999 mostrou que crianças e adolescentes são mais propensos a desenvolver problemas psicológicos do que adultos depois de passar por desastres naturais traumáticos.

Pessoas perto de crianças não devem agir como se nada tivesse acontecido, observou Ucer, referindo-se ao perigo de as vítimas se fecharem por conta do trauma.

"Precisamos ser claros com as crianças e explicar esse desastre de uma forma que elas entendam", disse ela, acrescentando que a "ludoterapia" e o estabelecimento de uma rotina diária são essenciais para que elas passem pelo período de luto.

Na Turquia, os terremotos de magnitude 7,7 e 7,6 mataram 44.218 pessoas, de acordo com as estatísticas mais recentes no sábado. Psicólogos e psiquiatras especialistas foram enviados para as regiões atingidas pelo terremoto para ajudar os moradores a lidar com tamanho impacto.

Foto tirada no dia 19 de fevereiro de 2023 mostra itens pessoais nos escombros de prédio danificado na cidade de Kahramanmaras, Turquia, atingida pelo terremoto. (Foto por Mustafa Kaya/Xinhua)

Os especialistas também recomendam que os sobreviventes não acessem tanto as más notícias e postagens perturbadoras nas redes sociais sobre a catástrofe.

"A exposição à mídia pode influenciar nosso comportamento após um desastre natural e desencadear transtornos mentais", disse Ucer.

Seda Ozcan é uma sobrevivente do terremoto de 27 anos de Antakya, cidade perto da fronteira com a Síria devastada pelos terremotos.

Desde o desastre, ela tem ataques de ansiedade que a impedem de fazer tarefas diárias comuns.

"Não são os terremotos em si, é toda a situação que estamos enfrentando, falta de moradia, preocupações com o futuro, é difícil", disse ela à Xinhua em Ancara, para onde sua família foi evacuada.

Oferecer apoio psicológico aos afetados por desastres envolve um longo processo, dizem os profissionais de saúde, pois superar os estágios do trauma demora.

A vastidão da zona atingida pelo terremoto, abrangendo mais de 10 províncias turcas, com 13,5 milhões de pessoas, aumenta o desafio.

"Em seis meses, os sobreviventes entrarão na fase de decepção e, depois, vão encarar a dura realidade, seguida pela fase de cura", disse Ucer.

Mulher chora enquanto participa de atividade memorial em frente ao Portão de Brandemburgo para lamentar as vítimas dos terremotos na Turquia e na Síria, em Berlim, Alemanha, no dia 11 de fevereiro de 2023. (Foto por Stefan Zeitz/Xinhua)