Participantes em comício realizado em frente à prefeitura no centro de São Francisco, Estados Unidos, no dia 17 de agosto de 2019. (Foto por Li Jianguo/Xinhua)
Atualmente, civis americanos possuem mais de 400 milhões de armas, número que ultrapassa a população do país.
Nova York, 1 nov (Xinhua) -- Jaden Thakur nunca esquecerá o dia em que seu tio quase virou outra vítima na crise de violência armada nos Estados Unidos.
O estudante universitário, que cresceu em Nova Jersey, relatou a cena de pesadelo: Um dia, enquanto caminhava pela rua, o tio de Thakur acidentalmente esbarrou em alguém, isso iniciou uma discussão acalorada entre os dois.
“No começo, foi verbal, mas o homem mostrou uma arma e fez meu tio recuar”, disse ele. Naquele momento crítico, um pedestre interveio, sacando sua própria arma para defender o tio de Thakur, evitando que a situação saísse do controle.
“Foi uma loucura”, disse Thakur, com a voz ainda incrédula. “É muito mais fácil adquirir armas nos Estados Unidos do que em outros lugares”.
Na opinião de Thakur, a violência armada é “provavelmente o maior problema de segurança” enfrentado pelos Estados Unidos. Estatísticas oficiais ressaltam essa realidade sombria: somente em 2023, o Arquivo sobre Violência Armada registrou 18.854 mortes por violência armada, excluindo suicídios. Tiroteios em massa, definidos como incidentes com quatro ou mais vítimas, dobraram na última década, atingindo o pico em 2021 com 689.
As escolas estão se tornando cada vez mais inseguras devido à prevalência de armas. De acordo com uma reportagem da CNN, até 15 de outubro deste ano, pelo menos 58 tiroteios em escolas deixaram 28 mortos e 72 feridos em escolas americanas, de jardins de infância a faculdades. Nos últimos anos, os tiroteios em escolas aumentaram drasticamente, com 2021, 2022 e 2023 marcando recordes não vistos desde pelo menos 2008.
Pessoas participam de vigília à luz de velas em respeito a vítimas de tiroteio em massa em uma escola em Uvalde, Texas, Estados Unidos, no dia 24 de maio de 2023. (Xinhua/Wu Xiaoling)
Atualmente, civis americanos possuem mais de 400 milhões de armas, número que ultrapassa a população do país. Divisões partidárias profundas e grupos de lobby influentes, como a Associação National de Rifles, têm rotineiramente paralisado leis de controle de armas no Congresso.
No entanto, a violência armada reflete apenas um aspecto das crescentes taxas de criminalidade nos Estados Unidos nos últimos anos. Em 2020, os Estados Unidos viram um aumento de quase 30% nos homicídios, marcando o maior aumento anual já registrado, de acordo com dados divulgados pelo Departamento Federal de Investigação (FBI, na sigla em inglês).
Em 2022, as taxas de homicídio continuaram muito acima dos níveis antes da pandemia, e crimes contra propriedades, como roubos, aumentaram para impressionantes 1.954,4 incidentes por 100.000 pessoas.
Uma crescente sensação de insegurança pública fez do crime violento uma das principais preocupações políticas dos americanos neste ano eleitoral. Um relatório do Pew Research Center em fevereiro revelou que 68% dos republicanos e quase metade dos democratas consideraram a redução do crime uma prioridade política.
Até mesmo a violência política está aumentando, com candidatos presidenciais virando alvos. Desde julho, o candidato republicano Donald Trump escapou de três tentativas de assassinato, enquanto o suspeito acusado de atirar no escritório de campanha da vice-presidente, Kamala Harris, no Arizona foi encontrado portando mais de 120 armas e mais de 250.000 cartuchos de munição em sua casa, se preparando para um ato de “vítimas em massa”, de acordo com relatos da mídia dos EUA.
Ambos os candidatos têm enquadrado as questões criminais a seu favor antes da eleição. Harris disse em setembro que os crimes violentos caíram para uma “baixa de quase 50 anos”, citando dados do FBI sobre crimes relatados por departamentos de polícia, enquanto Trump afirmou que os crimes violentos “dispararam’ durante a administração Biden-Harris, citando uma pesquisa do Departamento de Justiça.
Esse cenário de crimes destaca problemas mais profundos da sociedade dos EUA, como racismo sistêmico, desigualdade econômica e marginalização política, os quais são frequentemente prolongados e ignorados pelos políticos.
Manifestantes em protesto antirracismo fora da Embaixada dos EUA em Londres, Reino Unido, no dia 7 de junho de 2020. (Xinhua/Han Yan)
De acordo com uma análise do Centro Brennan para a Justiça, o número de tiroteios dobrou no bairro de East New York e quase triplicou em Brownsville em 2020, ambos pontos críticos de violência por mais de um quarto de século.
O centro observou que esses aumentos revelam um padrão mais preocupante, que o sociólogo Patrick Sharkey descreveu como a “geografia rígida da violência”. Nesse padrão, o crime permanece relativamente concentrado em áreas específicas, mesmo com o declínio dos níveis gerais.
Um estudo da Brookings Institution vincula altas taxas de crimes violentos e tiroteios policiais a desigualdades socioeconômicas, principalmente em comunidades marginalizadas. O racismo estrutural promoveu condições em que as populações negras residem desproporcionalmente em áreas com poucos recursos, com acesso limitado a qual educação, assistência médica e oportunidades econômicas. Essa concentração de desvantagens alimenta ciclos de violência.
Com o dia da eleição se aproximando, Thakur disse que continua indeciso sobre qual candidato pode tornar a América segura, pois nenhum deles parece capaz de resolver problemas relacionados a armas. “No geral, acho que ninguém vai mudar alguma coisa".