Foto tirada no dia 22 de maio de 2024 mostra Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos. (Xinhua/Liu Jie)
Impor tarifas à China não criará muitos empregos nos EUA, se é que criará algum, e pode resultar em perdas líquidas de empregos no país por causa da falta de competitividade, disse Sachs. A melhor maneira de ajudar o Centro-Oeste dos EUA, que está ficando para trás, é com políticas de desenvolvimento regional no país e com outros gastos sociais, como requalificação profissional.
Por Yang Shilong
Nova York, 15 dez (Xinhua) -- Em entrevistas com a Xinhua após o presidente chinês Xi Jinping enviar uma carta de felicitações ao jantar de gala de 2024 do Conselho Empresarial EUA-China (USCBC), especialistas disseram que os Estados Unidos e a China devem aproveitar as oportunidades para dialogar e cooperar em meio às tensões em andamento.
Nessa carta, enviada na quarta-feira, Xi disse que a China e os Estados Unidos devem escolher o diálogo em vez do confronto, e a cooperação mútua em vez de jogos de soma zero.
Observando que o relacionamento China-EUA é um dos mais importantes do mundo, Xi disse que ele diz respeito não apenas aos interesses imediatos dos povos chinês e americano, mas também ao futuro e ao destino da humanidade.
O sucesso de um lado deve ser oportunidade em vez de desafio para o outro, e a conquista de um deve ajudar em vez de atrapalhar o desenvolvimento do outro, acrescentou ele.
ARGUMENTOS A FAVOR DO PROTECIONISMO DOS EUA "PROFUNDAMENTE EQUIVOCADOS"
Jeffrey Sachs, renomado economista dos EUA e professor da Universidade de Columbia, descreveu as observações de Xi como "muito sábias" e esperava que Washington as atendesse.
"As palavras do presidente Xi são muito sábias, e espero que não sejam em vão", disse Sachs, criticando os Estados Unidos por adotarem políticas protecionistas.
De acordo com Sachs, os Estados Unidos se tornaram protecionistas por três motivos: primeiro, eles trabalharam politicamente para culpar a China pela perda de empregos na indústria no Centro-Oeste dos EUA. Os estados dessa região têm sido os "estados indecisos" nas eleições presidenciais, então ambos os partidos se tornaram protecionistas.
Segundo, os Estados Unidos pretendem usar o protecionismo como uma política industrial para criar indústrias baseadas nos EUA em tecnologias verdes e digitais que ficam atrás das da China.
Terceiro, os Estados Unidos pretendem usar o protecionismo para impedir a ascensão da China em uma estratégia de soma zero para reforçar a hegemonia dos EUA.
Os três argumentos para o protecionismo dos EUA são "profundamente equivocados", disse Sachs.
"Os Estados Unidos se beneficiaram muito do comércio com a China. Criar um obstáculo tarifário artificial contra o comércio com a China será uma proposta perdedora", disse ele. "A principal fonte de declínio de empregos é a tecnologia, não o comércio".
Colocar tarifas na China não criará muitos empregos nos EUA, se é que criará algum, e pode resultar em perdas líquidas de empregos no país por causa da falta de competitividade, disse Sachs. A melhor maneira de ajudar o atrasado Centro-Oeste dos EUA é com políticas de desenvolvimento regional no país e com outros gastos sociais, como requalificação profissional.
"A política industrial dos EUA para tecnologias verdes e digitais não deve mirar contra a China. As empresas chinesas podem e devem fazer parte de indústrias bem-sucedidas baseadas nos EUA", acrescentou ele.
"A ideia dos EUA de impedir a ascensão econômica da China é muito equivocada e perigosa, introduzindo uma mentalidade equivocada de soma zero em um relacionamento de soma positiva", disse Sachs.
Clientes escolhem produtos em um supermercado em Foster City, Califórnia, Estados Unidos, no dia 15 de maio de 2024. (Foto por Li Jianguo/Xinhua)
BUSCANDO UM CAMINHO A SEGUIR
Apesar dos desafios contínuos, as relações EUA-China continuam sendo o relacionamento bilateral mais importante do mundo, disse Mitchell Presnick, pesquisador visitante do Centro Fairbank de Estudos Chineses da Universidade de Harvard e fundador do Super 8 Hotels - China. Ele enfatizou que ambas as nações reconhecem razões pragmáticas para manter as vias de cooperação abertas.
"Vimos o presidente Xi fazer esforços significativos no ano passado para envolver a comunidade empresarial americana", observou Presnick, citando eventos importantes como a Cúpula da APEC em São Francisco em novembro de 2023 e o Fórum de Desenvolvimento da China em Beijing realizado em março de 2024.
Por baixo da retórica de conflito e competição, "os dois lados buscam um caminho a seguir que atenda melhor aos interesses de ambos", disse Presnick.
"Há muitas maneiras pelas quais os Estados Unidos e a China poderiam, se quisessem, melhorar seu relacionamento comercial e, ao fazer isso, melhorar as relações EUA-China", disse Robert Kapp, ex-presidente do USCBC.
Greg Cusack, ex-legislador estadual de Iowa, concorda com isso, pedindo medidas imediatas para diminuir as tensões.
"Eu gostaria que tentássemos aproveitar essas palavras e buscássemos interpretá-las da forma mais positiva para iniciar esse diálogo, pois sem isso tudo será mais difícil", disse Cusack, referindo-se às mensagens de Xi e do presidente dos EUA, Joe Biden, no evento do USCBC.
"DESASSOCIAÇÃO RADICAL" IRREALISTA E PREJUDICIAL
Michael Swaine, pesquisador sênior do Instituto Quincy para a Governança Responsável, descartou a ideia de "desassociação radical" como irrealista e prejudicial.
"Está claro para a maioria das pessoas que encaram esse problema de forma clara e séria, que não é possível cortar laços economicamente entre os Estados Unidos e a China sem prejudicar ambos os países severamente", disse Swaine.
"Toda essa noção de desassociação radical é uma espécie de blefe, na minha opinião. Não acho provável que isso aconteça. Haverá muita resistência na comunidade empresarial e até mesmo entre alguns políticos".
Swaine pediu por uma comunicação maior para evitar que crises virem conflitos, enfatizando a necessidade de compreensão e confiança mútuas.
"Queremos ter mais comunicação", disse ele.
(Correspondentes da Xinhua que contribuíram para a matéria: Liu Yanan em Nova York, Xiong Maoling e Deng Xianlai em Washington D.C.)