Pessoas esperam para receber ajuda alimentar na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 30 de março de 2024. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)

-- De acordo com o relatório, entre 713 e 757 milhões de pessoas podem ter passado fome em 2023 - uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África. Considerando o intervalo médio de 733 milhões, isso representa cerca de 152 milhões de pessoas a mais do que em 2019.

-- Embora a fome ainda esteja aumentando na África e tenha permanecido relativamente inalterada na Ásia, houve um progresso notável na região da América Latina e do Caribe.

Nações Unidas, 24 jul (Xinhua) -- Cerca de 733 milhões de pessoas, ou cerca de 9% da população mundial, podem ter enfrentado a fome em 2023, disse um relatório da ONU divulgado na quarta-feira, alertando que o mundo está "fora do caminho" para cumprir a meta de acabar com a fome e a insegurança alimentar até 2030.

O número é cerca de 152 milhões a mais do que em 2019, disse o relatório intitulado "O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024: Financiamento para acabar com a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de desnutrição".

O relatório, publicado por cinco agências da ONU: a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Programa Mundial de Alimentos, a Organização Mundial da Saúde e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, foi lançado no contexto da Reunião Ministerial da Força Tarefa para o Estabelecimento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, no Brasil.

De acordo com o relatório, entre 713 e 757 milhões de pessoas podem ter enfrentado a fome em 2023 - uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África. Considerando a faixa intermediária de 733 milhões, isso representa cerca de 152 milhões de pessoas a mais do que em 2019.

Em 2023, estima-se que 28,9% da população global - 2,33 bilhões de pessoas - estavam em situação de insegurança alimentar moderada ou grave, um número que não mudou significativamente desde o aumento acentuado em 2020, em meio à pandemia da COVID-19, segundo o relatório.

Embora a fome ainda esteja aumentando na África e tenha permanecido relativamente inalterada na Ásia, houve um progresso notável na região da América Latina e do Caribe, observou o relatório.

Um vendedor trabalha em um mercado de alimentos em Sanaa, Iêmen, em 28 de fevereiro de 2024. (Foto por Mohammed Mohammed/Xinhua)

No entanto, as tendências ainda não estão se movendo na direção certa para acabar com a fome e a insegurança alimentar até 2030, e os indicadores de progresso em direção às metas globais de nutrição mostram que o mundo não está no caminho certo para eliminar todas as formas de desnutrição, com bilhões de pessoas ainda sem acesso a alimentos nutritivos, seguros e suficientes, de acordo com o relatório.

O relatório destacou uma combinação de fatores para o agravamento da insegurança alimentar e da desnutrição, incluindo a persistência da inflação dos preços dos alimentos, conflitos, mudanças climáticas e recessões econômicas. Essas questões, juntamente com fatores subjacentes, como dietas saudáveis inacessíveis, ambientes alimentares insalubres e desigualdade persistente, estão coincidindo simultaneamente, ampliando seus efeitos individuais.

O relatório enfatizou que a realização do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (ODS 2) da ONU - a meta mundial de fome zero - exige uma abordagem multifacetada, incluindo a transformação e o fortalecimento dos sistemas agroalimentares, o enfrentamento das desigualdades e a garantia de dietas saudáveis acessíveis e baratas para todos. Isso exige um financiamento maior e mais econômico, com uma definição clara e padronizada de financiamento para segurança alimentar e nutrição.

A implementação das políticas, dos investimentos e da legislação necessários para reverter as tendências atuais de fome, insegurança alimentar e desnutrição exige financiamento adequado, afirma o relatório, que pede um entendimento comum sobre como esse financiamento deve ser definido e monitorado.

Um pastor caminha com o gado na região somali da Etiópia, atingida pela seca, em 11 de junho de 2023. (Xinhua/Michael Tewelde)

O relatório forneceu uma definição há muito esperada de financiamento para segurança alimentar e nutrição e orientação para sua implementação, além de recomendações sobre o uso eficiente de ferramentas de financiamento inovadoras e reformas na arquitetura de financiamento da segurança alimentar e nutrição.

Em uma mensagem de vídeo para o lançamento do relatório "O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024", o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, disse que o relatório contém duas mensagens importantes.

"A primeira é que a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição continuam sendo uma crise global", o que significa que a meta mundial de fome zero ‘está fora do caminho’, e a segunda mensagem é que ‘podemos resolver essa crise’, disse Guterres.

"E o financiamento é a chave", disse ele, pedindo justiça para ajudar os países duramente atingidos a investir em sistemas alimentares resilientes, inovadores e sustentáveis, para garantir o acesso a financiamento concessional de curto e longo prazo, investimentos, apoio orçamentário e alívio da dívida, e para reformar a arquitetura financeira global, para que os países em desenvolvimento sejam mais bem representados e possam ter acesso a financiamento adequado para atingir suas metas.

"A fome não tem lugar no século 21", enfatizou o chefe da ONU, observando que o mundo de fome zero previsto pelo ODS 2 não é apenas necessário, mas também alcançável.