Desvendando o papel dos EUA na escalada do conflito em Gaza-Xinhua

Desvendando o papel dos EUA na escalada do conflito em Gaza

2024-10-09 13:51:29丨portuguese.xinhuanet.com

Fumaça se espalha após ataques aéreos israelenses na cidade de Adaisseh, no Líbano, em 5 de outubro de 2024. (Foto por Taher Abu Hamdan/Xinhua)

Os Estados Unidos desempenharam um papel significativo e insubstituível na continuação e escalada das hostilidades no Oriente Médio, disseram os analistas.

Cairo, 7 out (Xinhua) -- Os Estados Unidos têm frequentemente empregado manobras políticas para ganhar crédito por seu papel no cenário geopolítico do Oriente Médio.

Em julho de 2022, antes de uma visita à região, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou com orgulho em um artigo de opinião do jornal The Washington Post que "o Oriente Médio que visitarei é mais estável e seguro do que aquele que meu governo herdou há 18 meses", atribuindo um Oriente Médio mais estável a "um papel de liderança vital" desempenhado pelos Estados Unidos.

Em outubro de 2023, apenas uma semana antes do último surto de conflito entre o Hamas e Israel, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, declarou, em um artigo intitulado "As Fontes do Poder Americano" na revista Foreign Affairs, que o Oriente Médio "está mais calmo do que esteve por décadas".

Entretanto, com as reivindicações de crédito também vem o ônus da responsabilidade. Diante do conflito em curso em Gaza, que já ultrapassou um ano e está levando o Oriente Médio à beira de uma guerra em grande escala, é fundamental examinar o papel e as responsabilidades que os Estados Unidos têm na deterioração dessa situação.

Os analistas argumentam que os Estados Unidos desempenharam um papel significativo e insubstituível na continuação e escalada das hostilidades. Isso é evidenciado pelo uso repetido de seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para bloquear as resoluções que pedem o cessar-fogo em Gaza. Além disso, o fornecimento contínuo de armas a Israel pelos Estados Unidos contribuiu ainda mais para a intensificação do conflito.

Palestinos são vistos em uma rua entre prédios destruídos por ataques israelenses na cidade de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, em 6 de outubro de 2024. (Foto por Mahmoud Zaki/Xinhua)

CONFLITO CRESCENTE

Durante todo o ano do prolongado conflito em Gaza, os Estados Unidos expressaram consistentemente sua determinação em evitar a escalada do conflito em todo o Oriente Médio.

Apenas quatro dias após o início das hostilidades entre o Hamas e Israel, em 7 de outubro de 2023, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, embarcou em uma viagem urgente ao Oriente Médio com o objetivo declarado de "ajudar a evitar que o conflito se espalhe".

Nos meses seguintes, Blinken fez mais nove visitas à região. Além disso, o presidente dos EUA, juntamente com outras autoridades de alto escalão, como o Secretário de Defesa e o Diretor da CIA, também fez visitas frequentes à região ao longo do ano, todas com intenções e objetivos semelhantes.

Apesar das frequentes visitas de autoridades dos EUA e de sua determinação declarada em conter o conflito, o conflito em Gaza persiste, com o número de mortos ultrapassando constantemente o de guerras anteriores no Oriente Médio. Isso ressalta uma crise cada vez mais profunda que se tornou uma das revoltas mais significativas na região nas últimas décadas.

O conflito em Gaza já resultou na trágica perda de mais de 41.800 vidas palestinas, e o número de feridos chegou a impressionantes 96.000. As Nações Unidas informam que aproximadamente 90% da população, ou 1,9 milhão de pessoas, na Faixa de Gaza estão deslocadas internamente. É preocupante o fato de que muitos indivíduos sofreram deslocamentos repetidos, sendo que alguns foram deslocados 10 vezes ou mais.

Em meio ao sofrimento duradouro enfrentado pela população palestina, as chamas da discórdia também se espalharam por todo o Oriente Médio.

No Líbano, ocorreram confrontos entre as tropas israelenses e o Hezbollah, aumentando as tensões na região. Além disso, o Irã e Israel se encontram presos em um perigoso ciclo de vingança. Além disso, os Houthis no Iêmen, bem como várias facções militantes no Iraque e na Síria, também se envolveram nas crescentes hostilidades com Israel.

"À medida que a violência se intensifica no Oriente Médio, a região se encontra no precipício de um conflito armado em toda a região", afirmou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha no X, alertando para uma crise humanitária iminente.

Aparentemente, a determinação dos EUA não reduziu efetivamente a escalada do conflito.

O governo dos EUA está "mentindo" quando fala persistentemente sobre a possibilidade de resolver a situação e evitar a escalada do conflito, de acordo com Ashraf al-Ajrami, um especialista palestino baseado em Ramala.

Pessoas choram as vítimas mortas em um ataque aéreo israelense durante um funeral no campo de refugiados de Tulkarm, no norte da Cisjordânia, em 4 de outubro de 2024. (Foto por Nidal Eshtayeh/Xinhua)

PROMESSAS VAZIAS

Se confiarmos nas declarações do governo dos EUA, parece que um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas já teria sido iminente.

Os Estados Unidos têm defendido ativamente o fim das hostilidades em Gaza desde maio, afirmando descaradamente que as partes relevantes estão "mais perto do que nunca" de chegar a um acordo.

Entretanto, apesar do compromisso público de mediar um cessar-fogo, as ações tomadas pelos Estados Unidos indicam uma história diferente.

Desde o início do conflito, os Estados Unidos usaram seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU quatro vezes, rejeitando resoluções relacionadas ao conflito em Gaza e fazendo ouvidos moucos aos apelos da comunidade internacional por um cessar-fogo imediato. Além disso, os Estados Unidos têm apoiado abertamente as ações militares de Israel contra o Irã e o Líbano.

Osama Hamdan, porta-voz do Hamas, acusou os Estados Unidos de "meramente ganhar tempo para Israel continuar seu genocídio" ao fazer promessas vazias sobre um acordo de cessar-fogo.

Para amenizar o descontentamento internacional em relação à sua suposta conivência com Israel, os Estados Unidos não ignoraram completamente a catástrofe humanitária que se desenrola em Gaza. Desde o início do conflito, Washington canalizou centenas de milhões de dólares em ajuda humanitária para a região. No entanto, essa assistência ainda é insignificante em comparação com os impressionantes US$ 8,7 bilhões em ajuda militar fornecida a Israel.

Em meio à barragem implacável de bombas fabricadas pelos EUA, os palestinos desabrigados em Gaza são forçados a lutar para conseguir os escassos pedaços de pão. O apoio incondicional dos EUA, aliado ao fracasso de Washington em garantir um cessar-fogo em Gaza, encorajou Israel a declarar uma aparente guerra total e levou a região à beira do abismo, disse Elgindy, membro sênior do Instituto do Médio Oriente, um think tank com sede nos EUA.

IMAGEM DOS EUA ABALADA

A resposta desanimadora dos Estados Unidos ao conflito entre o Hamas e Israel prejudicou significativamente sua posição internacional no Oriente Médio.

Uma pesquisa realizada no início deste ano pelo Centro Árabe de Washington D.C. em 16 países do Oriente Médio revelou que 76% dos entrevistados agora veem o papel dos Estados Unidos no mundo árabe de forma mais negativa.

A resolução genuína de conflitos regionais exige que os países, incluindo a Palestina, "desfrutem de direitos iguais de estado, soberania e segurança", disse Rami G. Khouri, um ilustre membro da Universidade Americana de Beirute, em um artigo no site da Al Jazeera.

"Os Estados Unidos e Israel falam palavras vagas nesse sentido, mas agem de forma a impedir uma paz séria e promovem conflitos militares eternos", apontou Khouri.

Khouri foi repetido por Juan Cole, professor de história da Universidade de Michigan, que disse que a administração dos EUA permitiu que o governo israelense "desconsiderasse completamente o direito internacional no que diz respeito ao tratamento dado aos palestinos".

"Resumindo, os ligamentos da influência americana no Oriente Médio estão agora se dissolvendo diante de nossos olhos", acrescentou Cole em um artigo de opinião publicado na revista The Nation.

O jornal The New York Times foi ainda mais direto em sua avaliação do papel de Washington no conflito de Gaza, afirmando sem rodeios que o impacto dos EUA na resolução da crise foi "zero". O artigo criticou ainda mais a política de Biden para o Oriente Médio, afirmando que "um ano após os ataques terroristas de 7 de outubro, a política de Biden para o Oriente Médio parece ser um fracasso prático e moral".

Fale conosco. Envie dúvidas, críticas ou sugestões para a nossa equipe através dos contatos abaixo:

Telefone: 0086-10-8805-0795

Email: portuguese@xinhuanet.com