Homem passa por um logotipo do G20 durante a Reunião de Ministros das Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro, Brasil, em 21 de fevereiro de 2024. (Xinhua/Wang Tiancong)
A adesão da UA ao G20 não apenas destaca a importância da África nos assuntos globais, mas também oferece uma oportunidade de abordar suas questões prementes, como a pobreza e o desenvolvimento.
Por Balew Demissie
O G20, que evoluiu de uma reunião de ministros das Finanças em 1999 para uma cúpula de chefes de Estado e de governo em 2008, em resposta à crise financeira internacional, se tornou um fórum importante para a cooperação econômica internacional.
Originalmente, o G20 se concentrava na política macroeconômica para evitar uma depressão global. Desde então, a agenda do G20 se expandiu para abranger um espectro mais amplo de desafios globais, como desenvolvimento, mudança climática e saúde global.
O lema da cúpula de 2024 é "Construindo um mundo justo e um planeta sustentável". Três prioridades principais também foram definidas para a agenda: promover a inclusão social e combater a fome para atender às necessidades humanitárias urgentes, promover a transição energética e o desenvolvimento sustentável e reformar as instituições de governança global para melhorar sua eficácia e inclusão.
Essas prioridades demonstram o compromisso do G20 com a promoção do crescimento equitativo e com a abordagem dos desafios enfrentados pela comunidade global.
Em setembro de 2023, a União Africana (UA) se tornou membro pleno do G20, representando cerca de 1,5 bilhão de africanos e marcando um reconhecimento significativo do potencial da África como uma força econômica e política unificada.
Há muito tempo, os líderes africanos pressionam para que a África seja membro pleno do G20, enfatizando a importância econômica e demográfica do continente, o que é essencial para promover um sistema financeiro global mais equitativo e enfrentar desafios críticos, como pobreza, instabilidade política e conflitos, desemprego entre os jovens, déficits de infraestrutura, crise educacional, além de problemas de corrupção e governança.
A adesão da UA ao G20 não apenas destaca a importância da África nos assuntos globais, mas também oferece uma oportunidade de abordar suas questões urgentes, como a pobreza e o desenvolvimento.
A China foi o primeiro país a expressar explicitamente seu apoio à participação da UA no G20. Esse é um avanço significativo na governança global que ressalta o compromisso da China em ampliar as vozes africanas em nível internacional.
O apoio reflete o papel da China como defensora do Sul Global e reconhece a crescente importância da África nos assuntos globais. Ao defender a inclusão da UA, a China está estabelecendo um precedente a ser seguido por outros países importantes, fortalecendo a posição da UA no G20.
O presidente chinês Xi Jinping se reúne com o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, no Grande Salão do Povo em Beijing, capital da China, em 3 de setembro de 2024. (Xinhua/Zhai Jianlan)
A China defende consistentemente a África nas Nações Unidas e em outras plataformas internacionais, visa promover um sistema de governança global mais equitativo e apoia a crescente proeminência da África no cenário mundial.
Ao alavancar suas parcerias diplomáticas e econômicas, a China está promovendo a inclusão de nações africanas em discussões sobre industrialização e desenvolvimento de infraestrutura.
A Iniciativa Cinturão e Rota, por exemplo, demonstra o compromisso da China em investir na infraestrutura africana para o crescimento compartilhado. Como defensora do multilateralismo, a China defende os interesses dos países em desenvolvimento e garante que as perspectivas africanas moldem a política econômica global.
A entrada da UA no G20 representa uma conquista significativa para o multilateralismo e garante que a voz do continente seja ouvida. A participação oferece uma plataforma para que as nações africanas abordem questões globais críticas, corrijam a marginalização histórica nos diálogos internacionais e preencham a lacuna entre a política global e as realidades locais.
Na próxima cúpula do G20, a UA desempenhará um papel fundamental para atender às necessidades do continente. A UA priorizará uma participação consistente, unificará as posições econômicas dos formuladores de políticas africanos para formar uma voz unificada e desenvolverá uma agenda clara para reformar a arquitetura financeira global a fim de atender às necessidades de financiamento anual da África, estimadas em US$ 1,3 trilhão até 2030.
As prioridades incluem a defesa da inclusão financeira africana, o fomento de parcerias, a ênfase em questões de juventude e gênero, a promoção da paz e da segurança, bem como o alívio da dívida por meio da estrutura comum do G20, a superação de desafios burocráticos e o envolvimento de credores privados.
Também deve priorizar a resolução de conflitos, o fortalecimento da democracia, a promoção da industrialização e o aumento do crescimento econômico por meio de iniciativas como a Área de Livre Comércio Continental Africana.
Visitante conversa com expositores no Pavilhão da África do Sul durante a 7ª Exposição Internacional de Importação da China (CIIE, na sigla em inglês) em Shanghai, no leste da China, em 7 de novembro de 2024. (Xinhua/Zhang Cheng)
Também é importante enfatizar a mitigação das mudanças climáticas, redirecionando os investimentos para projetos ecológicos em conformidade com o Acordo de Paris e defendendo a prosperidade inclusiva por meio da transformação digital. Por fim, a UA precisa lidar com as tensões geopolíticas nos países africanos para promover a cooperação e o multilateralismo.
A UA deve participar ativamente da tomada de decisões do G20 para representar efetivamente os interesses africanos. Também deve discutir as causas dos conflitos e golpes militares na África, bem como a insegurança alimentar exacerbada pelas mudanças climáticas.
A liderança da UA também deve defender a implementação dos acordos existentes e a promoção de uma força de trabalho qualificada para promover o desenvolvimento sustentável. Além disso, a UA deve defender que o investimento estrangeiro direto seja priorizado na agenda do G20 e solicitar uma política de investimento internacional coordenada para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030.
Dada a vantagem demográfica da população jovem da África, a UA também procura se engajar com os países do G20 em políticas macroeconômicas para garantir que as perspectivas africanas sejam incluídas nas discussões sobre os desafios globais e, em última análise, melhorar o papel da África na formação de um futuro global sustentável.
A participação da UA no G20 fortalece significativamente a representação das nações africanas na governança global. Essa inclusão dá mais peso às suas vozes nas discussões internacionais.
Além disso, a inclusão promove uma cooperação multilateral mais forte entre o Sul Global, permite a defesa coletiva de interesses compartilhados e promove reformas inclusivas em instituições internacionais.
A UA pode enfatizar questões críticas de desenvolvimento, como a redução da pobreza e a segurança alimentar, e alinhar as agendas globais com as prioridades do Sul Global. Além disso, a UA deve defender abordagens colaborativas para enfrentar os desafios globais, como mudanças climáticas, segurança sanitária, segurança alimentar, desigualdade econômica, tensões geopolíticas, migração e deslocamento, ameaças à segurança cibernética, escassez de água, perda de biodiversidade e transição energética.
A entrada da UA no G20 oferece aos africanos oportunidades de capacitação e compartilhamento de conhecimento com as nações industrializadas. Ao influenciar as reformas da governança global e a resolução de conflitos, a participação da UA no G20 promove a paz e a estabilidade globais, que são essenciais para o desenvolvimento sustentável.
De modo geral, a presença da UA fortalece o papel da África nos assuntos globais ao iniciar mudanças de longo alcance que beneficiam o Sul Global e promovem um cenário global mais equitativo e sustentável.
Nota do editor: Balew Demissie é consultor de comunicação e publicação no Policy Studies Institute of Ethiopia.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente as da Agência de Notícias Xinhua.