Foto tirada em 24 de setembro de 2015 mostra as bandeiras nacionais da China (d) e dos Estados Unidos, bem como a bandeira de Washington D.C. na Constitution Avenue, em Washington, capital dos Estados Unidos. (Xinhua/Bao Dandan)
"O que me preocupa no período atual é que estamos focando demais na rivalidade e não o suficiente na cooperação", disse o cientista político americano Joseph Nye em entrevista à Xinhua.
Por Deng Xianlai
Aspen, Estados Unidos, 22 jul (Xinhua) -- Os Estados Unidos e a China devem estabelecer limites para a competição e se esforçar para encontrar áreas em que a cooperação seja possível, disse o renomado cientista político americano Joseph Nye em entrevista à Xinhua.
"O que me preocupa no período atual é que estamos nos concentrando demais na rivalidade e não o suficiente na cooperação", disse Nye ao conceder uma entrevista exclusiva sobre as relações China-EUA à margem do Fórum de Segurança de Aspen, realizado de terça a sexta-feira.
Nye é um ex-reitor da Escola de Governo John F. Kennedy na Universidade Harvard, em que agora possui o título de reitor emérito. Ele é amplamente considerado um dos estudiosos mais influentes do mundo em relações internacionais. Ele também é conhecido por cunhar o termo "poder brando".
Durante a entrevista, Nye descreveu a atual relação entre Beijing e Washington como uma "rivalidade cooperativa". Ou seja, disse, os dois países encontram-se agora numa situação de "coexistência competitiva".
Alguns aspectos dos laços bilaterais exigem que os dois países adotem uma abordagem cooperativa ao lidarem um com o outro, disse Nye.
Joseph Nye, um estudioso influente em relações internacionais e formulação de políticas, fala em entrevista à Xinhua na Universidade Harvard em Massachusetts, Estados Unidos, no dia 8 de outubro de 2019. (Xinhua/Xie E)
"Os EUA e a China não são uma ameaça existencial um ao outro", disse Nye, acrescentando que ambos os países são "grandes demais" para que um "mude ou invada" o outro. "Nesse sentido, precisamos pensar em uma estrutura que estabeleça limites para a competição e também (permita aos dois lados) buscar áreas onde seja possível haver cooperação."
"Basicamente, administrar a concorrência significa trabalhar uns com os outros para dizer o que é demais, o que não é uma grande ameaça e trabalhar com isso", acrescentou.
Nye disse que o gerenciamento das relações China-EUA, que estão em declínio há mais de uma década, exigirão mais contatos do que os dois países têm desde o presidente americano Joe Biden assumiu o cargo há dois anos.
"É por isso que considero muito importante a decisão do presidente Xi (Jinping) e do presidente Biden em Bali de restaurar mais contatos em alto nível", disse ele.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, e o enviado presidencial especial para o clima, John Kerry, fizeram visitas consecutivas a Beijing nas últimas semanas, que Nye disse serem "absolutamente" importantes, mas mesmo assim "não podem mudar o relacionamento da noite para o dia".
Nye disse que os altos e baixos nas relações China-EUA seguem um padrão cíclico desde 1949, com cada ciclo durando cerca de 20 anos. "Estamos há 10 anos em um período difícil. Você não consegue reverter isso em apenas algumas visitas, mas penso em um período mais longo, devemos ser capazes de reverter isso."
Sobre o acordo entre os dois países para retomar os intercâmbios entre os dois povos envolvendo empresas, estudantes e acadêmicos, bem como aumentar os vôos diretos para facilitar esses intercâmbios, Nye comentou: "estes são os primeiros passos na direção certa", sem os quais muitos problemas mais espinhosos serão difíceis de resolver.
Um cliente (e) seleciona tecido em um estande de uma empresa da China em Shanghai durante a 24ª Feira de Têxteis e Vestuário da China em Nova York, Estados Unidos, no dia 19 de julho de 2023. (Xinhua/Xie E)
"Também é importante que, para fins simbólicos, desenvolvamos algumas áreas em que possamos educar nosso público de que há algo que podemos ganhar com a cooperação", disse Nye, mencionando áreas como combate à mudança climática, combate ao narcotráfico, manutenção da estabilidade da economia mundial e salvaguarda do regime de não proliferação nuclear.
"Se toda a discussão em Beijing e em Washington é sobre como o outro país é uma ameaça, (a narrativa) torna-se reforçadora", disse Nye. Mas se "mostrarmos cooperação, isso começa a mudar o clima de ideias em Washington e Beijing".
A partir de 1964, a carreira de ensino e pesquisa de Nye na Universidade Harvard foi interrompida por dois períodos relativamente breves de serviço público. Ele foi vice-subsecretário de estado para assistência de segurança, ciência e tecnologia de 1977 a 1979 e, entre 1993 e 1995, atuou primeiro como presidente do Conselho Nacional de Inteligência e depois como secretário adjunto de defesa para assuntos de segurança internacional.
Nye disse que, como "países grandes e bem-sucedidos", a China e os Estados Unidos "terão que conviver um com o outro o máximo que puderem" e que nunca haverá uma "vitória em que um lado vence o outro".
"A vitória significará que ambos evitaremos um conflito violento", disse ele. "Isso é uma vitória para ambos."