
Foto tirada em 20 de abril de 2024 mostra as obras de arte criadas por Zuo Wenjun, exibidas em um centro de arte para pessoas com deficiência na comunidade de Rongjinyuan em Yinchuan, Região Autônoma Hui de Ningxia, no noroeste da China. (Xinhua/Feng Kaihua)
Yinchuan, 9 mai (Xinhua) -- Zuo Wenjun nunca esteve na França. No entanto, uma pintura feita por ele, de 34 anos, atravessou o continente europeu e foi exposta no Louvre, na França, a cerca de 8.000 quilômetros de distância.
A pintura, Monte Kangrinboqe, foi exibida em uma exposição La Lumiere de três dias em abril e foi concluída pelo jovem da Região Autônoma Hui de Ningxia, no noroeste da China, que foi diagnosticado com paralisia cerebral quando era criança.
Admitindo que nunca esteve em Xizang, onde o Monte Kangrinboqe está localizado, Zuo disse que a obra de arte foi baseada em sua "observação de fotos e pensamento filosófico". "Pintar é a melhor coisa que posso fazer", disse ele com orgulho.

Zuo Wenjun trabalha em uma pintura a óleo em um centro de arte para pessoas com deficiência na comunidade de Rongjinyuan em Yinchuan, Região Autônoma Hui de Ningxia, mo noroeste da China, em 20 de abril de 2024. (Xinhua/Feng Kaihua)
Nascido em uma família de classe trabalhadora, Zuo teve dificuldades para equilibrar seu corpo desde muito jovem devido à doença e, mais tarde, só aprendeu a andar aos oito anos de idade. As cicatrizes em seus joelhos são visíveis até hoje.
Sem poder correr como as outras crianças, ele se apaixonou pela leitura. Relembrando, seus pais lhe deram uma caixa de giz para brincar, e ele desenhou alguns quadrados no chão com as mãos trêmulas. Todas essas atividades o estimularam a iniciar seu sonho de pintar.
Ele se tornou um estudante de arte no ensino fundamental. Ao aprender a desenhar, ele se esforçava ao máximo para traçar linhas retas, mas muitas vezes não conseguia controlar bem as mãos. Ele usava uma dúzia de lápis por dia, o que significava que sua mãe tinha que passar algumas horas à noite afiando os lápis para ele.
"Eu tinha boas ideias, mas não conseguia controlar minhas mãos, o que me deixava muito irritado", lembrou Zuo. "No entanto, quanto mais difícil era, mais eu queria romper os limites do meu corpo."
A prática leva à perfeição. Mais tarde, Zuo tornou-se estudante da Universidade de Ningxia, com especialização em arte, antes de prosseguir seus estudos na Academia Nacional de Arte da China, em Beijing.
Sua esposa Ma Chanyuan foi uma boa companheira durante o processo, pois o incentivou a perseguir seu sonho. "Sou muito grato a ela. Sem ela, eu não teria coragem suficiente para ir a Beijing", disse Zuo, emocionado. No aniversário dela, ele copiou o quadro "Irises" de Van Gogh para presenteá-la, e a flor representa "o mensageiro do amor".
Ma, formada em contabilidade, passou três anos aprendendo pintura com seu marido. "Ele é otimista e alegre, mas ao mesmo tempo tem pensamentos profundos. Ele me deu muita orientação e fez com que eu me apaixonasse pela arte."
Agora estudando psicologia, ela pretende ajudar mais pessoas com deficiências e incentivá-las a aprender a arte da pintura com seu marido.

Foto de arquivo tirada em 3 de dezembro de 2018 mostra Zuo Wenjun (frente, d) ensinando um homem com deficiência a pintar a óleo no centro de serviços de reabilitação de Ningxia para deficientes em Yinchuan, Região Autônoma Hui de Ningxia, no noroeste da China. (Xinhua/Feng Kaihua)
Zuo doou mais de 400.000 yuans (cerca de US$ 55.420) que ganhou com a venda de quadros para ajudar crianças com deficiências a pagar operações médicas. Ele também ensina pintura a pessoas com deficiências e as ajuda a vender suas obras de arte para complementar sua renda.
"Durante minha jornada, recebi muito amor e ajuda, que gostaria de transmitir", disse Zuo, que agora está trabalhando gratuitamente em um estúdio fornecido pela comunidade Rongjinyuan de Yinchuan, capital de Ningxia.
Atualmente, o jovem ainda tem dificuldade para segurar sua xícara com firmeza e lavar o cabelo sozinho, além de precisar se concentrar ao usar os pauzinhos. Mas suas pinturas surrealistas a óleo são muito delicadas. Sua mais recente pintura em grande escala, "Perguntando ao Céu", que levou dois meses para ser concluída, retrata uma estação espacial e sete astronautas acima da Terra e contém suas reflexões sobre a antiga filosofia chinesa, com detalhes que lembram uma fotografia de alta definição.
Para ele, a criação de obras de arte é uma forma de prolongar a vida, pois ela pode durar para sempre.
"A vida é como uma pintura", disse Zuo, acrescentando que o fato de ser bonita ou não depende muito dos detalhes das partes escuras.
Ele espera que, no futuro, possa fazer uma exposição individual no exterior, como no Louvre. "Quero trocar minhas ideias com pessoas de todo o mundo."


