
Capitólio americano é visto em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 6 de fevereiro de 2024. (Foto por Aaron Schwartz/Xinhua)
Embora os Estados Unidos tenham justificado a medida de que o aumento das tarifas sobre alumínio e aço é necessário para proteger as indústrias nacionais, os países a condenaram como protecionista e estão se preparando para contramedidas.
Washington, 11 fev (Xinhua) -- O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou na segunda-feira proclamações para aumentar as tarifas sobre alumínio de 10% para 25% e encerrou cotas de isenção de impostos, isenções e exclusões para tarifas de aço e alumínio.
"É uma grande medida. É o começo de tornar a América rica novamente", disse Trump ao assinar as proclamações no Salão Oval. "É hora de nossas grandes indústrias retornarem à América".
A decisão causou pressão na economia global, provocando respostas rápidas e variadas dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos. Enquanto os Estados Unidos justificaram a medida como necessária para proteger as indústrias nacionais, os países a condenaram como protecionista e estão se preparando para contramedidas.

Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, (esquerda) e o ministro da Economia mexicano, Marcelo Ebrard, participam de coletiva de imprensa matinal no Palácio Nacional na Cidade do México, capital do México, no dia 3 de fevereiro de 2025. (Foto por Francisco Canedo/Xinhua)
QUEM SÃO OS ALVOS?
As tarifas serão aplicadas a milhões de toneladas de importações de aço e alumínio do Canadá, do Brasil, do México, da Coreia do Sul e de outros países que entraram nos EUA isentos de impostos sob as exceções. Um funcionário da Casa Branca confirmou que as medidas entrariam em vigor em 4 de março.
De acordo com dados comerciais dos EUA, Canadá e México, ambos já ameaçados por Trump com tarifas, juntamente com o Brasil, são os maiores exportadores de aço para os Estados Unidos. A Coreia do Sul também é um grande fornecedor de aço. Além disso, aproximadamente 25% das exportações de aço europeias são enviadas para os Estados Unidos.
A medida simplificará as tarifas sobre os metais "para que todos entendam o que isso significa", disse Trump. "São 25% sem exceções ou isenções. Isso é para todos os países, não importa qual. Todos os países".
Apesar da alegação contra exceções, logo depois, Trump disse que daria "grande consideração" ao pedido da Austrália por uma isenção às tarifas de aço devido ao déficit comercial do país com os Estados Unidos.
"Na verdade, temos um superávit (na Austrália)", disse Trump aos repórteres. "É um dos únicos países que temos".
Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre as importações de alumínio, citando preocupações com a segurança nacional. Depois, ele permitiu que certos parceiros comerciais, incluindo Canadá, México e Brasil, recebessem cotas isentas de impostos.
Sob o ex-presidente Joe Biden, os Estados Unidos continuaram algumas isenções tarifárias introduzidas por Trump e estenderam novas cotas para a União Europeia (UE), Reino Unido e Japão.
Desde o início de seu segundo mandato, Trump rapidamente lançou várias medidas protecionistas, que foram amplamente contestadas internamente e internacionalmente.
Em 1º de fevereiro, Trump assinou ordens executivas para impor tarifas adicionais de 25% sobre as importações do Canadá e do México e um aumento de 10% nas tarifas sobre as importações da China, atraindo ampla oposição e retaliações imediatas. Mais tarde, ele pausou as tarifas sobre o Canadá e o México por um mês para permitir negociações.

Bandeiras da União Europeia fora do Edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, Bélgica, no dia 29 de janeiro de 2025. (Xinhua/Meng Dingbo)
QUAL A REAÇÃO?
"A UE não vê justificativa para a imposição de tarifas sobre suas exportações. Reagiremos para proteger os interesses das empresas, dos trabalhadores e dos consumidores europeus de medidas injustificadas", disse a Comissão Europeia na segunda-feira.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, disse que a UE reagirá da mesma forma.
"Não hesitamos quando o assunto é defender nossos interesses", disse ele em entrevista à emissora local TF1.
O presidente francês Emmanuel Macron alertou em entrevista à CNN no domingo que estava disposto a "enfrentar" as tarifas com seu homólogo dos EUA, acrescentando que as tarifas não prejudicariam apenas as economias europeias, mas também os Estados Unidos.
"Isso significa que se você colocar tarifas em muitos setores, isso aumentará os custos e criará inflação nos EUA. É isso o que o povo quer? Não acho", disse Macron.
O chanceler alemão Olaf Scholz concordou com a Comissão Europeia na segunda-feira, afirmando que, embora nada seja oficial ainda, "só podemos dizer com grande cautela, mas com clareza: quem impor tarifas deve esperar contratarifas".
Na segunda-feira, o ministro da economia de Scholz, Robert Habeck, disse que a UE estava pronta para responder: "A Europa deve e só pode reagir unida e decisivamente a restrições comerciais. Estamos preparados".
O Canadá está consultando parceiros internacionais e examinando os detalhes das ordens tarifárias de Trump, disse o ministro canadense de Inovação, Ciência e Indústria, Francois-Philippe Champagne, em sua conta de mídia social.
"Nossa resposta será clara e calibrada", escreveu Champagne em um comunicado.
De acordo com a mídia local, a indústria siderúrgica canadense pediu ao governo federal que interviesse com tarifas retaliatórias.
Candace Laing, presidente e CEO da Câmara de Comércio Canadense, disse que Trump estava desestabilizando a economia global.
"As notícias de hoje deixam claro que a incerteza contínua veio para ficar", disse Laing.

Monitor com informações do mercado de ações no pregão da Bolsa de Valores de Nova York em Nova York, Estados Unidos, no dia 3 de fevereiro de 2025. As ações dos EUA fecharam em baixa em 3 de fevereiro, enquanto os investidores reagiam à implementação de tarifas planejada pelo governo de Donald Trump. (Foto por Michael Nagle/Xinhua)
O QUE OS ECONOMISTAS DIZEM?
Enquanto Trump afirma que essas medidas trarão empresas e empregos de volta aos Estados Unidos, economistas disseram que seria o oposto.
"Isso significa que os preços do aço e do alumínio nos EUA serão substancialmente mais altos do que os preços mundiais no futuro previsível. Isso representa um dano para muitas indústrias downstream que usam aço e alumínio. Essas indústrias downstream empregam cerca de 10 vezes mais trabalhadores do que as indústrias de aço e alumínio", disse à Xinhua, Gary Clyde Hufbauer, membro sênior não residente do Instituto Peterson de Economia Internacional.
Um estudo de 2019 publicado pelo Federal Reserve de Nova York (Fed, banco central dos Estados Unidos) mostrou que as tarifas generalizadas de Trump em 2018 sobre aço e alumínio, além de tarifas sobre produtos chineses, e as contramedidas que elas desencadearam levaram à perda de empregos na indústria nos Estados Unidos.
"Obviamente, algumas empresas se beneficiam, mas muitas outras perdem. Desta vez, espero o mesmo resultado, mas pior", disse Hufbauer.
As tarifas carregam riscos de inflação em um momento em que os eleitores já estão cansados dos altos preços e temem que os aumentos de preços ofusquem os ganhos de renda, de acordo com a Associated Press.
Ao assinar as proclamações, Trump disse que seu governo estava avaliando as chamadas "tarifas recíprocas" sobre produtos como chips, carros e produtos farmacêuticos.
Ele alegou que outros países tiraram vantagem dos Estados Unidos no comércio por muitos anos com suas próprias tarifas e que os Estados Unidos precisavam aumentar suas tarifas para o mesmo nível.
"‘Justiça’ está nos olhos de quem vê, mas a questão mais fundamental é se os Estados Unidos se beneficiam com essas novas tarifas", disse Benn Steil, diretor de economia internacional do Council on Foreign Relations, um think tank sediado em Nova York, citado pela AP.
"Os custos para os Estados Unidos incluirão preços mais altos para os consumidores dos EUA, tarifas retaliatórias no exterior e a perda de empregos e competitividade nos EUA em empresas atingidas por custos de insumos mais altos", disse Steil.
Como as tarifas impostas por motivos de segurança nacional não podem ser contestadas legalmente na Organização Mundial do Comércio, outros países já seguiram a abordagem de Trump para aumentar as barreiras comerciais, acrescentou Steil.

