Foto tirada no dia 4 de outubro de 2024 mostra o prédio da Comissão Europeia em Bruxelas, Bélgica. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
"Em última análise, as tarifas não ajudarão ninguém, apenas prejudicarão os consumidores europeus, que sairão perdendo, bem como os próprios países", disse Hrvoje Prpic, presidente da Associação Croata de Motoristas de Veículos Elétricos.
Bruxelas, 5 out (Xinhua) -- Os países europeus e os líderes da indústria automobilística criticaram a pressão da UE por tarifas punitivas sobre os veículos elétricos (EVs, na sigla em inglês) chineses, alertando que a medida poderia ser um bumerangue e, por sua vez, prejudicar a competitividade da UE.
Embora a Comissão Europeia tenha dito que garantiu o apoio necessário dos Estados-membros, 12 membros da UE se abstiveram e cinco votaram contra a decisão. Enquanto isso, a Comissão também pediu aos dois lados que explorassem uma solução alternativa.
OPOSIÇÃO DOS ESTADOS-MEMBROS
O maior protesto contra a tarifa veio da Alemanha.
"As tarifas sobre os carros elétricos chineses seriam erradas... Temos que falar claramente e negociar com a China - mas as guerras comerciais só têm perdedores", disse na quinta-feira o ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, no X, antigo Twitter, na esteira do apelo do chanceler Olaf Scholz para a continuidade das negociações com a China na quarta-feira.
Fazendo eco a essas preocupações, a Hungria votou contra a imposição. "O que eles estão nos obrigando a fazer agora, ou o que a UE quer fazer, é uma Guerra Fria econômica", disse o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, à rádio estatal em uma entrevista na sexta-feira, referindo-se às tarifas propostas pela UE.
Matjaž Han, ministro da economia, turismo e esporte da Eslovênia, também se manifestou contra as tarifas, alertando para um "preço muito alto" para a Europa. Em vez disso, ele defendeu uma cooperação econômica e comercial mais prática entre a UE e a China.
A Finlândia se absteve na votação de sexta-feira. Jukka Kuurma, um alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores da Finlândia, disse à mídia local que não havia provas suficientes dos danos causados à UE pelo "suposto" apoio estatal chinês à indústria de veículos elétricos. "Não estamos convencidos de que as tarifas de importação seriam do interesse geral da União", disse Kuurma.
A Espanha também estava entre os países que se abstiveram da votação. O ministro da Economia, Comércio e Negócios da Espanha, Carlos Cuerpo, disse que a decisão de se abster foi para manter a negociação com a China aberta e encontrar uma solução negociada.
PROTESTOS DO SETOR
O anúncio da Comissão sobre as polêmicas tarifas provocou protestos do setor automotivo europeu. Eles alertaram que a medida pode prejudicar a competitividade das montadoras locais e minar os interesses dos consumidores.
Em um comunicado divulgado na sexta-feira, Hildegard Müller, presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva, descreveu a votação como mais um passo em direção ao afastamento da cooperação global.
A gigante automobilística alemã Volkswagen também emitiu uma declaração, pedindo uma solução negociada. As tarifas planejadas, segundo ela, são a abordagem errada e não melhorariam a competitividade da indústria automobilística europeia.
"A votação de hoje é um sinal fatal para a indústria automotiva europeia", disse o CEO da BMW, Oliver Zipse, à mídia local. "Agora é necessária uma solução rápida entre a Comissão Europeia e a China para evitar um conflito comercial que, em última análise, só terá perdedores."
Foto tirada no dia 4 de outubro de 2024 mostra o prédio da Comissão Europeia em Bruxelas, Bélgica. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
A Mercedes também se preocupou com seus efeitos negativos sobre o setor. "Estamos convencidos de que as tarifas punitivas pioram a competitividade de um setor a longo prazo", disse uma porta-voz citada pela agência de notícias alemã DPA.
Além de prejudicar a competitividade, os membros do setor também acreditam que as tarifas podem prejudicar os interesses dos consumidores europeus.
"Em última análise, as tarifas não ajudarão ninguém, apenas prejudicarão os consumidores europeus, que sairão perdendo, bem como os próprios países", disse Hrvoje Prpic, presidente da Associação Croata de Motoristas de Veículos Elétricos.
APELO À NEGOCIAÇÃO
Após o anúncio da UE, a Câmara de Comércio da China para a UE (CCCEU, na sigla em inglês) expressou profunda decepção e forte insatisfação com a adoção de medidas comerciais protecionistas pela UE.
"Incentivamos fortemente a UE a abordar as medidas finais com cautela, adiar a implementação dessas tarifas e priorizar a resolução de disputas e tensões comerciais por meio de consultas e diálogo", disse a CCCEU em um comunicado na sexta-feira.
Em uma entrevista após a votação da UE, Holger Görg, diretor do Centro Kiel para a Globalização, disse à Xinhua que esperava que ambos os lados mantivessem a cabeça fria e permanecessem na mesa de negociações, já que as negociações entre a China e a UE ainda estão em andamento.
Em uma declaração conjunta, o maior sindicato da Alemanha, o IG Metall, e os conselhos de trabalhadores dos principais fabricantes de automóveis da Alemanha propuseram um regime alternativo de comércio e apoio orientado para a redução das emissões de CO2 que se aplica igualmente a todos os fabricantes.
"Tendo em vista as perspectivas futuras de centenas de milhares de funcionários das montadoras alemãs e de seus fornecedores, afirmamos inequivocamente: as tarifas são a abordagem errada...", afirmou.