Crianças brasileiras nascidas em 2020 enfrentarão até sete vezes mais ondas de calor do que aquelas nascidas em 1960-Xinhua

Crianças brasileiras nascidas em 2020 enfrentarão até sete vezes mais ondas de calor do que aquelas nascidas em 1960

2025-06-10 11:50:16丨portuguese.xinhuanet.com

Rio de Janeiro, 9 jun (Xinhua) -- Crianças brasileiras nascidas em 2020 enfrentarão, ao longo da vida, 6,8 vezes mais ondas de calor e 2,8 vezes mais inundações e perdas de colheitas em comparação com aquelas nascidas em 1960, de acordo com um relatório divulgado pelo Centro de Ciência para a Infância.

O documento, intitulado "A Primeira Infância no Centro da Crise Climática", baseia-se em dados do Observatório de Clima e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e destaca um aumento acelerado de eventos extremos no Brasil: de 1.779 em 2015 para 6.772 em 2023. Esse aumento representa uma ameaça direta ao desenvolvimento integral de crianças menores de seis anos, que enfrentam riscos crescentes decorrentes das mudanças climáticas.

Atualmente, essa faixa etária representa 18,1 milhões de pessoas no Brasil, o equivalente a 8,9% da população. Segundo o estudo, essas crianças são as mais vulneráveis aos impactos na saúde, nutrição, aprendizagem, acesso a cuidados, segurança e alimentação.

"Desde o nascimento, elas já enfrentam ondas de calor e poluição do ar. No entanto, o grau de exposição dependerá do progresso na redução das emissões de gases de efeito estufa", alertou Márcia Castro, coordenadora do estudo e diretora do Departamento de Saúde Global e População da Universidade de Harvard.

Castro explicou que os impactos climáticos nessa fase crítica do desenvolvimento infantil podem afetar suas capacidades físicas, cognitivas e emocionais ao longo da vida. Isso pode levar a uma maior predisposição a doenças, déficits de aprendizagem, insegurança alimentar, deslocamento forçado e perda de moradia. "Essas consequências se estendem à vida adulta, acentuando as desigualdades sociais", acrescentou.

A crise climática também teve um impacto severo na educação. Somente em 2024, eventos naturais extremos interromperam as aulas de 1,18 milhão de crianças e adolescentes no Brasil. No Rio Grande do Sul, por exemplo, 55.749 horas escolares foram perdidas devido a enchentes e deslizamentos.

"Proteger a primeira infância da emergência climática não é uma escolha, é uma prioridade. Precisamos urgentemente de políticas públicas baseadas em evidências que considerem as desigualdades sociais e coloquem bebês e crianças no centro das estratégias de adaptação e prevenção", disse Alicia Matijasevich, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do estudo.

Entre as recomendações, o relatório destaca o fortalecimento da atenção primária à saúde, melhorias nos sistemas de saneamento básico e abastecimento de água potável e ações para garantir a segurança alimentar e nutricional. Também defende a adoção de práticas sustentáveis, protocolos específicos para o enfrentamento de desastres climáticos e a criação de zonas de resfriamento com sombra e vegetação em ambientes educacionais e de creche.

"Não é que toda esta geração esteja condenada em termos de desenvolvimento, mas estará se não agirmos, se não adotarmos medidas de mitigação, se continuarmos a construir cidades sem árvores, se as escolas não forem adaptadas e resilientes à crise climática", alertou Márcia Castro.

A pesquisadora enfatizou a importância do compromisso intersetorial, desde governos em todos os níveis, até o setor privado e a sociedade civil, na adoção de uma perspectiva de longo prazo. "Todos têm um papel a desempenhar, desde que adotemos uma visão geracional. Essa visão é essencial para garantir um futuro mais justo e seguro para nossas crianças", concluiu.

Fale conosco. Envie dúvidas, críticas ou sugestões para a nossa equipe através dos contatos abaixo:

Telefone: 0086-10-8805-0795

Email: portuguese@xinhuanet.com