
Pessoas procuram sobreviventes entre escombros de prédio destruído por forte terremoto no bairro de al-Masharqa, na cidade de Alepo, norte da Síria, no dia 7 de fevereiro de 2023. (Str/Xinhua)
As sanções têm sido a principal tática dos EUA em relação à Síria desde que esta foi listada como patrocinadora do terrorismo em 1979. Desde o início da guerra civil síria em 2011, os Estados Unidos e seus aliados ocidentais impuseram várias sanções econômicas e restrições que negavam aos sírios os meios para buscar crescimento e acesso às necessidades básicas.
Damasco, 8 fev (Xinhua) -- A Síria criticou na terça-feira os Estados Unidos por bloquear o trabalho de ajuda humanitária na Síria, um dia depois de fortes terremotos abalarem a parte norte do país e muitas áreas da vizinha Turquia.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Síria disse que os sírios, enquanto lidam com a catástrofe do terremoto, estão cavando os escombros com as próprias mãos ou usando as ferramentas mais simples, já que os Estados Unidos proibiram os equipamentos adequados para isso.
As sanções têm sido a principal tática dos EUA em relação à Síria desde que esta foi listada como patrocinadora do terrorismo em 1979. Desde o início da guerra civil síria em 2011, os Estados Unidos e seus aliados ocidentais impuseram várias sanções econômicas e restrições que negavam aos sírios os meios para buscar o crescimento e o acesso às necessidades básicas. Essas sanções foram intensificadas com a aprovação da Lei César em 2019.
APELO PELO FIM DAS SANÇÕES DOS EUA
Os fortes terremotos de segunda-feira esgotaram os recursos já limitados da Síria, onde pelo menos 2.470 pessoas morreram e 4.650 ficaram feridas, segundo dados divulgados por autoridades e equipes de resgate.
A cidade de Alepo, no norte da Síria, foi uma das mais atingidas pelo terremoto, com escombros caindo constantemente após o ocorrido de segunda-feira. E por falta de ferramentas, alguns socorristas cavaram os escombros com as próprias mãos em busca de sobreviventes na neve e na chuva, testemunharam os repórteres da Xinhua.
Os residentes locais estão protestando contra os Estados Unidos por manterem as sanções econômicas quando a Síria precisa desesperadamente da ajuda da comunidade internacional.
Aisha al-Hilu, uma professora, fugiu para casa com as crianças após os terremotos. Todos os seus pertences ficaram soterrados.
Ela criticou as sanções dos EUA, que cortaram os laços econômicos e financeiros da Síria com o resto do mundo e impediram o acesso do país a suprimentos de socorro após o terremoto.
"Essas sanções nos punem, mas não temos culpa. Isso é vergonhoso, eles precisam remover essas sanções", disse ela.
Antes dos terremotos, a Síria já era prejudicada por uma nova rodada de sanções dos EUA. Em 16 de janeiro, o Ministério das Relações Exteriores da Síria condenou em um comunicado os Estados Unidos por imporem novas sanções que impedem a importação de equipamentos médicos e peças de reposição da Síria por meio de "medidas desumanas".
Em uma coletiva de imprensa realizada na terça-feira na capital síria, Damasco, o presidente do Crescente Vermelho Árabe Sírio (SARC), Khaled Hboubati, pediu a suspensão das sanções dos EUA e do Ocidente à Síria para facilitar os esforços de socorro.
Em entrevista à agência de notícias semioficial Mehr na segunda-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, pediu aos países que pressionem os Estados Unidos a suspender as sanções à Síria e o cerco ao país para permitir a entrega de ajuda internacional.
"O povo do norte da Síria está realmente sofrendo. As sanções estão impedindo a ajuda internacional e os suprimentos médicos. Milhares de mortes na Síria são evitáveis, o alívio do terremoto deve interromper as sanções", tuitou Khaled Beydoun, professor-associado de direito da Wayne State University, com sede nos Estados Unidos.
"Os países ocidentais não precisam enviar nada, apenas remover as sanções fatais contra a Síria", tuitou Sharmine Narwani, comentarista e analista de geopolítica do Oriente Médio e ex-associado-sênior do St. Antony's College, da Universidade de Oxford.

Pessoas acendem velas pelas vítimas dos terremotos na Turquia e na Síria, em Islamabade, capital do Paquistão, no dia 6 de fevereiro de 2023. (Xinhua/Ahmad Kamal)
MAIS PROBLEMAS COM OS EUA
Após os terremotos de segunda-feira, Washington descartou a possibilidade de negociar diretamente com o presidente sírio, Bashar al-Assad, nos esforços de socorro.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse na segunda-feira a repórteres que os Estados Unidos enviarão ajuda à Síria por meio de organizações não governamentais (ONGs) sem se envolver com o governo sírio, que não reconhece como legítimo.
A acusação de que a Síria é patrocinadora do terrorismo é "velha desculpa" que os Estados Unidos costumam usar para justificar sua intervenção em outros países, disse Maher Ihsan, jornalista e especialista em política.
"Veja a situação agora, os Estados Unidos estão controlando os principais campos de gás e petróleo em áreas ricas em petróleo na Síria e em áreas agrícolas importantes. Eles não vieram aqui para ajudar, mas para tirar vantagem da situação e impor seus interesses", disse Ihsan à Xinhua em uma entrevista anterior.
Após suas intervenções militares diretas na Síria em 2014, os Estados Unidos enviaram tropas para regiões ricas em petróleo da Síria, incluindo a província de Hasakah, no nordeste, e a província de Deir al-Zour, no leste.
Damasco há muito culpa as forças dos EUA por roubar petróleo e outros recursos sírios. Vídeos mostrando tropas dos EUA usando navios-tanque para transportar petróleo sírio para bases militares americanas no Iraque foram amplamente divulgados on-line.
Em agosto do ano passado, o ministério do petróleo sírio acusou os Estados Unidos de roubar 83% da produção de petróleo da Síria no primeiro semestre de 2022. A produção média diária de petróleo sírio no primeiro semestre de 2022 foi de 80.300 barris, enquanto as forças americanas e seus "mercenários" estavam roubando uma média de 66.000 barris por dia, mostrou um comunicado do ministério.
Ao roubar uma porcentagem significativa do suprimento de petróleo da Síria, os Estados Unidos não apenas tiraram da Síria seus valiosos recursos extremamente necessários para a recuperação econômica e a construção social, mas também privaram os sírios de necessidades básicas essenciais no inverno. Os sírios precisam viver com aquecimento inadequado e longas quedas de energia durante esse período.
"O papel dos EUA na Síria tem sido destrutivo, para dizer o mínimo", disse Osama Danura, especialista político sírio e ex-membro da delegação do governo sírio nas negociações de paz na Síria em Genebra. "O círculo econômico na Síria foi prejudicado por essas medidas unilaterais".



