Manifestantes em apoio à Palestina durante caminhada até a Casa Branca, organizada por judeus americanos em apoio ao cessar-fogo e à libertação palestina, em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 16 de outubro de 2023. (Foto por Aaron Schwartz/Xinhua)
A política externa de Washington sobre a questão palestina impediu a rápida solução do conflito, segundo observadores políticos do Médio Oriente, que alertaram que permitir a persistência dessas hostilidades em Gaza só intensificará o ciclo vicioso de ódio e confronto entre Israel e a Palestina, dificultando ainda mais a coexistência pacífica a longo prazo.
Cairo, 22 out (Xinhua) -- Em meio à escalada do conflito Israel-Hamas e aos crescentes pedidos globais por desescalada e aumento da ajuda humanitária para Gaza, o pedido de 14,3 bilhões de dólares do presidente dos EUA, Biden, ao Congressos para assistência militar a Israel aumentou preocupações.
Biden argumentou na sexta-feira que essa medida aumentará a segurança de Israel. No entanto, analistas e críticos temem que isso aumente a incerteza no Médio Oriente, prejudicando potencialmente a segurança israelita que Biden afirmava proteger.
A política externa de Washington sobre a questão palestina impediu a rápida solução do conflito, segundo observadores políticos do Médio Oriente, que alertaram que permitir a persistência dessas hostilidades em Gaza só intensificará o ciclo vicioso de ódio e confronto entre Israel e a Palestina, dificultando ainda mais a coexistência pacífica a longo prazo.
RETROCESSO LOCAL E INTERNACIONAL
Mais de duas semanas após o início do conflito fatal, os Estados Unidos não só reforçaram sua presença militar no Médio Oriente, como forneceram extensa ajuda militar a Israel. Além disso, usou duas vezes o poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas para bloquear resoluções relativas à situação na Palestina.
Essas ações levantaram críticas e protestos, tanto localmente quanto nos outros países, incluindo a renúncia de Josh Paul, alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA, que considerou as ações do governo dos EUA “impulsivas” e baseadas na “falência intelectual”.
Manifestantes em apoio à Palestina durante caminhada até a Casa Branca, organizada por judeus americanos em apoio ao cessar-fogo e à libertação palestina, em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 16 de outubro de 2023. (Foto por Aaron Schwartz/Xinhua)
O funcionário demitido disse à mídia dos EUA que muitos de seus colegas no governo federal e no Congresso pensam o mesmo e entendem perfeitamente sua decisão de renunciar.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, também reconheceu em mensagem na semana passada a todos os funcionários do Departamento de Estado que o conflito Israel-Hamas resultou em desentendimentos entre diplomatas dos EUA, gerando desafios profissionais e pessoais.
Internacionalmente, o representante-permanente da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, acusou os Estados Unidos de “hipocrisia” e “dois pesos e duas medidas” depois que Washington vetou o projeto da Rússia que pedia um cessar-fogo imediato e o projeto do Brasil que pedia pausas humanitárias para permitir acesso total, seguro e desimpedido para Agências das Nações Unidas e seus parceiros.
O representante-permanente do Brasil nas Nações Unidas, Sérgio Danese, mostrou descontentamento com o fracasso na aprovação do projeto brasileiro, e o representante-permanente da França, Nicolas de Riviere, também lamentou.
As ações dos EUA desde o início do conflito também resultaram em protestos a nível mundial, com cidadãos de vários países mostrando descontentamento. Manifestações em frente às embaixadas dos EUA na Jordânia e no Líbano receberam manifestações com slogans contra os EUA, enquanto manifestantes dos protestos em Teerã queimaram bandeiras de Israel e dos EUA.
Nos Estados Unidos, centenas de manifestantes lotaram o edifício de escritórios da Câmara dos Representantes dos EUA apelando por cessar-fogo entre Israel e Palestina, o que levou a prisões pela polícia.
MAIS LENHA NA FOGUEIRA
Na quarta-feira, Biden chegou a Israel para mostrar seu apoio ao país, poucas horas depois de uma explosão em um hospital em Gaza matar centenas de pessoas, aumentando ainda mais as tensões e resultando no cancelamento de uma cúpula com líderes árabes.
O cancelamento da cúpula, que reduziu a viagem de Biden ao Médio Oriente a um “bate e volta” de menos de oito horas, é visto como “uma mensagem óbvia de que os países árabes não querem a presença do presidente dos EUA”, disse Mokhtar Gobashy, vice-presidente do Centro Árabe de Estudos Políticos e Estratégicos, com sede no Cairo.
Gobashy afirmou que o mundo árabe não está satisfeito com a política externa “injusta” da Casa Branca em relação a Israel e à Palestina, acrescentando que tem um histórico de adoção de políticas externas “injustas” para atender a seus próprios interesses.
“Qualquer um que veja um lado como inocente e o outro como o único culpado perdeu a credibilidade por agir como árbitro imparcial”, mencionou o estudioso egípcio.
Manifestantes em apoio à Palestina durante caminhada até a Casa Branca, organizada por judeus americanos em apoio ao cessar-fogo e à libertação palestina, em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 16 de outubro de 2023. (Foto por Aaron Schwartz/Xinhua)
Embora os Estados Unidos se apresentassem como o principal patrocinador das negociações israelo-palestinas, na verdade, ao longo dos anos, falharam sistematicamente no cumprimento dos seus compromissos.
As promessas feitas pela administração Biden, como a defesa da paz israelo-palestina, a reabertura do consulado-geral responsável pelos assuntos palestinos em Jerusalém e a suspensão da expansão dos colonatos israelitas, continuam pendentes. Apesar de apoiar uma “solução de dois Estados”, a administração tomou poucas medidas para atingir esse objetivo.
“Washington não se importa com a vontade dos árabes” e apenas age para servir seus próprios interesses, disse Markram Rabah, um acadêmico da Universidade Americana de Beirute, no Líbano.
“O que os Estados Unidos fizeram agora foi apelar à guerra”, disse ele, observando que, com dois porta-aviões americanos patrulhando o Mar Mediterrâneo, a região corre mais risco de um conflito maior do que nunca.
Eyal Pinko, analista político do Centro de Estudos Estratégicos Begin-Sadat, da Universidade Bar Ilan, em Israel, também alertou contra uma possível repercussão do conflito Israel-Hamas.
Ele ressaltou que se uma ofensiva terrestre em Gaza começar, um cenário que muitos antecipam nos próximos dias, os palestinos na Cisjordânia, o Hezbollah do Líbano e até mesmo os Houthis no Iêmen provavelmente se envolverão no conflito.