Por Zhu Yilin, Wu Hao e Wang Hui, correspondentes da Xinhua
Beijing, 20 ago (Xinhua) -- Quando fala sobre os clássicos da cultura chinesa antiga, o sinólogo brasileiro Giorgio Sinedino refere-se aos clássicos da China antiga como se fossem velhos amigos.
"Espero ser o 'barqueiro' da cultura chinesa, para que esta navegue para o Brasil, para o mundo", disse ele, mostrando aos repórteres suas traduções já publicadas da literatura chinesa.
Desde 2005, Sinedino mora na China, e obteve um mestrado em filosofia chinesa pela Universidade de Beijing e um doutorado em filosofia pela Universidade Renmin da China. Com o aprofundamento de seus estudos, seu amor pela literatura tradicional chinesa tornou-se cada vez mais forte e, aos poucos, ele se tornou um pesquisador em Sinologia, aprendendo o idioma chinês e começando a traduzir clássicos chineses.
Relembrando seus quase 20 anos de pesquisa, ele disse que entender as conotações ideológicas dos clássicos culturais chineses não é uma tarefa fácil. Ele precisa contar o significado literal, e a sociedade chinesa retratada nas obras são essenciais, com expressão em português.
Durante muito tempo, a maior parte da literatura chinesa foi traduzida do inglês, francês e outros idiomas para o português. Devido à falta de compreensão exata do idioma chinês original pelos tradutores, é difícil expressar verdadeiramente o significado das palavras chinesas, o que torna a literatura chinesa no Brasil difícil de publicar.
Em 2012, Sinedino publicou sua primeira tradução da literatura chinesa antiga, "Os Analectos de Confúcio", em português. Para permitir que os leitores brasileiros entendessem a essência cultural dos Analectos, ele consultou os comentários sobre estes textos feitos por estudiosos confucionistas de diversos períodos, como Zhu Xi, filósofo da dinastia Song do Sul, em um esforço para permitir que os leitores brasileiros compreendessem em sua língua materna os Analectos, em diferentes épocas.
"Os Analectos de Confúcio" não é apenas a primeira tradução para o português diretamente do chinês antigo, é também a única tradução do livro com comentários na íntegra em uma língua ocidental. Hoje, o livro já vendeu mais de 200.000 exemplares em todo o mundo.
Desde então, ele também publicou traduções como "Daodejing", "O Imortal do Sul da China: uma leitura cultural do Zhuangzi", para permitir que mais leitores brasileiros conheçam o profundo patrimônio da cultura chinesa.
No final deste ano, será publicada no Brasil a mais recente tradução de uma obra da literatura chinesa moderna, do autor Lu Xun. Com esse título, Sinedino espera apresentar a literatura chinesa moderna aos leitores brasileiros.
"O sentimento mais profundo que a China me proporciona é o de 'inovação', assim como o espírito transmitido nas obras de Lu Xun." Sinedino disse: "O desenvolvimento da literatura chinesa mapeia o desenvolvimento da sociedade chinesa. No processo de tradução, preciso me concentrar em interpretar o contexto social chinês para os leitores brasileiros, o que também é uma maneira importante de os leitores brasileiros entenderem a China."
Este ano marca o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e o Brasil. Sinedino disse que nos últimos 50 anos, os intercâmbios culturais entre os dois países trouxeram resultados frutíferos nos campos acadêmico, artístico e educacional, e a amizade entre os dois povos foi fortalecida no processo.
"A China e o Brasil precisam entender melhor as diferenças culturais um do outro, estabelecer uma estrutura comum para intercâmbios culturais e alcançar a verdadeira confiança mútua entre as civilizações. Acredito que as culturas brasileira e chinesa podem atravessar montanhas e oceanos e alcançar ressonância cultural", disse ele.