Após 20 anos da invasão brutal dos EUA, traumas ainda assombram vítimas iraquianas-Xinhua

Após 20 anos da invasão brutal dos EUA, traumas ainda assombram vítimas iraquianas

2023-03-23 07:49:48丨portuguese.xinhuanet.com

* Os Estados Unidos levaram oito anos, oito meses e 29 dias para encerrar sua ocupação militar no Iraque, com as últimas tropas de combate saindo do país no dia 18 de dezembro de 2011. A guerra acabou, mas ninguém pode dizer quanto tempo levará para que as vítimas iraquianas curem essas feridas.

* Estima-se que a guerra e a violência que se seguiu no Iraque mataram mais de 200.000 civis e deixou mais de 9 milhões de deslocados.

* Sob a branda "regra de engajamento" das forças americanas, muitos civis iraquianos inocentes foram mortos a tiros nas ruas ou em casa.

Bagdá, 20 mar (Xinhua) -- Na cidade de Dhuluiyah, cerca de 90 km ao norte da capital iraquiana, Bagdá, Sondos al-Lami ainda via os buracos de bala  no chão da cozinha por soldados americanos que mataram seu marido a tiros em uma manhã há quase 20 anos.

"Era madrugada de 18 de outubro de 2003, o pior dia da minha vida. De repente, muitos soldados americanos invadiram nossa casa", lembrou a mulher de 50 anos com raiva e tristeza.

Al-Lami disse que os soldados não perguntaram nada antes de abrir fogo contra seu marido em frente dela e dos filhos apavorados. Depois, as tropas americanas ofereceram apenas um breve pedido de desculpas pelo que chamaram de "erro".

"Mantive os buracos de bala nos azulejos da cozinha. Quero que sejam as provas da brutalidade e barbárie dos ocupantes americanos", disse al-Lami à Xinhua.

Al-Lami é apenas uma dos milhões de iraquianos cujas vidas mudaram totalmente depois que os Estados Unidos e seus aliados invadiram ilegalmente o Iraque em 20 de março de 2003. Duas décadas depois, o horror, a angústia e o trauma continuam.

Sondos al-Lami relembra do marido que foi morto a tiros por soldados americanos em uma manhã há quase 20 anos em Dhuluiyah, Iraque, no dia 14 de fevereiro de 2023. (Xinhua/Khalil Dawood)

DORES INDCURÁVEIS

Os Estados Unidos levaram oito anos, oito meses e 29 dias para encerrar sua ocupação militar no Iraque, com as últimas tropas de combate deixando o país no dia 18 de dezembro de 2011. A guerra terminou, mas ninguém pode dizer quanto tempo levará para as vítimas iraquianas se curarem dessas feridas.

"Eles disseram que iriam nos libertar e nos salvar, mas o que fizeram transformou minha vida em um inferno", disse Abdullah Mahmoud Ibrahim, outro morador de Dhuluiyah.

Em uma noite de inverno em 2005, um míssil dos EUA destruiu a casa de Ibrahim, matando sua esposa, filha e um de seus primos.

Ibrahim sobreviveu milagrosamente à explosão, mas está permanentemente incapacitado em uma cadeira de rodas. Nos últimos 18 anos, ele carregava uma sonda devido à incontinência urinária.

"Sinto falta da minha filha e da minha esposa. Nunca vou perdoar o que os americanos fizeram", disse o viúvo de 52 anos à Xinhua. "Eles não vieram para nos libertar, apenas destruíram nossas vidas e foram embora".

Abdullah Mahmoud Ibrahim olha fotos da sua casa destruída por um míssil dos EUA em 2005, em Dhuluiyah, Iraque, no dia 6 de março de 2023. (Xinhua/Wang Dongzhen)

Enquanto alguns iraquianos perderam familiares na guerra, outros perderam anos de liberdade, pois a coalizão liderada pelos Estados Unidos prendeu muitas pessoas arbitrariamente nos oito anos de ocupação.

Alaa Karim Ahmed foi preso sem motivo pelos americanos em 2003. Na época, um estudante universitário promissor de 21 anos, ele estava entre um grupo de iraquianos presos por soldados americanos na cidade de Samarra, cerca de 120 km ao norte de Bagdá, em uma caçada após um bombardeio na estrada perto de uma patrulha dos EUA.

Foi uma experiência traumática para Ahmed, que passou dois anos e meio em quatro prisões administradas pelos Estados Unidos, incluindo a notória prisão de Abu Ghraib, onde foi submetido a muita tortura física e mental.

"Não esquecerei os dias difíceis de tortura. Fui muito espancado, algemado e preso. Uma vez até me penduraram de cabeça para baixo por mais de uma hora", disse ele, mostrando as cicatrizes de tortura ainda visíveis.

Depois de 20 anos, Ahmed ainda tem a pulseira de identificação que usou nas prisões como lembrança da provação pela qual passou e da brutalidade da ocupação americana.

Alaa Karim Ahmed relembra experiência traumática nas prisões administradas pelos Estados Unidos, em Dhuluiyah, Iraque, no dia 17 de fevereiro de 2023. (Xinhua/Khalil Dawood)

CRIMES CONTRA CIVIS

Os civis iraquianos têm sido as principais vítimas da invasão liderada pelos Estados Unidos e da violência por grupos militantes extremistas, como o Estado Islâmico, que já controlou grandes extensões de terra no Iraque após a partida das tropas da coalizão.

Estima-se que a guerra e a violência no Iraque mataram mais de 200.000 civis e deixado mais de 9 milhões de deslocados.

Sob a branda "regra de engajamento" das forças americanas, muitos civis iraquianos inocentes foram mortos a tiros nas ruas ou em casa. O analista político iraquiano Ali al-Mousa acusou as forças da coalizão de frequentemente usar força excessiva durante a invasão e ocupação do Iraque.

Saadi al-Dhehaybah trabalhava como médico no único hospital em Fallujah, uma cidade 69 km a oeste de Bagdá quando as forças lideradas pelos Estados Unidos atacaram a cidade em 2004. Ele e seus colegas colocaram as bandeiras da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho no hospital, mas não conseguiram impedir os bombardeios.

"A cidade inteira foi devastada e todos tentavam fugir. Meu amigo tentou sair da cidade com sua família, mas foram bombardeados e mortos na estrada", disse al-Dhehaybah, chamando o ataque liderado pelos EUA contra Fallujah uma das matanças mais brutais e desumanas contra civis na história moderna.

Khalid Salman Rasif relembra como soldados americanos invadiram as casas de seus parentes em Haditha, Iraque, no dia 7 de março de 2023. (Xinhua/Wang Dongzhen)

Haditha, uma cidade na província de Al Anbar, no oeste do Iraque, viu um dos crimes de guerra mais hediondos cometidos pelas tropas americanas. Um total de 24 civis, incluindo homens, mulheres e até uma criança de um ano, foram massacrados por soldados americanos que retaliaram por um atentado à bomba em 2005.

"Eles eram pessoas comum, não saíram de suas casas para lutar contra os americanos e só queriam se esconder e ficar seguros", disse Khalid Salman Rasif, ao lado do túmulo do tio, que foi uma das vítimas do massacre.

Na manhã de 19 de novembro de 2005, depois que um bombardeio à beira da estrada matou um fuzileiro naval dos EUA e feriu outros dois em um comboio dos EUA que passava em Haditha, soldados americanos se vingaram invadindo casas próximas e assassinando pessoas aleatoriamente.

Rasif sobreviveu ao se esconder em casa, mas seu tio e primo foram mortos. "Quando cheguei à casa do meu tio Abdul Hameed no dia seguinte, tinha sangue em tudo. O mesmo aconteceu na casa do meu primo, onde também tinha sangue por toda parte", disse Rasif à Xinhua.

Ainda não conseguimos justiça. Sete dos oito fuzileiros navais americanos envolvidos no massacre foram libertados sem acusações, enquanto apenas um foi condenado a no máximo 90 dias de prisão.

Foto tirada no dia 5 de março de 2023 mostra prisão de Abu Ghraib (direita) no Iraque. (Xinhua/Wang Dongzhen)

GUERRA DE MENTIRAS

Quando os Estados Unidos e seus aliados invadiram o Iraque em 2003, não houve declaração de guerra nem endosso da Organização das Nações Unidas. Eles simplesmente usaram o pretexto de destruir as armas de destruição em massa (ADM) do Iraque e trazer liberdade, democracia e prosperidade para o país.

Até hoje, nenhum vestígio dessas armas foi encontrado no Iraque.

Além de inventar uma mentira para começar a guerra, Washington também mentiu durante a guerra para difamar os inimigos e aumentar histórias inventadas sobre os chamados "heróis de guerra".

Jessica Lynch, uma soldado de 19 anos, foi retratada pelos militares e pela mídia dos EUA como uma heroína de guerra que continuou atirando até a última bala depois que seu comboio foi emboscado em abril de 2003 em Nasiriyah, sul do Iraque. Eles até alegaram que Lynch foi estuprada e torturada após ser capturada pelos iraquianos.

Mais tarde, as forças especiais americanas "resgataram" Lynch do Hospital Iman Hussein em Nasiriyah, em uma operação deliberadamente filmada para torná-la uma heroína americana.

No entanto, Khudhair Saadi, médico iraquiano que atendeu Lynch no hospital, disse à Xinhua que Lynch foi bem cuidada no hospital e nenhum sofreu danos.

Até a própria Lynch desmentiu isso depois, criticando a história glorificada sobre ela. "Não vou levar o crédito por algo que não fiz", disse ela.

No entanto, a única mentira americana maior do que a alegação de armas de destruição em massa e a propaganda de "heróis de guerra" foi a promessa de trazer democracia e prosperidade ao Iraque, que ainda está atolado em instabilidade política e dificuldades econômicas causadas por longos anos de guerras devastadoras.

Até hoje, o Departamento de Estado dos EUA ainda alerta os cidadãos sobre viagens ao Iraque devido a "terrorismo, sequestro, conflito armado e agitação civil", o conjunto completo de efeitos colaterais da "cruzada pela democracia" dos EUA.

Eu costumava acreditar na propaganda americana, pensando que ela poderia melhorar a vida no país. Mas não poderia estar mais enganado", disse al-Dhehaybah. "Os Estados Unidos são um agressor brutal que tenta dominar o mundo, e o Iraque é apenas uma das vítimas".

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