* Enquanto o governo Trump argumenta que essas tarifas são necessárias para proteger as indústrias dos EUA, repatriar a manufatura e reduzir déficits, a decisão recebeu duras críticas de economistas, especialistas em comércio e governos estrangeiros.
* Na quarta-feira, os futuros do S&P 500 caíram 3%, sugerindo que os investidores esperam perdas profundas quando Wall Street abrir na quinta-feira. Outros mercados de ações ao redor do mundo e os rendimentos dos títulos do tesouro também caíram.
* A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, expressou profundo pesar na quinta-feira sobre a medida dos EUA, alertando que o impacto pode ser devastador.
* O último movimento de Trump não é meramente um erro de cálculo econômico, mas uma tentativa desesperada de resolver as contradições internas do capitalismo por meio de intervenção estatal coercitiva, disse Busani Ngcaweni, pesquisador sênior associado da Universidade de Joanesburgo.
Presidente dos EUA, Donald Trump, comenta sobre "tarifas recíprocas" no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 2 de abril de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)
Washington, 3 abr (Xinhua) -- O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um novo conjunto de impostos na quarta-feira, impondo uma tarifa básica de 10% sobre as importações de todos os parceiros comerciais e taxas mais altas para alguns.
Essas "tarifas recíprocas" entrarão em vigor em 5 e 9 de abril, respectivamente, um movimento que pode desestabilizar os mercados globais, prejudicar os consumidores dos EUA e minar os esforços para reavivar a cooperação comercial multilateral.
Enquanto o governo Trump argumenta que essas tarifas são necessárias para proteger as indústrias dos EUA, repatriar a manufatura e reduzir déficits, a decisão recebeu duras críticas de economistas, especialistas em comércio e governos estrangeiros. Muitos veem isso como uma tentativa equivocada de usar tarifas como instrumento contundente para lidar com desequilíbrios comerciais complexos.
TARIFAS VARIADAS
Em um movimento decisivo para reformular a política comercial dos EUA, Trump anunciou as tarifas durante um discurso no Rose Garden da Casa Branca. Ele declarou 2 de abril como "Dia da Libertação", dizendo: "Este dia é um dos mais importantes da história americana".
O presidente levantou um gráfico, mostrando que os Estados Unidos cobrariam "tarifas recíprocas" específicas sobre cerca de 60 "piores infratores", incluindo uma taxa de 20% sobre as importações da União Europeia (UE), 25% sobre a Coreia do Sul e 24% sobre o Japão.
Nota de quinhentos pesos mexicanos com notas de cem dólares americanos na Cidade do México, México, no dia 4 de março de 2025. (Xinhua/Li Muzi)
Além disso, uma tarifa de 25% foi imposta a todos os automóveis de fabricação estrangeira. Trump explicou a lógica por trás dessas medidas, dizendo: "Em muitos casos, o amigo é pior do que o inimigo em termos de comércio". E complementou: "Subsidiamos muitos países e os mantemos funcionando e nos negócios. Por que estamos fazendo isso?".
De acordo com a lógica de Trump, essas tarifas são projetadas para neutralizar práticas comerciais injustas percebidas e estimular a fabricação doméstica, tornando os produtos importados mais caros. Trump enquadrou as tarifas como uma estratégia para reavivar a indústria e a produção doméstica dos EUA, instando os governos estrangeiros a "acabar com suas próprias tarifas. Abandonar suas barreiras".
MOVIMENTO AUTODESTRUTIVO
Economistas alertam que as tarifas provavelmente levarão ao aumento dos preços ao consumidor, contribuindo para a inflação.
O laboratório de orçamento da Universidade de Yale estima que as tarifas anunciadas na quarta-feira devem aumentar os preços ao consumidor em aproximadamente 1,3% no curto prazo, custando à família média mais 2.100 dólares. Quando combinado com as tarifas atuais, pode aumentar os preços ao consumidor em 2,3%, levando a uma perda de poder de compra de 3.800 dólares por família.
Além disso, essas tarifas devem prejudicar o crescimento econômico dos EUA no curto e no longo prazo.
Cliente faz compras em loja da Target em Rosemead, Condado de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, no dia 4 de março de 2025. (Foto por Zeng Hui/Xinhua)
Na quarta-feira, os futuros do S&P 500 caíram 3%, sugerindo que os investidores esperam perdas profundas quando Wall Street abrir na quinta-feira. Outros mercados de ações ao redor do mundo e os rendimentos dos títulos do tesouro também caíram.
"Essa onda de protecionismo só produzirá perdedores. As principais vítimas serão os consumidores americanos, que aguentarão o peso dessas tarifas por meio do aumento da inflação e da redução da seleção de produtos", disse Hildegard Mueller, presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva, em comunicado.
Além disso, essas medidas diminuem a pressão competitiva sobre as empresas dos EUA, enfraquecendo seu impulso para a inovação e, por sua vez, sua competitividade internacional no longo prazo, acrescentou Mueller.
REAÇÃO UNIVERSAL
De líderes políticos a associações comerciais, a comunidade internacional expressou críticas, preocupação e cautela em resposta às tarifas dos EUA.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen expressou profundo pesar na quinta-feira sobre a ação dos EUA, alertando que o impacto pode ser devastador.
Em uma declaração, von der Leyen disse que o anúncio de Trump de tarifas universais para o mundo inteiro, incluindo a UE, é um grande golpe para a economia mundial.
"A economia global sofrerá muito", disse ela. "A incerteza aumentará e desencadeará o aumento de mais protecionismo. As consequências serão terríveis para milhões de pessoas ao redor do mundo".
A porta-voz do governo francês, Sophie Primas, disse na quinta-feira que a UE imporá tarifas retaliatórias sobre todos os bens e serviços dos Estados Unidos até o final de abril, pois a UE está pronta para a guerra comercial.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, criticou na quarta-feira à noite a decisão de Trump de impor tarifas à UE, chamando-a de "um erro que não beneficia ninguém".
Ela disse que a Itália vai trabalhar para chegar a um acordo com os Estados Unidos e evitar uma guerra comercial.
"Faremos tudo o que pudermos para chegar a um acordo com os Estados Unidos e evitar uma guerra comercial, o que inevitavelmente enfraqueceria o Ocidente e fortaleceria outros atores globais", disse Meloni.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, faz declaração à imprensa sobre contramedidas da UE às tarifas dos EUA em Estrasburgo, França, no dia 12 de março de 2025. (União Europeia/Divulgação via Xinhua)
Shevaun Haviland, diretora-geral das Câmaras de Comércio Britânicas, disse que ninguém escapará das consequências dessas tarifas, alertando sobre um risco maior de desvio de comércio que causará estragos nas comunidades empresariais em todo o mundo.
"Os pedidos cairão, os preços subirão e a demanda econômica global enfraquecerá. Todos perdem nessa situação", disse Haviland.
O secretário-chefe do Gabinete do Japão, Yoshimasa Hayashi, expressou na quinta-feira "muita preocupação" sobre a decisão dos EUA de impor tarifas recíprocas, questionando a conformidade com as regras da Organização Mundial do Comércio e um acordo comercial bilateral.
Em coletiva de imprensa, ele disse que Tóquio pediu fortemente que Washington desistisse da decisão de colocar uma taxa de 24% sobre produtos japoneses como parte das tarifas recíprocas.
O plano tarifário do governo dos EUA pode ter "grande impacto negativo" na economia global e no sistema de comércio multilateral, disse Hayashi.
O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Han Duck-soo, que está atuando como presidente interino após o impeachment do presidente Yoon Suk-yeol, disse na quinta-feira que o governo usará todas as medidas para lidar com a imposição de tarifas dos EUA.
"Conforme a guerra tarifária global vira realidade, o governo deve despejar todas as suas capacidades para superar uma crise comercial", disse Han durante uma reunião de emergência para estratégia de segurança econômica com a presença de ministros da economia, indústria e comércio.
O presidente em exercício instruiu o ministro da indústria a analisar os detalhes e o impacto da imposição de tarifas dos EUA e se envolver ativamente em negociações com os Estados Unidos com o propósito de minimizar os danos.
O último movimento de Trump não é meramente um erro de cálculo econômico, mas uma tentativa desesperada de resolver as contradições internas do capitalismo por meio de intervenção estatal coercitiva, disse Busani Ngcaweni, pesquisador sênior associado da Universidade de Joanesburgo.
Essa estratégia é uma tentativa de reverter artificialmente a globalização do capital e a divisão do trabalho nacionalizando a produção à força por meio do protecionismo, acrescentou ele.
(Repórteres de vídeo: Zhang Shuhui, Qi Zijian, Li Xueqing, Hu Yousong, Xiong Maoling, Ma Yueran, Rao Bo, Liu Xiang, Shan Weiyi, Dai He e Xu Jiatong. Edição de vídeo: Hong Liang, Hui Peipei, Zheng Qingbin e Li Ziwei)