Foto tirada em 26 de julho de 2024 mostra uma vista interna de uma fábrica de açúcar em Flacq, em Maurício. (Xinhua/Ling Xin)

Porto Luís, 17 ago (Xinhua) -- "Maurício foi feito primeiro, e depois o céu; e o céu foi copiado depois de Maurício". Essas palavras do escritor americano Mark Twain tornaram Maurício famoso por seu cenário paradisíaco. No entanto, pouco se sabe sobre seu outro apelido: Ilha Doce.

O nome "Ilha Doce" vem da cultura mais importante da ilha, a cana-de-açúcar. Na época de sua independência, na década de 1960, 90% das terras aráveis de Maurício eram dedicadas ao cultivo de cana-de-açúcar, e o setor açucareiro chegou a gerar quase um terço do produto interno bruto (PIB) do país e mais de 90% do total de suas exportações.

Nos últimos anos, a cooperação entre a China e Maurício está crescendo graças ao Acordo de Livre Comércio (ALC) entre os dois países. Na verdade, a Ilha Doce está de olho no mercado chinês para revitalizar seu setor de açúcar.

O setor de açúcar desempenha um papel importante na economia local e no desenvolvimento social de Maurício. "A manutenção da sustentabilidade do setor de cana-de-açúcar é crucial para Maurício", disse o diretor executivo do Sindicato do Açúcar de Maurício (MSS, na sigla em inglês), Devesh Dukhira.

Dukhira disse que o açúcar ainda representa cerca de 15% do total de exportações do país e que, juntamente com os subprodutos bagaço e melaço, o setor contribui com mais de 2% do produto interno bruto (PIB), sem mencionar seu impacto positivo sobre o meio ambiente, incluindo a prevenção da erosão do solo e, portanto, a preservação de suas lagoas.

No entanto, desde a virada do século, o setor açucareiro mauriciano tem enfrentado sérios desafios, especialmente com a abolição dos preços garantidos em 2009 sob o extinto Protocolo do Açúcar da União Europeia (UE) no mercado europeu, que já foi o principal destino do açúcar mauriciano. Como posteriormente ficou exposta à volatilidade e à distorção dos preços do mercado mundial, a receita do açúcar infelizmente se tornou imprevisível, o que resultou em um aumento da taxa de abandono de terras.

"Maurício é uma ilha pequena e isolada, portanto, o frete leva muito tempo e dinheiro para ir à Europa e até mesmo à Ásia. E com o aumento do preço do frete, está ficando ainda mais difícil enviar os contêineres para o mercado mundial", disse Gunness Bhuruth, cuja família se dedica ao cultivo de cana-de-açúcar há gerações.

"Havia agricultores que preferiam deixar suas terras em pousio em vez de continuar a cultivar cana-de-açúcar", disse ele.

Em janeiro de 2021, entrou em vigor um acordo de livre comércio entre a China e Maurício. Como o primeiro do gênero entre a China e um país africano, o acordo comercial provou ser um divisor de águas, pois estabeleceu uma cota tarifária específica para o açúcar mauriciano, fazendo com que o volume de exportação para a China aumentasse para mais de 13.000 toneladas naquele ano.

"Como uma ilha pequena, a quantidade de nossa produção de açúcar é limitada. Portanto, temos que nos diferenciar dos fornecedores globais. Temos que nos concentrar na qualidade do nosso açúcar", disse Bhuruth.

Dukhira enfatizou que a estratégia de marketing é "complementar e não substituir" o açúcar que está sendo produzido na China. "A comercialização do açúcar de Maurício foi atribuída à COFCO (China Oil and FoodStuffs Corporation), que, apesar de ser produtora de açúcar, concentra-se nos atributos especiais desse açúcar especial saudável de alto valor agregado para garantir uma posição duradoura em segmentos de nicho de mercado na China, como supermercados de varejo de alto padrão, no setor de bufê e entre usuários industriais específicos, como padarias", disse ele. "O principal fator de diferenciação seriam as características de ausência de aditivos."

Os açúcares especiais de Maurício são amplamente conhecidos pela intensidade natural de seus aromas e sabores, e são ricos em antioxidantes e minerais, de acordo com o site do Sindicato do Açúcar de Maurício, uma organização sem fins lucrativos criada em 1919 que se concentra na promoção das vendas de açúcar de Maurício antes de distribuir a receita líquida para os produtores locais.

Em outubro de 2023, a COFCO alocou um estande especial para os açúcares especiais de Maurício na Feira de Alimentos e Bebidas da China em Shenzhen, China. "Estamos no caminho certo", disse Dukhira. "Contamos muito com esse ALC e com o apoio da COFCO para atingir nossa meta de vendas na China, que deve se tornar, em um futuro próximo, um dos destinos de exportação mais importantes para o açúcar de Maurício."

Gregory Bathfield, CEO da Alteo Milling, a maior usina de açúcar de Maurício, expressou esperança em um futuro brilhante. "Temos esperança de que todos os benefícios possam se materializar nos próximos anos. Seria uma grande conquista e traria mais remuneração para todas as partes interessadas", disse Bathfield. 

Agricultores colhem cana-de-açúcar em Flacq, em Maurício, em 24 de julho de 2024. (Xinhua/Ling Xin)

Funcionário opera uma máquina de colheita em um canavial em Flacq, em Maurício, em 24 de julho de 2024. (Xinhua/Zeng Tao)

Funcionários trabalham em uma fábrica de açúcar em Flacq, Maurício, em 24 de julho de 2024. (Xinhua/Ling Xin)

Agricultores colhem cana-de-açúcar em Flacq, Maurício, em 24 de julho de 2024. (Xinhua/Ling Xin)

Gunness Bhuruth é fotografado no campo de cana-de-açúcar de sua família em Flacq, em Maurício, em 24 de julho de 2024. (Xinhua/Ling Xin)

Gunness Bhuruth (e) e seu pai trabalham no canavial de sua família em Flacq, em Maurício, em 24 de julho de 2024. (Xinhua/Ling Xin)

Gunness Bhuruth (e) e seu pai trabalham no canavial de sua família em Flacq, em Maurício, em 24 de julho de 2024. (Xinhua/Ling Xin)