Opinião: Crise no Oriente Médio - entenda os alinhamentos regionais-Xinhua

Opinião: Crise no Oriente Médio - entenda os alinhamentos regionais

2024-08-31 13:14:05丨portuguese.xinhuanet.com

Palestinos verificam um prédio destruído por aviões de guerra israelenses no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 28 de agosto de 2024. (Foto por Mahmoud Zaki/Xinhua)

A crise em curso em Gaza aumentou à medida que o conflito se espalhou para os países vizinhos, levando o conflito a novas arenas e círculos. Isso inflamou ainda mais a região, intensificou o conflito e aumentou a escala dos alinhamentos internacionais e regionais.

Por Rania Aboelkheir

A situação que se desenrola atualmente no Oriente Médio, após os eventos de 7 de outubro de 2023 e a agressão israelense à Faixa de Gaza, não é inédita nem provavelmente será a última.

Isso fez com que a causa palestina voltasse à estaca zero e mergulhasse toda a região em uma crise complexa e entrelaçada.

A crise aumentou à medida que o conflito se alastrou para os países vizinhos, espalhando o conflito para novas arenas e círculos. Isso inflamou ainda mais a região, intensificou o conflito e aumentou a escala dos alinhamentos internacionais e regionais.

A escalada se tornou particularmente grave após o assassinato do líder do Hezbollah libanês, Fouad Shokor, e do chefe do Politburo do Hamas palestino, Ismail Haniyeh.

Esses eventos agravaram a situação, ameaçando a segurança regional e atraindo intervenções internacionais de atores já envolvidos nas complexidades da região.

O Oriente Médio está agora dividido em três alinhamentos principais, cada um deles entrelaçado e sobreposto aos outros.

A partir dessa perspectiva, um mapa dos alinhamentos da região pode ser desenhado em torno de três orientações principais, cada uma abrangendo seus atores internos, atores regionais diretos e apoiadores internacionais. Esses alinhamentos são os seguintes:

A primeira orientação, conhecida como eixo de resistência ou rejeição, inclui organizações palestinas e libanesas que se recusam a negociar com Israel e defendem o uso da força para resolver os problemas da região.

Na vanguarda desses atores estão o Hamas e a Jihad Islâmica, juntamente com outras facções palestinas, o Hezbollah libanês, alguns grupos iraquianos e sírios e entidades alinhadas em alguns estados árabes, incluindo o movimento Houthi no Iêmen.

Essa orientação é apoiada por alguns atores regionais e também por atores internacionais. Entretanto, o nível de apoio dos atores internacionais e regionais varia. O apoio internacional se limita principalmente ao apoio político e diplomático em fóruns internacionais e regionais, sem se estender à ajuda militar ou financeira, exceto na forma de assistência humanitária.

Foto tirada em 20 de agosto de 2024 mostra edifícios destruídos na Faixa de Gaza, vistos da fronteira sul de Israel com a Faixa de Gaza. (Foto por Gil Cohen Magen/Xinhua)

A segunda orientação envolve grupos que aumentam a violência e usam a força contra os defensores da primeira postura, ampliando o conflito e mergulhando a região em crises mais profundas, ao mesmo tempo em que rejeitam a legitimidade internacional.

A política de Israel de assassinar líderes políticos e de segurança, seus repetidos ataques ao povo palestino e suas violações do território libanês, bem como sua recente violação da soberania iraniana ao assassinar o chefe do escritório político do Hamas, Ismail Haniyeh, exemplificam essa orientação.

Essa postura é fortemente apoiada pelos Estados Unidos, que prometeram total apoio político, econômico e de segurança a Israel. Além disso, alguns países europeus veem as ações de Israel como legítima autodefesa e oferecem seu apoio nesse sentido.

No entanto, essa orientação não obteve o apoio regional dos países do Oriente Médio, que se opõem à política dos EUA e a consideram tendenciosa, prejudicando seu papel de mediador justo no processo de paz.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu se reúne com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Jerusalém, em 1º de maio de 2024. (Haim Zach/GPO/Divulgação via Xinhua)

A terceira orientação rejeita a escalada na região, defendendo a contenção de ambos os lados, a adesão à legitimidade internacional e o respeito à Carta das Nações Unidas, que enfatiza a resolução de conflitos por meio de negociações pacíficas em vez de força ou agressão.

Os defensores dessa orientação acreditam que a negociação é a maneira mais eficaz de resolver a crise da região. Eles propõem a expansão de áreas de cooperação mútua para integrar todas as partes em estruturas econômicas, políticas e de desenvolvimento, com o objetivo de desmantelar a crença de longa data de que o conflito é inevitável.

Essa orientação é representada na Palestina pela Autoridade Palestina, que assinou um tratado de paz com Israel, embora grande parte dele ainda não tenha sido implementado.

Essa postura é apoiada por todos os países árabes, conforme refletido na Iniciativa de Paz Árabe proposta em 2003.

O Egito e o Catar desempenharam um papel significativo nessa orientação, se envolvendo em esforços diplomáticos para estabilizar a situação e evitar uma guerra mais ampla e devastadora em toda a região.

Internacionalmente, essa abordagem é apoiada pela China e por alguns países asiáticos e latino-americanos.

O papel da China em facilitar a reconciliação palestina ressalta o compromisso do país com uma abordagem pacífica baseada na construção de acordos compartilhados e na resolução de problemas por meio de negociações.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, que também é membro do Birô Político do Comitê Central do PCCh, participa da cerimônia de encerramento de um diálogo de reconciliação entre as facções palestinas e testemunha a assinatura de uma declaração sobre o fim da divisão e o fortalecimento da unidade por 14 facções palestinas, em Beijing, capital da China, em 23 de julho de 2024. (Xinhua/Zhai Jianlan)

Em resumo, o Oriente Médio está pronto para múltiplas trajetórias e desenvolvimentos em relação ao seu futuro, dependendo de como a crise atual se desenrolar, com suas implicações para todas as partes envolvidas.

Espera-se que o impacto se estenda à evolução do sistema internacional, que permanece em fluxo.

Assim como a Segunda Guerra do Golfo, na década de 1990, marcou um ponto de virada de um sistema internacional bipolar para um unipolar, os eventos atuais na região provavelmente influenciarão a futura ordem mundial. Essa transformação foi prenunciada por indicadores anteriores.

O momento atual é repleto de incertezas, entre a possibilidade de uma chuva suave ou de um dilúvio que poderia remodelar drasticamente a região. Embora a esperança de maior estabilidade e calma permaneça, esse é um cenário improvável; o resultado mais provável é mais caos e desintegração.

Essa situação precária ressalta a necessidade urgente de intensificar os esforços internacionais para promover a paz e o diálogo, com o objetivo de reduzir as tensões crescentes que ameaçam a paz e a segurança globais.

O papel desempenhado pela China na reconciliação anterior entre a Arábia Saudita e o Irã e nas recentes reconciliações palestinas serve como um modelo vital para promover a paz, o diálogo e a negociação como base para a construção de um futuro compartilhado para a humanidade.

Nota do editor: Rania Aboelkheir é secretária-geral do think tank egípcio Fórum Global de Estudos do Futuro.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade da autora e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.

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