Foto de drone tirada em 22 de agosto de 2024 mostra vista do terminal de contêineres do Porto de Rizhao em Rizhao, província de Shandong, no leste da China. (Xinhua/Guo Xulei)
Nota da edição: “Despejando excesso de capacidade nos mercados globais”, “o tempo lixo da história”, “mal-estar econômico engordando as pessoas”... Um monte de conceitos recém-criados ou observações não convencionais sobre a segunda maior economia do mundo foram amplamente divulgados, desencadeando medo, confusão e pessimismo. Eles são logicamente sólidos, fundamentados e realmente preditivos do futuro, ou apenas exagero baseado em percepção equivocada ou até deliberada depreciação por preconceito enraizado? Nesta semana, a Xinhua está divulgando uma série de três comentários econômicos sobre isso, e abaixo segue o primeiro deles.
Beijing, 2 out (Xinhua) -- Não é segredo que o comércio global prospera com superávits resultantes de países produzindo além da demanda doméstica, e ainda assim o termo “excesso de capacidade” tem sido ultimamente usado como alternativa desagradável a “excedente” para ajudar a alimentar a narrativa do medo espalhada por alguns no Ocidente sobre o poder de fabricação da China.
Esse medo tem sido usado para justificar várias ações protecionistas, como os recentes aumentos de tarifas dos EUA sobre algumas importações chinesas, o apelo de Janet Yellen ao G7 para combater as exportações chinesas e a pressão da Comissão Europeia para a disputada investigação antissubsídios em veículos elétricos (EVs) chineses.
Retratando a capacidade de fabricação da China como um risco global, essa narrativa é uma variante da retórica da “ameaça da China”, que cresce no viveiro da ansiedade do Ocidente, ou provavelmente medo, devido à ascensão da fabricação da China.
De uma base de fabricação de baixo custo para a maior potência de fabricação do mundo e um líder emergente em indústrias avançadas e inovação, a rápida ascensão da China incomodou alguns países ocidentais, que a percebem como um desafio intolerável ao domínio industrial e comercial.
Responder à proeza de fabricação da China com essa apreensão parece hipocrisia e também ignora a economia básica. A capacidade de produção da China aparentemente não era um problema em um momento em que muitas corporações ocidentais capitalizaram as capacidades de produção de baixo custo do fabricante de equipamento original (OEM, na sigla em inglês) do país.
Não foi um problema quando a superioridade ocidental foi destacada pela China precisar vender um bilhão de pares de meias para comprar um avião Boeing, nem quando as habilidades de produção de peças de reposição da China ajudaram a impulsionar as vendas mundiais de produtos de alto valor agregado, como os iPhones da Apple.
Agora, no entanto, muitos no Ocidente estão vendo o motor de fabricação da China com um olhar crítico, particularmente no setor de EVs, onde o domínio ocidental foi amplamente perdido.
O setor de EVs da China exportou cerca de 12,5% de sua produção no ano passado. Ver esse número como um potencial “choque de oferta” é claramente uma falácia e cria forte suspeita de padrões duplos por parte do Ocidente. Seguindo essa lógica, os Estados Unidos, que vendem cerca de 80% de seus chips no exterior, e a Alemanha, que exporta cerca de 80% de seus carros, por exemplo, estariam causando “terremotos de oferta”.
A realidade é que o setor de veículos elétricos da China não é um choque, mas sim uma oportunidade da qual o mundo, incluindo o Ocidente, pode se beneficiar pois será um grande impulso para a luta global contra as mudanças climáticas.
No centro da reação do Ocidente está o desespero de políticos interessados em desviar a atenção pública para um inimigo externo imaginário, em uma tentativa de esconder a incompetência em lidar com desafios domésticos enraizados.
Esses políticos em apuros também buscam aliados na tentativa de enganar o mundo com uma narrativa hipócrita, que eles esperam que facilite justificar as barreiras tarifárias e não tarifárias. Uma lição amarga da década de 1930: quando os Estados Unidos promulgaram a Lei Tarifária de 1930 para proteger suas indústrias, apenas para desencadear uma guerra tarifária e arrastar a economia mundial para uma recessão ainda pior.
Esse fantasma do passado poderia retornar para nos assombrar, desviando a trajetória atual da recuperação econômica global, a menos que haja uma séria verificação da realidade para confirmar o que beneficia o mundo, especialmente a vasta maioria dos países em desenvolvimento.
A China é apenas um dos muitos países em desenvolvimento que querem alcançar a modernização e buscar a atualização tecnológica. Com alguns países em desenvolvimento ainda nos estágios iniciais do desenvolvimento industrial, os produtos e as tecnologias chineses estão longe de ser ameaças, mas catalisadores essenciais para as atualizações de consumo e decolagens industriais.
Não há razão para o Ocidente espalhar receio para esses países, nem os pressionar a escolher lado por meio de coerção diplomática e econômica.
Um vínculo mais próximo nunca vem desse tipo de relacionamento, mas flui de um comércio igualitário impulsionado pela demanda do mercado e vantagens comparativas. Ao exportar a maior parcela do mundo de bens intermediários por 12 anos consecutivos, como células para a produção de baterias de lítio e tiras de cobre estanhado para painéis fotovoltaicos, a China viu sua capacidade de produção intimamente integrada com o resto do mundo, dando um impulso significativo à manufatura no Sudeste Asiático, Oriente Médio, América Latina e, em particular, países participantes do Cinturão e Rota.
Aqueles programados para demonizar a indústria de manufatura da China e amplificar narrativas de confronto comercial ignoraram o fato essencial de que a capacidade de manufatura da China virou um trunfo para os mercados globais, à medida que empregos foram adicionados e a transferência tecnológica acelerada graças ao desenvolvimento da China.
Outro cálculo dos alarmistas ocidentais pode ser a suposição de que, ao manipular a opinião global, eles podem forçar a China a mudar o curso de desenvolvimento, ou pelo menos impedir seu crescimento robusto em termos de inovação e economia.
No entanto, a China tem todo o direito de buscar o avanço industrial, o que de fato é uma estratégia básica do país, pois busca a modernização por meio do desenvolvimento de alta qualidade.
Além disso, o desenvolvimento da China sempre está enraizado na busca do que beneficia o mundo inteiro. Depois de fazer muitos esforços para promover a produção verde por meio de competição aberta e planejamento industrial de longo prazo, a China assumiu um papel de liderança no desenvolvimento da descarbonização e tecnologias verdes, ultrapassando em muito a maioria do mundo no processo.
Como o fornecimento global de novos produtos energéticos fica muito aquém da demanda global necessária para atender às metas de resposta climática, dificilmente se espera que a China deixe seu motor de transição verde irresponsavelmente ocioso apenas para apaziguar alguns críticos ocidentais.
Ironicamente, o Ocidente está mais ou menos copiando a estratégia de desenvolvimento e as políticas industriais da China, conforme refletido pela Lei de Redução da Inflação dos Estados Unidos e pelo Lei Europeia de Chips, embora permaneça em questão o quão eficazes suas políticas serão quando a teoria realmente chegar à prática.
Uma marca registrada notável das políticas industriais em evolução da China é sua abertura e prática de não discriminação. No entanto, alguns políticos ocidentais com objetivos geopolíticos estreitos continuam alardeando “desacoplamento” e “redução de riscos”, apesar das amplas provas de que não existem riscos. Quando a versão de 2024 da lista negativa para acesso a investimentos estrangeiros entrar em vigor em 1º de novembro, o setor de manufatura da China estará totalmente aberto a investidores estrangeiros.
Essa mudança pode significar uma competição mais acirrada. Mas o protecionismo, uma política comprovada pela história como venenosa, nunca foi uma opção para a China. Se alguns no Ocidente insistirem em alavancar medos para impulsionar fortunas industriais e nacionais, eles podem descobrir que acabarão no lado errado da história. Lições do passado sugerem fortemente que encorajar uma competição aberta e justa é uma opção mais sábia e viável.