Rio de Janeiro, 30 de jan (Xinhua) -- Falando sobre o recente lançamento na China de uma versão em quadrinhos de sua obra mais conhecida "O Alquimista", Paulo Coelho disse à equipe da Xinhua que a obra "tem um desenho ótimo. É uma peça magnífica". A entrevista foi realizada por videoconferência, desde sua casa em Genebra.
Paulo Coelho certamente é um dos nomes mais conhecidos hoje no mundo literário e entre personalidades brasileiras cujas conquistas ultrapassaram as barreiras nacionais. Com mais de 320 milhões de livros vendidos, lançados em 170 países, tendo 85 traduções para outros idiomas, o autor já entrou para o livro dos recordes e tornou-se Mensageiro da Paz das Nações Unidas.
Segundo o celebrado escritor, a versão mangá chinesa da obra "O Alquimista" tem atributos únicos a serem destacados: "Foi a melhor versão até o momento, tanto que as editoras planejam comprar os direitos da publicação chinesa, traduzir para outros idiomas e disponibilizar em outros países", salientou Coelho.
Para ele, o contexto literário atual tem sofrido muitas mudanças: "Atualmente uma obra atinge um certo número de pessoas e não progride, mas a versão mangá é capaz de atingir outros públicos".
Ainda sobre as suas impressões da China e do povo chinês, Paulo Coelho diz ter grande admiração e respeito. Na obra "Caminhos Revividos", realizada em conjunto com sua esposa Christina Oiticica, as ilustrações possuem técnicas diversas a partir da fotografia dos pés do autor caminhando pelas muralhas de Nanjing, unindo referências marcantes de sua trajetória: "Estive em Nanjing, Beijing e Shanghai. A China é um país que me impressionou em razão da cultura que consegue manter o foco, ao mesmo tempo que permanece alegre, como os brasileiros. Os chineses sabem o que querem e persistem no objetivo de conseguirem aquilo que almejam. Isso me ensinou muito".
Ele ainda se mostrou preocupado com a situação mundial atual, ao mesmo tempo que acredita que a literatura possa auxiliar a diminuir as distâncias e a tensão entre os povos: "A paciência chinesa tem auxiliado a que a situação não chegue a níveis desastrosos. A China deu muito ao mundo, mas isso infelizmente não foi reconhecido, ou foi apropriado. Sou eternamente agradecido ao povo chinês por acolher o meu trabalho e os meus valores. No fundo todos temos a mesma alma. É uma alegria ver os chineses abertos a aceitarem outras culturas", sublinhou Paulo Coelho, que ainda espera que China e Brasil possam incrementar a sua cooperação em um ambiente pacífico e que contribua para aliviar as tensões mundiais recentes.
O embaixador da paz para a ONU ainda comentou: "A arte é uma ponte que une culturas diferentes e colabora para a construção de um ambiente de paz, pois as histórias são universais. Meus livros foram bem recebidos no Irã e em Israel, dois países com diversas questões a serem resolvidas em suas relações", disse.
Sobre seu processo criativo, ele foi categórico: "Você só pode escrever sobre o que viveu. Eu tive uma vida muito intensa. Meu sonho desde criança foi ser escritor. Antes de atingir este objetivo, atuei em outras áreas como a música, que me deu a base financeira e o poder de síntese, sem perder a essência e a qualidade poética, para que mais tarde eu me tornasse um escritor bem-sucedido", recordou.
O autor ainda enfatizou que cria para o povo: "Tento escrever de forma simples e profunda. Em cada livro coloquei o meu amor. Todas as obras são importantes para mim", disse. Conforme ele, há dois tipos de escritores: aqueles que vivem suas histórias em suas mentes, e aqueles que experienciam a vida. "Eu sou destes que tentou um pouco de tudo, passei por vários momentos difíceis, pensei em desistir, mas hoje sou o terceiro autor mais conhecido do mundo. Como o filósofo espanhol José Ortega y Gasset disse 'eu sou eu e a minha circunstância', ou seja, eu sou o Paulo Coelho e o que é o mundo neste momento."
Finalmente sobre o impacto da tecnologia no mercado literário, o escritor ressaltou que as mudanças serão profundas para o público e para os autores. "Já existe inteligência artificial que escreve livros. É uma mudança e tanto e creio que as obras terão de ser cada vez mais reduzidas para o público que nasce e cresce neste ambiente. Eu não sou contra o progresso, mas isso traz uma realidade muito diferente. Porém, não há o que fazer, é preciso adaptar-se." Fim