Uma das principais obras da China no Brasil, a linha de transmissão de energia entre o Xingu e o Rio de Janeiro, com mais de 2.500 km de extensão, recuperou a melhoria e o desenvolvimento de um pequeno quilombo, graças à uma fábrica de polpa de frutas.
ANNE LUISE DE AMORIM - COORDENADORA DE ESG (AMBIENTAL, SOCIAL E GOVERNANÇA) DA SGBH
Nós conhecemos a Comunidade Malhadinha através dos estudos sócios ambientais que nós fizemos pelo licenciamento ambiental da linha de transmissão Xingu-Rio, e a partir disso pelo licenciamento ambiental, começamos a desenvolver um programa chamado: Programa Básico Ambiental Quilombola.
Essa história começou assim, lá na construção da linha de transmissão Xingu-Rio pela empresa chinesa State Grid Brazil Holding (SGBH), que transporta a energia gerada na hidrelétrica de Belo Monte, no coração da Amazônia, para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, e atravessa cinco estados brasileiros e 81 cidades, com benefícios para mais de 20 milhões de pessoas. Ao passar pela comunidade quilombola da Malhadinha, no estado do Tocantins (nordeste do Brasil), o trabalho social da SGBH detectou as possibilidades de aproveitar as inúmeras frutas locais para construir uma fábrica de polpa de frutas e, com ela, dar trabalho às mulheres do quilombo, quase todas desempregadas e sem renda.
MARLENE ARAÚJO DIAS - QUILOMBOLA
Podemos dizer que a diferença entre antes e agora é como água para vinho. De dona de casa sem nenhuma expectativa, depois do empreendimento nós podemos dizer que temos grandes realizações, grandes sonhos, grandes conquistas, e isso não é sonho, é realidade.
Após o estudo realizado pela SGBH, em novembro de 2018, foram concluídas as obras de adequação da fábrica. Em março de 2019, os trabalhadores começaram a ser treinados para todo o processo, que vai desde a colheita das frutas até o uso das máquinas para fazer a polpa das frutas. Em agosto de 2021, a fábrica finalmente começou a funcionar, o que mudou completamente a vida dos moradores do quilombo, graças à produção de polpas de frutas como acerola, murici, caju, tamarindo, manga, abacaxi, maracujá, etc., tudo coletado nos jardins e pátios dos moradores do quilombo. Mas para lidar com tanta polpa, é necessário conhecimento profissional. Graziela Barbosa Paludo é engenheira de alimentos, e responsável por toda a parte de acompanhamento, desde o recebimento e armazenamento das frutas frescas, até o processamento, no despolpador, a parte de embalagem, desde a estruturação do prazo de validade e conservação, ao fornecimento e desenvolvimento de acordos, tanto com entidades públicas como privadas, para a comercialização do produto.
GRAZIELA BARBOSA PALUDO - ENGENHEIRA DE ALIMENTOS
O dia que eu venho aqui é uma satisfação, ver o desenvolvimento das meninas, que antes não tinham fonte de renda, antes da fábrica de polpa elas dependiam dos maridos, e em alguns deles não têm emprego fixo. Geramos renda para uma parcela da população que muitas vezes é esquecida. Importante frisar que são mulheres, negras, quilombolas, longes da cidade, sem outra fonte de renda.
O quilo de polpa é vendido por entre 12 e 30 reais (entre 2,4 e 6 dólares), dependendo da fruta, e é vendido para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), hotéis e outros estabelecimentos. Em algumas escolas estaduais, os alunos consomem suco derivado da polpa feita pelos quilombolas como lanche. Cada trabalhador, que já recebeu um curso de capacitação profissional, ganha cerca de 8.000 reais por ano (1.600 dólares), o que transformou a vida dos moradores do quilombo.
MARLENE ARAÚJO DIAS - QUILOMBOLA
Agora tenho sofá, geladeira, internet, estou reformando a frente da minha casa... e tenho o sonho de ter meu carro. Agora posso comprar um celular e pagar à vista, antes se quisesse tinha que parcelar em 12 vezes. Graças ao nosso trabalho com as polpas de frutas.
O fruto do trabalho tem raízes profundas e firmes, caules grossos, vigorosos, folhagem abundante, e muitas frutas para serem colhidas. A sua polpa trás esperança de dias melhores. A gratidão está na alegria de quem colhe esse fruto:
Quilombolas falando Ni Hao - Xie xie
