O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se encontra com imprensa durante reunião de ministros das Relações Exteriores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, no dia 3 de abril de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Bruxelas, 5 abr (Xinhua) -- O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, participou de sua primeira reunião de ministros das Relações Exteriores da OTAN em Bruxelas na quinta e na sexta-feira, onde reafirmou a posição de Washington de que a Europa deve assumir mais responsabilidade pela defesa da aliança.
Conforme as negociações se desenrolavam sobre questões críticas como a crise na Ucrânia, gastos com defesa e a direção estratégica da OTAN, surgiram questões crescentes sobre se a Europa pode se dar ao luxo de concordar com as metas dos EUA às custas de seus próprios interesses principais e se os termos da parceria transatlântica devem ser redefinidos.
REUNIÃO CONTENCIOSA
Apelando aos aliados europeus para aumentar significativamente seus gastos com defesa, Rubio repetiu o compromisso de Washington com a OTAN na reunião.
O presidente dos EUA, Donald Trump, não é contra a OTAN, mas "contra uma OTAN que não tem as capacidades necessárias para cumprir as obrigações que o tratado impõe a cada estado-membro", argumentou Rubio.
Trump pediu aos membros da OTAN que aumentassem seus gastos com defesa para 5% do PIB, um limite que nenhum membro atinge atualmente.
De acordo com estimativas da OTAN, 23 dos 32 membros da aliança atingiram ou excederam a diretriz atual de 2% no ano passado, enquanto as principais economias europeias, como Itália e Espanha, permanecem abaixo da meta, gastando aproximadamente 1,5% e 1,3% do PIB, respectivamente.
Em uma entrevista em fevereiro ao jornal Tagesspiegel, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, rejeitou a meta de 5% como "irrealista e desnecessária", argumentando que esse nível consumiria quase metade do orçamento federal da Alemanha.
A atmosfera da reunião ficou tensa depois que Trump anunciou um plano tarifário do "Dia da Libertação" na quarta-feira, que inclui uma tarifa "recíproca" de 20% sobre as importações da UE.
Rubio evitou comentar diretamente, mas o último anúncio de tarifa desencadeou fortes reações dos aliados dos EUA. A ministra das Relações Exteriores canadense, Melanie Joly, alertou que o relacionamento com Washington "nunca mais será o mesmo", enquanto o primeiro-ministro belga Bart De Wever observou: "É um pouco complicado exigir coisas de nós... depois de sermos constantemente humilhados e insultados o tempo todo".
Rubio também evitou comentar sobre as observações anteriores de Trump sobre a aquisição da Groenlândia. O ministro das Relações Exteriores dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, confirmou que havia "se oposto fortemente" à ideia durante sua reunião com Rubio, apesar do tema não estar formalmente na agenda.
O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, também evitou abordar esses assuntos delicados, dizendo apenas: "Acho que deveríamos nos afastar da Groenlândia", e se absteve de comentar sobre a disputa comercial, observando que ela está fora do escopo da política de aliança.
AMPLIAÇÃO DA LACUNA TRANSATLÂNTICA
Na sexta-feira, Rubio cancelou sua coletiva de imprensa final planejada no encerramento da reunião da OTAN, citando uma mudança de agenda.
A decisão refletiu um acordo semelhante em março, quando a visita do vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, à Groenlândia foi reduzida a uma breve parada em uma base militar remota dos EUA depois que moradores supostamente se recusaram a encontrá-lo ou sua esposa.
Embora pequenos, esses incidentes mostram desconforto mais amplo com a presença diplomática dos EUA na Europa.
No mês passado, Trump suspendeu a ajuda militar dos EUA à Ucrânia e iniciou negociações diretas com Moscou e Kiev, excluindo aliados europeus. A medida gerou alarme em todo o continente, pois as autoridades temiam ser marginalizadas em um conflito que se desenrolava em sua porta.
Em resposta, França e Alemanha pediram uma liderança europeia mais decisiva, enquanto os estados do leste pressionaram por uma maior coordenação de defesa. "Não se trata apenas da Ucrânia", disse um funcionário da UE, citado pelo Politico. "Trata-se de saber se a Europa ainda tem lugar na mesa".
Enquanto isso, relatos de que os Estados Unidos estão planejando realocar recursos militares da Europa levantaram mais preocupações no continente sobre potenciais lacunas de segurança, principalmente sobre como substituir facilitadores críticos como vigilância, reabastecimento e sistemas de comando, capacidades ainda amplamente dependentes dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, o fundo de ação de segurança de 150 bilhões de euros (US$ 164 bilhões) da UE para apoiar as indústrias de defesa domésticas, excluindo empresas dos EUA, atraiu objeções de Washington.
A confiança foi ainda mais corroída pelo vazamento recente de mensagens do Signal do círculo interno de Trump. As mensagens, que incluíam conversas operacionais sobre ataques dos EUA no Iêmen, também revelaram um desdém direto pelos aliados europeus. Vance escreveu que "odiava resgatar a Europa novamente", enquanto o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, respondeu: "Concordo totalmente com sua aversão à parasitismo europeu. É PATÉTICO".
Autoridades europeias reagiram com raiva. "Apesar das palavras diplomáticas às vezes gentis, a confiança é quebrada", disse um diplomata da UE ao Politico. "Não há aliança sem confiança".
REDEFININDO OS LAÇOS TRANSATLÂNTICOS
A visita de Rubio foi amplamente vista como parte de um esforço mais amplo para administrar as tensões antes da cúpula dos líderes da OTAN em Haia, marcada para 24 a 26 de junho. No entanto, diplomatas europeus estão preocupados que a cúpula, que deve incluir Trump, possa se tornar um ponto crítico para o confronto.
De acordo com o site de notícias europeu Euractiv, um cenário de pior caso envolve Trump usando a cúpula para pressionar aliados a fazer concessões em várias questões. Analistas sugerem que, apesar da visita de Rubio, a postura linha-dura de Trump deixa pouco espaço para concessões.
Esses desenvolvimentos reforçaram um consenso crescente entre analistas e autoridades de que as tensões atuais não são meramente cíclicas, mas indicativas de uma mudança mais duradoura.
Max Bergmann do Center for Strategic and International Studies, um think tank dos EUA, alertou que os Estados Unidos e a Europa estão "em rota de colisão" que pode remodelar a aliança em "todas as questões". "A Europa agora está encarando o início de uma nova era pós-americana", escreveu ele.
Em um artigo publicado na Modern Diplomacy, John Calabrese, professor de relações internacionais na Universidade Americana, escreveu: "Se a tendência atual de contenção estratégica e coerção unilateral continuar, o relacionamento transatlântico provavelmente será redefinido ao longo de novas linhas menos interdependentes".
Participantes posam para foto de grupo durante reunião de ministros das Relações Exteriores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, no dia 3 de abril de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, fala durante coletiva de imprensa após uma reunião de ministros das Relações Exteriores da OTAN na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, em 4 de abril de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Foto tirada no dia 4 de abril de 2025 mostra vista da sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Bruxelas, Bélgica. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
O ministro das Relações Exteriores dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, fala com mídia durante reunião de ministros das Relações Exteriores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, no dia 3 de abril de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
A alta representante da União Europeia para as Relações Exteriores e Política de Segurança, Kaja Kallas (direita), chega para reunião de ministros das Relações Exteriores da OTAN na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, no dia 4 de abril de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
O secretário das Relações Exteriores britânico, David Lammy (1º, à esquerda), o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte (2º, à esquerda), e a ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, são vistos antes de reunião de ministros das Relações Exteriores da OTAN na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, no dia 4 de abril de 2025. (Xinhua/Zhao Dingzhe)