A ceramista alemã Karin Flurer-Bruenger mostra obras de arte em seu estúdio na Avenida de Arte Cerâmica Taoxichuan, em Jingdezhen, Província de Jiangxi, no leste da China, em 8 de abril de 2025. (Xinhua/Du Juanjuan)
Nanchang, 23 abr (Xinhua) -- À medida que o anoitecer cai sobre a "capital da porcelana" Jingdezhen, na Província de Jiangxi, no leste da China, a ceramista alemã Karin Flurer-Bruenger, de 69 anos, caminha lentamente pelas vielas repletas de arte.
A luz quente se espalha pelas paredes de tijolos vermelhos e pelas movimentadas tendas de artesãos, lançando um brilho suave nas criações ecléticas que chamam sua atenção. Cada obra de arte é uma conversa silenciosa entre o artista e o barro - e Flurer-Bruenger é uma das muitas vozes que moldam esse diálogo.
Este é seu terceiro mês em Jingdezhen, uma cidade com mais de mil anos de história da porcelana e agora reinventada como um polo global de cerâmica.
"Antes era uma cidade industrial empoeirada, mas agora é limpa e moderna", disse ela. "Tenho todas as possibilidades ao meu redor - com fornos, lugares e pessoas realmente especializadas em cerâmica, porcelana e muitas exposições interessantes. Então, estou muito feliz por estar aqui."
Flurer-Bruenger participa do Programa de Aves Migratórias no Centro de Arte Taoxichuan de Jingdezhen - uma iniciativa lançada em 2015 para convidar artistas de todo o mundo a viver, criar e trocar ideias nesta cidade repleta de criatividade.
Mais de 4.300 artistas estrangeiros de mais de 50 países e regiões já participaram, atraídos pela oportunidade de trabalhar em estúdios internacionais, experimentar técnicas chinesas antigas e deixar obras que se tornam parte do cenário cultural em evolução da cidade.
Dentro do estúdio de Flurer-Bruenger, as prateleiras estão cheias de tigelas e xícaras bem organizadas, cada uma com um formato e esmalte únicos. Fotos de família adornam as paredes, dando um toque pessoal ao espaço criativo.
"Esta garotinha gosta muito de desenhar", disse ela com um sorriso, segurando gentilmente a obra de arte de sua neta. "Imprimi seus desenhos e os fiz em minha cerâmica."
Embora tenha sido criada em uma família de engenheiros, foi a textura da argila úmida, e não o maquinário, que cativou sua imaginação desde cedo.
Como ela lembra, seu pai era um engenheiro mecânico e inventor, que estava sempre desenhando suas novas ideias. Essa exposição precoce despertou seu interesse pelo trabalho feito à mão. Para perseguir esse interesse, ela se tornou aprendiz de um mestre ceramista.
"Esse grande mestre influenciou toda a minha vida desde então. Fiquei fascinada com as possibilidades desse material durante toda a minha vida", disse ela.
Décadas depois, sua curiosidade e compaixão continuam a alimentar novas ideias. No momento, ela está concentrada em dois projetos criativos.
O primeiro é sobre luz e humanidade. Seu objetivo é incorporar as personalidades humanas em suas luminárias de cerâmica feitas à mão, cada uma com um lado áspero e outro suave, assim como as pessoas. A luz interna serve para iluminá-las e fazê-las brilhar.
Seu segundo projeto é uma missão de empatia. Sua experiência anterior de ajudar crianças carentes a tornou profundamente empática em relação àqueles que passam fome. Assim, ela decidiu criar 150 tigelas e vendê-las para arrecadar dinheiro para crianças que não tinham o suficiente para comer. "Esse é um projeto de caridade", explicou ela. "A tigela sempre foi um símbolo de comida."
Em Jingdezhen, onde o artesanato ancestral encontra a criatividade global, Flurer-Bruenger encontrou inspiração e inovação. Ela está experimentando técnicas de porcelana fina e vazada - aprimoradas por meio de mentoria local e apoiadas pelos fornos compartilhados do estúdio.
"Mesmo que nem todas as peças dêem certo, aprendo algo valioso", disse ela, gesticulando com um sorriso em direção a um forno de teste. "E veja só - esta foi feita na Alemanha!"
Sua jornada artística reflete o intercâmbio mais amplo entre a China e a Alemanha, despertado pela porcelana, uma conexão que remonta a vários séculos..
No início dos anos 1700, o alquimista alemão Johann Friedrich Böttger desvendou o segredo da fabricação de porcelana de pasta dura, uma técnica há muito aperfeiçoada na China. Ele a chamou de o novo "ouro branco".
Em 1710, a primeira fábrica de porcelana da Europa foi fundada em Meissen, na Alemanha, marcando o início de um legado de mais de 300 anos. A porcelana de Meissen logo ganhou popularidade na Europa e foi aclamada como a mais fina.
Mais tarde, entre 1868 e 1872, o geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen viajou pela China. Em seus diários de viagem, ele introduziu a palavra "caulim" para descrever a argila branca usada na cerâmica de Jingdezhen, um nome derivado do local de sua descoberta, a vizinha Aldeia de Gaoling.
Desde então, a porcelana feita de caulim tem viajado pelo mundo ao longo da Rota Marítima da Seda, admirada por sua beleza suave e refinada. Ela se tornou um símbolo do artesanato chinês e abriu as portas para o intercâmbio cultural com o Ocidente.
Agora, séculos depois, o intercâmbio continua. Notavelmente, Jingdezhen estabeleceu laços de parceria com mais de 180 cidades em 72 países. Por meio de eventos como a Exposição de Ouro Branco Jingdezhen-Meissen e mostras de fabricação de cerâmica ao vivo em Berlim, essa cidade chinesa está revivendo e reinventando seu legado como capital global da cerâmica.
Nos últimos anos, Jingdezhen tem trabalhado para criar novas plataformas para o intercâmbio internacional, promovendo ativamente a cultura da cerâmica por meio de exposições, divulgação e colaboração. Em seu momento mais movimentado, a cidade abriga mais de 5.000 artistas, designers e artesãos de cerâmica de todo o mundo, que vêm e vão como aves migratórias.
À medida que a China avança em seu processo de modernização, a confiança cultural se tornou um foco importante. Com forte apoio do governo, a cultura da cerâmica evoluiu e se tornou um importante símbolo do poder brando do país.
Em 2006, as técnicas tradicionais de porcelana artesanal de Jingdezhen foram incluídas no primeiro lote do patrimônio cultural intangível nacional da China, ajudando a proteger e preservar essa valiosa tradição.
Lugares como Jingdezhen agora servem como palcos vibrantes para o diálogo global, onde artistas como Flurer-Bruenger não estão apenas herdando tradições de cerâmica, mas também contribuindo ativamente para a formação de um futuro que é transmitido de geração em geração e reinventado por novas mãos.
Com um forte desejo de passar adiante essas tradições, a ceramista alemã ficou animada ao ver a promessa na geração mais jovem. "Acho bom ver que há muitos jovens aqui. Além disso, os jovens alemães usam as redes sociais, o TikTok ou qualquer outra plataforma. Talvez essa seja uma maneira de tornar essa porcelana brilhante conhecida", disse ela. "Os jovens estão novamente interessados em todas as coisas feitas à mão, e esse pode ser o futuro da cerâmica."
"Adoro trabalhar com jovens e ensinar cerâmica. Acredito que é uma arte importante para a humanidade e espero que mais pessoas em todo o mundo aprendam sobre ela nos próximos anos", acrescentou Flurer-Bruenger.
A ceramista alemã Karin Flurer-Bruenger é fotografada na Avenida de Arte Cerâmica Taoxichuan em Jingdezhen, Província de Jiangxi, no leste da China, em 8 de abril de 2025. (Xinhua/Du Juanjuan)
A ceramista alemã Karin Flurer-Bruenger trabalha em seu estúdio na Avenida de Arte Cerâmica Taoxichuan em Jingdezhen, Província de Jiangxi, no leste da China, em 8 de abril de 2025. (Xinhua/Du Juanjuan)