Homem tira fotos no centro de mídia da 15ª edição da Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, no dia 21 de agosto de 2023. (Xinhua/Li Yahui)
Este coro nos dá esperança de que o mundo consiga superar os problemas estruturais que enfrenta há muito tempo, além de abraçar um futuro mais igualitário.
Por Yi Fan
A cúpula do BRICS de 2023, realizada na África do Sul na semana passada, é pioneira e edificante para o Sul Global.
Falando em números – uma quantidade histórica de seis países admitidos como membros plenos do BRICS; líderes de mais de 60 nações participaram do Diálogo BRICS-África e do Diálogo BRICS Plus, e uma dúzia de líderes das sub-regiões da África discursaram no Diálogo de Líderes China-África.
Esta é a grande reunião de mercados emergentes e países em desenvolvimento (MEPD) que buscam um mundo mais justo e igualitário.
RECOMEÇO
Abraçando os novos membros – Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos – o BRICS representará cerca de um terço do PIB global e metade da população mundial e das reservas de petróleo. Entre os países do Grupo dos 20, sete serão membros do BRICS, em igualdade com o Grupo dos Sete.
Um consenso global se forma: algumas nações ricas dominam os assuntos mundiais há muito tempo. Recentemente, todo o Sul Global aprendeu uma lição quando a Rússia viu suas reservas estrangeiras congeladas e foi expulsa da Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (SWIFT, na sigla em inglês), e o Afeganistão viu milhões de dólares bloqueados enquanto os afegãos lutavam para se alimentar.
Um tema recorrente nas salas de conferências de Joanesburgo é o aumento do uso de moedas locais no comércio internacional e nas transações financeiras entre os países do BRICS e dos seus parceiros comerciais. Agora, com seis dos 10 principais exportadores de petróleo do mundo no BRICS, o controle do petrodólar sobre o sistema financeiro global parece precário. Outra mensagem transmitida por quase todos os líderes dos MEPDs é a reforma dos sistemas de governança global, em que o Sul Global não está devidamente representado.
Foto tirada no dia 21 de agosto de 2023 mostra local próximo à 15ª edição da Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul. (Xinhua/Zhang Yudong)
AÇÕES INSPIRADORAS
Assim como acontece com outros fóruns de desenvolvimento, a China apresentou um pacote de políticas concreto e personalizado. Desta vez, planeja apoiar a industrialização, a modernização agrícola e o desenvolvimento de talentos da África. A China, como maior país em desenvolvimento, entende os obstáculos que impedem o desenvolvimento. Por isso, suas propostas são bem informadas e adequadas às necessidades de modernização da África. A aprovação e o entusiasmo da África são evidentes, como pode ser visto na multidão compacta de líderes em volta do presidente chinês, Xi Jinping, para o cumprimentar e agradecer após a reunião.
Na cúpula do BRICS, o presidente Xi revelou um fundo especial de 10 milhões de dólares americanos destinado a instituições financeiras chinesas dedicado à implementação da Iniciativa de Desenvolvimento Global (IDG). A IDG tem o claro objetivo de impulsionar a Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030 da ONU. Embora muitos lamentem a perda de dinamismo na concretização destes objetivos críticos de desenvolvimento, poucos, com exceção da China, disseram explicitamente o que fariam em relação a isso.
O Sul Global conhece bem as falsas promessas de ajuda. "Uma pessoa de um país em desenvolvimento disse: 'Ganhamos um aeroporto da China, já dos Estados Unidos, só uma palestra'", falou em entrevista o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Larry Summers.
REFORÇO DA FÉ
Pode ser desanimador viver em um mundo turbulento, cheio de concorrência, conflitos e crises. Um único conflito está consumindo muita atenção e recursos globais. A situação de milhões de pessoas é ignorada. A cúpula de Joanesburgo se concentrou no que realmente importa: paz, cooperação e desenvolvimento.
Os líderes participantes afirmaram apoio às propostas da China e da África para uma resolução pacífica da crise na Ucrânia e alertaram contra ações inflamatórias.
A mídia ocidental está certa ao mencionar que os novos e os aspirantes a membros do BRICS são muito diferentes. Alguns até têm uma história difícil entre si, como é o caso da Arábia Saudita e do Irã. Mas suas conclusões estão erradas. A diversidade destes países não é uma indicação de falta de união, mas sim uma prova de um forte compromisso com a reconciliação e a cooperação. Isto já é visto no Médio Oriente, onde o acordo entre a Arábia Saudita e o Irã, mediado pela China, desencadeou uma onda de reaproximação.
Da capacidade industrial, infraestruturas e comércio ao capital humano, à economia digital e à prevenção de pandemias, os debates em Joanesburgo abrangeram muitas áreas críticas para os MEPDs e conduziram a boas ideias e apelos legítimos. Eles convergem em um objetivo comum: desenvolvimento. Uma forte força motriz por trás da agenda de desenvolvimento é a China, que deverá destacar novamente o tema no próximo fórum global sobre a Iniciativa do Cinturão e Rota.
Foto tirada no dia 23 de maio de 2023 mostra plataforma da Ferrovia Mombasa-Nairóbi em Nairóbi, Quênia. A ferrovia é um projeto simbólico da cooperação entre a China e a África. (Xinhua/Wang Guansen)
Este coro nos dá esperança de que o mundo consiga superar os problemas estruturais que enfrenta há muito tempo, além de abraçar um futuro mais igualitário.
Resumindo, a cúpula de Joanesburgo é uma vitória histórica para o Sul Global. Como disse acertadamente o presidente Xi, este é "um novo ponto de partida para a cooperação do BRICS que aumentará ainda mais as forças para a paz e o desenvolvimento mundiais".
Nota da edição: Yi Fan é comentarista de assuntos internacionais baseado em Beijing.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.