Povo sírio reunido em Damasco, Síria, no dia 8 de dezembro de 2024. (Str/Xinhua)
Enquanto alguns sírios ainda esperam por estabilidade, outros temem que o país esteja mergulhando em uma turbulência pior.
Damasco, 18 mar (Xinhua) -- Cem dias após a queda do governo de Bashar al-Assad, a Síria ainda luta contra a incerteza política, dificuldades econômicas e crescentes preocupações com a segurança, com o caminho a seguir cada vez mais incerto.
O líder interino sírio, Ahmed al-Sharaa, buscou reformas políticas e engajamento diplomático regional, enquanto o chefe de relações exteriores Asaad al-Shaibani tem voado de uma capital para outra, buscando apoio para as autoridades interinas e defendendo a remoção de sanções ocidentais paralisantes, que ele identifica como grandes obstáculos para a reconstrução e recuperação econômica da Síria.
Grande parte dessas sanções ainda estão em vigor, pesando sobre as já terríveis condições econômicas no local. Além disso, episódios de violência sectária também têm piorado a perspectiva.
Membro das forças de segurança sírias patrulha em rua na cidade costeira de Jableh, província de Latakia, noroeste da Síria, no dia 9 de março de 2025. (Str/Xinhua)
PREOCUPAÇÕES COM A SEGURANÇA
As antigas instituições militares e de segurança da Síria foram dissolvidas, criando uma lacuna na segurança que as autoridades interinas estão se esforçando para preencher. Em muitas áreas, a ilegalidade está ainda mais comum.
Atif Hussein, funcionário público aposentado de 57 anos, disse que a decisão de desmantelar o exército e a polícia levou a consequências severas. "Agora as pessoas resolvem disputas com armas, não com a lei", disse ele.
Além disso, a disseminação descontrolada de armas piorou a crise. Hatim Abdelhadi, homem de 43 anos da província de Sweida, disse que agora os grupos armados andam livremente em algumas áreas.
Especialistas políticos concordam que a ilegalidade continua sendo uma das principais preocupações. Ali Yousef, analista sírio, descreveu a situação como de "incerteza e medo". Ele destacou os crescentes relatos de roubo e violência, sem uma estrutura de segurança clara para lidar com isso.
DIFICULDADES ECONÔMICAS
Embora os preços das commodities tenham caído tecnicamente, muitos sírios não conseguem pagar nem pelas necessidades básicas devido à falta de liquidez e ao desemprego generalizado.
Alguns observadores dizem que a decisão das autoridades interinas de reter liquidez em dinheiro dos bancos para evitar saques em massa agravou ainda mais a situação, forçando os cidadãos a vender suas economias em dólares americanos abaixo do valor de mercado.
Demissões em massa pioraram a crise, pois as autoridades interinas optaram por demitir milhares de funcionários públicos, citando a falta de competência.
"As demissões generalizadas deixaram famílias sem renda", disse Assef Ibrahim, ex-funcionário do governo.
O analista político, Basil Hanawi, criticou a abordagem econômica atual, alertando que ela "falhou em relançar a economia", resultando em fechamentos de fábricas e estagnação de negócios.
Foto de celular mostra equipes de resgate e moradores vasculhando escombros após explosão no bairro de al-Raml al-Janoubi, em Latakia, Síria, no dia 15 de março de 2025. (Str/Xinhua)
TENSÃO SECTÁRIA
A recente violência fatal nas províncias de Latakia e Tartous aumentou os medos sectários, especialmente em áreas de maioria alauíta, onde relatos de assassinatos e ataques retaliatórios são frequentes.
A violência começou em 6 de março, desencadeada por "ataques coordenados" de grupos armados leais a Assad contra forças de segurança na província costeira de Latakia, de acordo com as autoridades de defesa da Síria.
A violência rapidamente virou confrontos sectários mais amplos, visando predominantemente cidades e vilas de maioria alauíta, disse recentemente o porta-voz de direitos humanos da ONU, Thameen Al-Kheetan.
Ele acrescentou que as investigações iniciais sugerem que os perpetradores incluíam combatentes alinhados com as autoridades interinas da Síria, além de facções pró-Assad.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, documentou até agora pelo menos 1.500 mortes de civis.
O analista sírio Yousef alertou que as divisões sectárias podem piorar se as autoridades interinas não agirem rapidamente. "O que aconteceu na costa é um alerta. As autoridades interinas devem trabalhar para evitar uma nova escalada ou arriscar instabilidade a longo prazo", disse ele.
NAÇÃO SOB DILEMA
Enquanto alguns sírios ainda esperam por estabilidade, outros temem que o país esteja entrando em uma turbulência ainda pior. Sarah Hadifi, 25 anos, continua cautelosamente otimista. "Vivemos de esperança, mas sem reformas, a situação pode piorar", disse ela.
Yousef continua cético. "Os sírios esperavam uma transformação, mas estão enfrentando condições cada vez piores", disse ele. "A menos que as autoridades interinas tomem medidas imediatas, o descontentamento público continuará aumentando".
Al-Sharaa prometeu resolver a crise. No entanto, as autoridades interinas estão sob forte pressão para entregar resultados tangíveis em meio à instabilidade crescente.