Rio de Janeiro, 6 mai (Xinhua) -- Sob a liderança do Brasil, o Grupo de Trabalho Anticorrupção do BRICS concluiu uma reunião importante em Brasília nesta terça-feira para coordenar estratégias sobre integridade pública, justiça climática, recuperação de ativos e cooperação tecnológica, disse a presidência brasileira do bloco.
As discussões fazem parte da agenda de prioridades do grupo em 2025, ano em que o Brasil exerce a presidência rotativa do bloco.
O encontro, organizado pela Controladoria-Geral da União (CGU), contou com a presença de autoridades de alto escalão dos países do grupo. A reunião reafirmou o compromisso do BRICS com o combate à corrupção como pilar do desenvolvimento sustentável e da equidade global.
A secretária-executiva da CGU, Eveline Brito, destacou três prioridades da presidência brasileira: o multilateralismo inclusivo, a integração do combate à corrupção e a justiça climática e o fortalecimento da transparência por meio do uso da tecnologia e da cooperação jurídica internacional.
"A corrupção não só desvia recursos públicos, mas também aprofunda as desigualdades e enfraquece a capacidade de resposta a crises globais como as mudanças climáticas", disse Evelin Brito. Ela também lembrou o lançamento do Plano de Integridade e Combate à Corrupção 2025-2027, que contempla 260 ações em áreas como licitações sustentáveis, controle de recursos ambientais e parcerias com a iniciativa privada.
Um dos painéis em destaque abordou a relação entre clima, integridade e desenvolvimento sustentável, enfatizando como a corrupção agrava os efeitos da crise ambiental. A secretária-executiva da CGU reafirmou a intenção do Brasil de incorporar a "integridade climática" às negociações globais durante a COP30, que será realizada em Belém em novembro próximo.
"Não pode haver justiça climática sem transparência. As populações mais vulneráveis, especialmente na Amazônia e em outras regiões empobrecidas, são as mais prejudicadas quando os recursos são desviados", afirmou.
O encontro também abordou o uso de tecnologias avançadas para prevenir e detectar irregularidades. As delegações discutiram o uso de blockchain em licitações públicas, inteligência artificial para detectar fraudes e plataformas seguras para proteger denunciantes.
A China apresentou suas experiências de cidades inteligentes que evitam desvios em tempo real, enquanto a Índia compartilhou o progresso de seu sistema de pagamento digital Aadhaar com autenticação facial, que reduziu a corrupção em programas sociais.
A Rússia, por sua vez, apresentou iniciativas de monitoramento ambiental, como o combate ao tráfico ilegal de madeira e à mineração clandestina, além de destacar o documento conjunto Visão Comum em Ação Conjunta (2022) e as Diretrizes para Cooperação Jurídica (2023), que têm facilitado as extradições e a troca de provas entre os países do BRICS. Natalia Primakova, representante do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, destacou o Sistema de Alerta Rápido como uma ferramenta fundamental para rastrear transações financeiras suspeitas.
Na área de recuperação de ativos, o Secretário Nacional de Justiça, Jean Keiji Uema, destacou a importância da Política Nacional de Recuperação de Ativos (PNRA), lançada em fevereiro. Somente em 2024, o Brasil recuperou 2,3 bilhões de reais (cerca de US$400 milhões) em ativos relacionados à corrupção.
"Nosso objetivo é ampliar a cooperação com os países do BRICS, principalmente em casos envolvendo paraísos fiscais e uso de criptomoedas para lavagem de dinheiro", afirmou Uema.
O fenômeno emergente de desinformação climática também foi abordado. Mayra Saito, da Secretaria de Políticas Digitais, alertou que notícias falsas sobre meio ambiente podem minar a confiança da população e atrasar decisões urgentes. Ele mencionou o Observatório Brasileiro de Informação Ambiental como uma resposta institucional a esse desafio.
Elizabeth Cosmo, chefe de Relações Internacionais da CGU, enfatizou que "a corrupção pode minar políticas públicas essenciais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas". Ele destacou o uso da plataforma de inteligência artificial ALICE, desenvolvida pela CGU para prevenir fraudes em compras públicas por meio da análise automática de contratos, licitações e adjudicações.
O encontro em Brasília fornecerá subsídios para dois importantes eventos internacionais: a Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, em julho, onde será apresentado um plano de ação com metas concretas até 2030; e a COP30, onde o Brasil proporá a criação de um Fórum Global de Integridade Climática vinculado às Nações Unidas.