O presidente dos EUA, Donald Trump, caminha em direção à imprensa antes de embarcar no Marine One no gramado sul da Casa Branca, em Washington, D.C., Estados Unidos, no dia 29 de abril de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)
Analistas regionais disseram que o desrespeito do governo dos EUA pela soberania e pelos direitos humanos no Oriente Médio não só colocou em risco vidas locais, como minou as normas internacionais, tornando-se "parte do problema, não da solução".
Cairo, 4 mai (Xinhua) — Desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, assumiu o cargo em janeiro, o Oriente Médio tem visto a intensificação dos conflitos e o aumento do sofrimento civil sob o envolvimento dos EUA.
Analistas regionais disseram que o desrespeito do governo dos EUA pela soberania e pelos direitos humanos no Oriente Médio não só colocou em risco vidas locais, como minou as normas internacionais, virando "parte do problema, não da solução".
"PERDERAM TODA A CREDIBILIDADE"
A questão palestina sempre esteve no centro da questão do Oriente Médio. Após assumir o cargo, Trump sugeriu a ideia de expulsar a população civil de Gaza e assumir o controle do território.
"As declarações de Trump estão completamente equivocadas, pois não queremos sair de nossas casas e terras", disse Amna Anan, jovem palestina da Cidade de Gaza.
"Somos contra essa política. O que precisamos é viver em nossa terra com estabilidade e conquistar nossos direitos, assim como todos os povos", disse Anan à Xinhua.
As declarações de Trump sobre Gaza refletem "uma mentalidade colonial", disse Ismat Mansour, analista político radicado na cidade de Ramala, na Cisjordânia.
"O presidente Trump não vê Gaza como uma terra habitada por pessoas com direitos legítimos", disse ele. "Em vez disso, ele a aborda com a lógica de um empreiteiro que vê apenas terras, negócios, projetos e investimentos, ignorando a presença de mais de 2 milhões de pessoas sofrendo com o flagelo do bloqueio e da guerra em andamento".
Após o exército israelense retomar os bombardeios em Gaza em 18 de março, Trump expressou apoio à retomada dos assassinatos.
Palestinos aguardam comida gratuita em centro de distribuição de alimentos na Cidade de Gaza, no dia 2 de maio de 2025. (Foto por Rizek Abdeljawad/Xinhua)
As políticas dos EUA para o Oriente Médio mostram falta de comprometimento com o fim da guerra ou com o avanço da solução de dois Estados, disse Nimrod Goren, presidente do Instituto Israelense de Políticas Externas Regionais.
Ezzat Saad, diretor do Conselho Egípcio das Relações Exteriores, afirmou: "Trump não respeita o fato de liderar um país importante, um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, que deveria defender a paz e a segurança internacionais".
As declarações irresponsáveis de Trump sobre a questão palestina levaram a uma deterioração significativa da estabilidade regional, disse Saad, observando que os Estados Unidos viraram parte do problema, não da solução.
Sob o governo Trump, os Estados Unidos perderam toda a credibilidade, acrescentou ele.
"INTIMIDAÇÃO E CHANTAGEM"
Desde que assumiu o cargo do segundo mandato, Trump tem colocado "pressão máxima" sobre o Irã, intensificando sanções econômicas e ameaçando ataques militares para forçar o Irã a aceitar um acordo nuclear com os Estados Unidos.
No Iêmen, os Estados Unidos lançaram ataques aéreos em larga escala contra os houthis. Até o momento, os Estados Unidos não alcançaram seu objetivo de restaurar a "liberdade de navegação pelo Mar Vermelho" e, em vez disso, causaram uma nova onda de sofrimento severo ao povo iemenita.
"Nos confortamos pensando que não é tão ruim quanto Gaza", disse Manal Qaed Alwesabi, jornalista iemenita radicada na cidade portuária de Hodeidah, que tem sofrido frequentes ataques aéreos dos EUA.
Steven Wright, professor associado de relações internacionais na Universidade Hamad Bin Khalifa, no Catar, disse que as políticas do governo Trump em relação ao Irã, Iêmen e Gaza levantam preocupações para os estados do Golfo.
Investigador procura evidências entre escombros do centro de migrantes destruído pelos ataques aéreos dos EUA na província de Saada, Iêmen, no dia 28 de abril de 2025. (Foto por Mohammed Mohammed/Xinhua)
Recentemente, o presidente dos EUA exigiu que embarcações militares e comerciais americanas passassem pelo Canal de Suez "gratuitamente".
Trump descreveu a proposta como uma "contribuição" do Egito aos esforços dos EUA para combater os ataques dos houthis à navegação no Mar Vermelho, que impactaram severamente as receitas do Canal de Suez.
"Não sei com base em que o presidente Trump está exigindo que navios americanos... tenham permissão para passar livremente pelo Canal de Suez", disse à TV Al-Araby Al-Jadeed, Mostafa Bakry, parlamentar egípcio.
"Na minha opinião, só há um motivo: a política de intimidação americana e as tentativas de chantagear nações soberanas. É um ato aberto de roubo e uma imposição de tributo a um país independente, membro das Nações Unidas", acrescentou ele.
Os analistas também criticaram as recentes ameaças do governo Trump de anexar territórios pertencentes a outros estados e a imposição de tarifas abrangentes aos parceiros comerciais.
Os primeiros 100 dias de Trump na Casa Branca revelaram sua intenção de subverter a ordem internacional e suas tentativas de impor suas próprias políticas baseadas em chantagem política e econômica a todos os países, disse Kheir Diabat, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Catar.
Concordando com Diabat, Tunc Akkoc, editor-chefe da plataforma de mídia turca Harici, disse que Trump efetivamente declarou "ataque total" à ordem internacional.
"Ao longo de seu mandato, Trump demonstrou uma clara disposição de ignorar os direitos de outros países soberanos e instituições internacionais, priorizando apenas os interesses e ganhos dos Estados Unidos", disse ele.