Rio de Janeiro, 24 jun (Xinhua) -- O Brasil registrou 30 milhões de hectares queimados em 2024, número 62% superior à média histórica desde 1985, segundo relatório divulgado nesta terça-feira pela rede colaborativa MapBiomas, composta por diversas entidades e organizações dedicadas ao meio ambiente.
De acordo com o "Relatório Anual de Queimadas", 43% do total da área queimada no país desde 1985 teve a sua última ocorrência de fogo nos últimos dez anos (2014 - 2023).
Felipe Martenexen, coordenador do programa de mapeamento do bioma Amazônia do MapBiomas, enfatizou que o fogo não faz parte da dinâmica natural das florestas tropicais. "As áreas queimadas que marcaram o bioma em 2024 são resultado da ação humana, principalmente em um cenário agravado por dois anos consecutivos de seca severa", observou.
Os dados mostram que, na Mata Atlântica e no Pantanal, a área queimada aumentou 261% e 157%, respectivamente, em comparação aos anos anteriores. Em contrapartida, o bioma Pampa registrou redução de 48% e a Caatinga, de 16%.
O bioma Pampa foi o menos afetado por incêndios em 2024. Segundo o MapBiomas, isso está relacionado aos efeitos do fenômeno climático El Niño, que trouxe altos volumes de chuva para o sul do país. Apesar de um ligeiro aumento em relação a 2023, a taxa de incêndios permaneceu abaixo da média histórica na região.
O relatório, elaborado com base em imagens de satélite, revela que, entre 1985 e 2024, um quarto do território brasileiro - o equivalente a 206 milhões de hectares - foi atingido por incêndios pelo menos uma vez. O bioma Cerrado apresenta a maior frequência de incêndios, com 3,7 milhões de hectares queimados mais de 16 vezes em 40 anos.
Em termos proporcionais, o Pantanal foi o bioma mais afetado na série histórica. O mapeamento indica que 93% dos incêndios ocorreram em vegetação nativa. Além disso, três em cada quatro hectares do Pantanal (72%) foram queimados duas ou mais vezes nas últimas quatro décadas. O bioma também responde pelo maior número de grandes incêndios: 19,6% das queimadas ultrapassaram 100 mil hectares.
O relatório também identifica uma mudança no tipo de vegetação mais afetado. Historicamente, as formações savânicas lideraram em área queimada, com uma média anual de 6,3 milhões de hectares. No entanto, em 2024, as formações florestais foram as mais impactadas, atingindo 7,7 milhões de hectares, o que representa um aumento de 287% em relação à média histórica.
Por fim, o estudo mostra uma transformação na escala dos incêndios. Enquanto entre 1985 e 2024, a maioria das áreas queimadas no Brasil (27%) cobria entre 10 e 250 hectares, em 2024, quase um terço (29%) do total correspondeu a mega incêndios com mais de 100 mil hectares.

