Homem tira fotos no centro de mídia da 15ª edição da Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, no dia 21 de agosto de 2023. (Xinhua/Li Yahui)
Por Adnan Bourji
A estrutura de poder entre estados e nações é o critério mais importante para avaliar a sua força e potencial para crescer ou não. Os indicadores de poder podem ser quantitativos, como o PIB, o tamanho da população e o efetivo militar, e qualitativos, como o posicionamento geográfico, a disponibilidade de recursos naturais e a composição demográfica da população.
Se a população for jovem, as oportunidades de progresso e desenvolvimento aumentam. Se a população for idosa, predomina a confiança em legados e outros fatores, como as capacidades pessoais dos líderes. Líderes excepcionais sempre tiveram papéis significativos a nível global. Em contraste, outros na mesma posição pouco fizeram.
O mundo atual está dividido em dois grupos: um formado pelos Estados Unidos, pelos países da OTAN e pelos países industrializados do G7. É um grupo que alguns acreditam que continuará controlando a liderança mundial no século 21, especialmente depois do colapso da União Soviética no começo da década de 1990.
Mas, na nossa opinião, e com base nas avaliações de estrategistas, economistas e observadores políticos, o grupo está definhando, e recuando sem coragem de admitir isso.
A China, o bloco euroasiático, os países do BRICS e a Organização para Cooperação de Shanghai, entre outros, formam o segundo grupo. O BRICS, que realiza este mês a 15ª edição da sua cúpula na capital da África do Sul, foi lançado no final da primeira década deste século.
De acordo com as nossas avaliações, este grupo está em ascensão e começamos a notar uma mudança nas alianças globais e um rápido aumento no número de países que querem aderir ao BRICS e à Organização para Cooperação de Shanghai.
Vamos além da análise teórica e examinemos os componentes da estrutura de poder dos dois grupos. Ao discutir os países do BRICS, devemos evitar confiar em uma definição imprecisa de poder. Esta definição precisa de provas científicas e tem como foco apenas a capacidade produtiva de um país, ignorando outros fatores importantes.
Como mencionado acima, também há fatores como o posicionamento geográfico, a disponibilidade de recursos naturais e a composição demográfica da população, especialmente na China e na Índia. A área geográfica deste grupo inclui a maior parte do continente asiático, o continente africano e a América Latina Central e do Sul. É habitada por 90% da população mundial e a maioria dos seus habitantes tem menos de 35 anos. Este grupo demográfico jovem possui um elevado potencial de avanço tecnológico.
Além disso, muitos dos países deste grupo possuem petróleo, gás e recursos minerais raros que são vitais para as tecnologias de IA. No final de 2022, os países da OPEP detinham 80,4% das reservas globais de petróleo. Entretanto, a Rússia, o Irã, o Catar, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Turcomenistão possuem aproximadamente 62% das reservas globais de gás, segundo o Worldometer.
Quando se trata de minerais, Ziad Hafez, ex-secretário-geral da Conferência Nacional Árabe e ex-professor da Universidade Americana de Beirute, divulgou uma lista dos 10 principais países que possuem as reservas minerais mais significativas. A maioria deles está nos países do bloco euroasiático e da América Latina. Sobre agricultura e alimentação, a China ocupa o primeiro lugar, seguida pelos Estados Unidos, Brasil, Índia e Rússia.
Não vamos nos aprofundar em números e estatísticas específicos aqui, eles estão disponíveis para pesquisadores dedicados. Contudo, é importante destacar alguns fatores que contribuem para a diminuição do poder dentro do grupo formado pelos Estados Unidos.
Este grupo apresenta uma vulnerabilidade notável em termos geográficos e populacionais. Estes países dependem de políticas de imigração para resolver os déficits populacionais, que deverão aumentar. Apesar das suas amplas extensões geográficas, a população dos Estados Unidos e do Canadá representa um máximo de 4,6% da população global.
Esses países precisam de recursos energéticos e de matérias-primas, que usaram para controlar outros países à força. No entanto, a mudança na estrutura de poder global irá acelerar o desligamento dos países ricos em energia da obediência aos Estados Unidos e aos seus aliados. Esta tendência está ficando cada vez mais evidente.
Espera-se que o uso agressivo e excessivo de sanções financeiras pelos Estados Unidos contra estados e nações acelere a criação de um sistema bancário global alternativo, levando a um enfraquecimento sem precedentes do dólar. Acredito que esta cúpula do BRICS dará passos mais significativos sobre o assunto.
Com base na análise acima, a atual cúpula do BRICS, na qual mais de 20 países se candidataram à adesão, será uma nova oportunidade para o desenvolvimento deste grupo. Chegou a hora de o mundo se livrar do colonialismo e do imperialismo de uma vez por todas.
Nota da edição: Adnan Bourji é diretor do Centro Nacional Libanês de Estudos.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.