Comentários de Trump sobre Groenlândia geram inquietação na Europa e sinalizam mais divisões entre EUA e Europa-Xinhua

Comentários de Trump sobre Groenlândia geram inquietação na Europa e sinalizam mais divisões entre EUA e Europa

2025-01-15 13:17:58丨portuguese.xinhuanet.com

* A política de Donald Trump de priorizar os interesses dos Estados Unidos e desconsiderar os sentimentos da UE provavelmente alterará as relações entre os EUA e a UE depois que ele assumir o cargo, disse Robert Frank, analista político croata.

* As observações polêmicas de Trump intensificaram as preocupações sobre o futuro das relações entre os EUA e a Europa, com especialistas alertando que as divisões podem se aprofundar ainda mais após sua posse.

Copenhague, 13 jan (Xinhua) -- Os recentes comentários do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o possível uso de força militar para obter o controle da Groenlândia soaram alarmes em toda a Europa, destacando as principais diferenças entre os Estados Unidos e seus aliados europeus.

Essa controvérsia, que se concentra na soberania da Groenlândia, atraiu a oposição generalizada dos líderes europeus e alimentou preocupações sobre as motivações de Trump, bem como sobre o futuro das relações transatlânticas.

Foto tirada em 19 de outubro de 2024 mostra o gelo flutuante perto de Nuuk, capital da Groenlândia, um território dinamarquês autônomo. (Foto por Luo Yizhou/Xinhua)

OPOSIÇÃO GENERALIZADA

Durante uma recente coletiva de imprensa em sua residência em Mar-a-Lago, Trump disse que não descartaria o uso de ações militares ou econômicas para adquirir a Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca. Ele também disse que consideraria a imposição de tarifas sobre a Dinamarca "em um nível muito alto" se ela resistisse à sua oferta de adquirir o território.

Em resposta, a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen rejeitou firmemente as declarações de Trump, enfatizando a soberania da Groenlândia. "O futuro da Groenlândia deve ser decidido em Nuuk", disse ela, referindo-se à capital do território.

O primeiro-ministro da Groenlândia, Mute Egede, repetiu sua posição, enfatizando que "a Groenlândia pertence aos groenlandeses" e rejeitando a influência externa na região.

Os principais partidos políticos da Groenlândia, incluindo os partidos governistas Inuit Ataqatigiit e Siumut, também rejeitaram a proposta de Trump.

"Não queremos fazer parte dos Estados Unidos", disse Mariane Paviasen, porta-voz do partido Inuit Ataqatigiit.

Erik Jensen, presidente do partido Siumut, enfatizou o desejo da Groenlândia de se autogovernar, enquanto o líder do partido de oposição Naleraq, Pele Broberg, observou que "a Groenlândia não é uma mercadoria a ser comercializada".

A controvérsia também provocou tensões na Europa. Ao discutir as observações de Trump com outros líderes da União Europeia, o chanceler alemão Olaf Scholz reiterou que a inviolabilidade das fronteiras é uma "lei internacional fundamental".

Observando que a Groenlândia é um "território da União Europeia e da Europa", o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, advertiu contra as declarações de Trump. O primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, chamou as observações de Trump de "inaceitáveis" e alertou sobre a ameaça à unidade da OTAN e à estabilidade europeia.

A ambição de Trump de "conquistar" a Groenlândia é um movimento sem precedentes entre os aliados ocidentais, disse Robert Frank, analista político croata, acrescentando que a política de Trump de priorizar os interesses dos Estados Unidos e desconsiderar os sentimentos da UE provavelmente alterará as relações EUA-UE depois que ele assumir o cargo.

"No futuro, a divisão entre os Estados Unidos e a UE poderá se tornar ainda maior, representando uma ameaça ainda maior à sobrevivência da família europeia", observou ele.

Foto tirada em 19 de outubro de 2024 mostra a paisagem de Nuuk, capital da Groenlândia, um território dinamarquês autônomo. (Foto por Luo Yizhou/Xinhua)

DIVISÕES AMPLIADAS

A tensão sobre a Groenlândia, uma ilha que ostenta recursos ricos e tem uma importância estratégica crescente, é vista como parte de um padrão mais amplo de unilateralismo dos EUA sob a política "America Primeiro" de Trump, que entra em conflito com os valores europeus de cooperação multilateral e respeito à soberania.

As observações polêmicas intensificaram as preocupações sobre o futuro das relações entre os EUA e a Europa, com especialistas alertando que as divisões podem se aprofundar ainda mais após a posse.

O relacionamento de Washington com a Europa, especialmente com a UE, mudará significativamente, disse Frank.

"No futuro, a divisão entre a América e a UE poderá ser ainda maior e mais perigosa para a sobrevivência da família europeia", disse ele.

Os especialistas acreditam que as declarações de Trump deixaram um impacto indelével nas percepções europeias sobre a confiabilidade dos EUA como aliado.

François Heisbourg, assessor especial do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, disse que o retorno de Trump ao poder poderia fazer com que a Europa se afastasse da influência americana.

"Um mundo sem os Estados Unidos é um mundo em que não há mais sistemas de alianças, como tem havido desde o fim da Segunda Guerra Mundial", disse Heisbourg, alertando que a Europa deve se preparar para "menos Estados Unidos" no cenário global.

À medida que os Estados Unidos avançam sob o novo governo Trump, os líderes europeus enfrentam o desafio crescente de equilibrar a cooperação com a independência estratégica, especialmente em regiões geopoliticamente sensíveis, como o Ártico.

O cientista político dinamarquês Kristian Soby Kristensen enfatizou os desafios de defender a Groenlândia, considerando os recursos militares limitados da Dinamarca e a dependência do apoio dos EUA. A assimetria ressalta a vulnerabilidade da Europa diante da diplomacia transacional de Trump.

"A Dinamarca tem plena consciência de que não pode defender a Groenlândia contra ninguém sozinha", disse Kristensen, acrescentando que as forças armadas da Dinamarca, que "têm se concentrado em atividades militares mais rotineiras em tempos de paz", não estão equipadas nem treinadas para resistir a uma invasão dos EUA.

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