Pedestres em rua em Damasco, Síria, no dia 10 de dezembro de 2024. (Foto por Ammar Safarjalani/Xinhua)
A primeira visita do ministro interino das Relações Exteriores da Síria, Asaad al-Shaibani, à Arábia Saudita sinalizou uma disposição para redefinir as relações com um país que pode moldar o consenso regional, potencialmente tranquilizando os vizinhos árabes e de maioria muçulmana sobre a nova direção de Damasco, disse um analista político sírio.
Por Hummam Sheikh Ali
Damasco, 4 jan (Xinhua) -- A convite do lado saudita, o ministro interino das Relações Exteriores da Síria, Asaad al-Shaibani, fez a primeira visita oficial ao exterior do novo governo interino no começo desta semana.
Acompanhado por outros altos funcionários, al-Shaibani passou dois dias em Riad, marcando um reengajamento histórico entre Damasco e um dos estados árabes mais influentes.
Essa visita é mutuamente importante para a Arábia Saudita e para a nova liderança interina síria, disseram analistas.
DUPLA IMPORTÂNCIA DA ARÁBIA SAUDITA
Mohammad al-Omari, analista político sírio, diz que a Arábia Saudita tem "dupla importância" nas frentes árabe e islâmica. Como exerce considerável influência política e econômica em todo o Oriente Médio, "a Arábia Saudita pode estabelecer um equilíbrio estratégico na Síria, abrangendo áreas políticas e econômicas", observou ele.
Portanto, reconhecer o papel do reino é essencial para a liderança de transição da Síria. A visita de Al-Shaibani sinalizou uma disposição para redefinir as relações com um país que pode moldar o consenso regional, potencialmente tranquilizando os vizinhos árabes e de maioria muçulmana sobre a nova direção de Damasco após a queda do ex-presidente Bashar al-Assad, disse o analista.
A força financeira da Arábia Saudita e sua capacidade de mobilizar recursos do Golfo também são grandes atrativos para Damasco. Após a visita, al-Shaibani destacou a necessidade de lançar um plano de desenvolvimento econômico que incentive o investimento e promova parcerias estratégicas, enquanto o ministro da Defesa, Abu Qasra, e o chefe de Inteligência, Anas Khattab, também se encontraram com altos funcionários sauditas para discutir potenciais empreendimentos de reconstrução.
"O dinheiro do Golfo está intimamente ligado às decisões tomadas pela Arábia Saudita, principalmente quando se trata de reconstrução e melhoria das condições de vida. A nova liderança síria precisa desses recursos para estabilizar o país", disse al-Omari.
Foto tirada no dia 8 de dezembro de 2024 mostra fumaça após explosão em Damasco, Síria. (Foto por Monsef Memari/Xinhua)
BUSCA POR EQUILÍBRIO E ESTABILIDADE REGIONAIS
Para a Arábia Saudita, alcançar a nova liderança síria é um passo importante para fortalecer seus laços com a Síria e equilibrar a estabilidade regional.
"Não se trata apenas de comércio ou investimento, mas de garantir que o novo governo da Síria não fique excessivamente dependente de uma potência regional", disse al-Omari.
A Síria também busca um ambiente estável na era pós-Assad, como al-Shaibani enfatizou durante a visita que é importante forjar um ambiente político adequado para "segurança, estabilidade e prosperidade" em conjunto com os parceiros árabes.
Ele disse que a Síria pretende desempenhar "um papel positivo na região", uma declaração que se alinha com os esforços para reconstruir a confiança entre os países vizinhos preocupados com os riscos potenciais de atividades extremistas ou conflitos renovados.
Moradores reunidos em rua em Damasco, Síria, no dia 8 de dezembro de 2024. (Foto por Ammar Safarjalani/Xinhua)
CAMINHO À FRENTE
Embora a reunião em Riad seja um marco importante, observadores alertam que o progresso real depende de vários fatores, incluindo ajuda internacional, reconciliação política e arranjos de segurança que abordem tensões faccionais contínuas.
Em comentários durante sua primeira visita à Síria na sexta-feira, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, pediu uma transição inclusiva que respeite os direitos de todos os cidadãos na Síria, esclarecendo que a União Europeia não financiará entidades islâmicas no país.
"Encorajamos nossos interlocutores a aproveitar a experiência e o apoio da ONU para este processo politicamente inclusivo", disse Baerbock.
Ela destacou que qualquer futuro governo sírio deve integrar todos os segmentos da sociedade, incluindo mulheres e minorias étnicas, no processo político.
Ainda assim, a primeira visita de al-Shaibani à Arábia Saudita destaca a estratégia mais ampla de Damasco: reconstruir a confiança, atrair investimentos e posicionar o novo governo interino como um parceiro para as partes interessadas regionais e globais.