"Nem todos podem ter uma rua com seu nome", disse Jerome de Perlinghi, neto mais velho de Qian Xiuling. Conhecida localmente como Madame de Perlinghi na cidade belga de Ecaussinnes, Qian salvou quase 100 moradores dos fascistas alemães na Segunda Guerra Mundial.
Por Ding Yinghua e Ma Zhiyi
Bruxelas, 17 set (Xinhua) -- Oitenta anos depois, os moradores da cidade belga de Ecaussinnes ainda se lembram com carinho de Qian Xiuling, homenageada como "mãe chinesa da Bélgica" por salvar quase 100 moradores dos fascistas alemães na Segunda Guerra Mundial.
Sebastien Deschamps, prefeito de Ecaussinnes, onde uma rua tranquila leva o nome de Qian, disse à Xinhua que muitos moradores continuam muito gratos a ela. Em 8 de junho de 1944, quatro combatentes da resistência belga mataram três oficiais da Gestapo. Em retaliação, os nazistas prenderam 96 homens no dia seguinte, ameaçando execuções em massa caso os perpetradores não se rendessem.
Desesperados por ajuda, os moradores da cidade recorreram a Qian, que já tinha intervindo junto às autoridades alemãs. Apesar de estar sob vigilância da Gestapo e correndo grande risco pessoal, ela foi diretamente ao general Alexander von Falkenhausen para implorar por suas vidas. Assim, nenhum dos reféns foi executado.
"Para nós, ela mudou o destino da nossa cidade", disse Deschamps.
Nascida em Yixing, província de Jiangsu, no leste da China, Qian chegou à Bélgica na década de 1930 para estudar química na Universidade Católica de Louvain. Ela fez seu doutorado em uma época em que poucas mulheres, principalmente estrangeiras, alcançavam tanto reconhecimento na Europa. Mais tarde, ela se estabeleceu na Bélgica, casou-se com um membro da família de Perlinghi e ficou localmente conhecida como Madame de Perlinghi.
Entre os resgatados estava o pai do falecido ex-prefeito de Ecaussinnes, Jean Dutrieux, lembrou Deschamps. "Dutrieux dizia que, sem essa chinesa, ele não teria nascido".

Foto tirada em 23 de outubro de 2023 mostra cerimônia de lançamento da versão francesa do livro "Forget Me" ("Esqueça-me", em tradução livre) do autor chinês Xu Feng, em Bruxelas, Bélgica. O livro conta a história de Qian Xiuling, homenageada como "mãe chinesa da Bélgica" por salvar quase 100 moradores locais dos fascistas alemães na Segunda Guerra Mundial. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
Após a guerra, o governo belga concedeu a Qian a Medalha da Gratidão Belga de 1940 a 1945. Em 2000, o conselho municipal de Ecaussinnes batizou a rua em sua homenagem como Rue Madame Perlinghi e concedeu a ela o título de cidadã honorária.
Para o neto mais velho de Qian, Jerome de Perlinghi, ver o nome da avó em uma placa de rua é motivo de muito orgulho. "Nem todo mundo pode ter uma rua com seu nome", disse ele.
No entanto, Jerome insiste que sua avó nunca se considerou uma heroína. "Ela raramente contava essas histórias", disse ele. "Dedicava toda sua energia à criação dos filhos e netos. Somente quando crescemos e começamos a fazer perguntas é que ela foi contando".
Como fotógrafo, Jerome viajou para Yixing e para a vizinha região metropolitana de Shanghai em busca dos vestígios de sua avó. Há alguns anos, Jerome conheceu uma sobrevivente de 106 anos que disse que, sem ela, eles teriam sido executados na mesma semana. "Ao ouvir isso, percebi novamente o quão grandiosa minha avó foi", disse Jerome.
Deschamps disse que sua cidade tem trabalhado ativamente para preservar a memória dela. Visitantes frequentemente procuram a Rue Madame Perlinghi ou a Rue des Otages, o local onde os 96 homens foram capturados, e perguntam sobre as histórias por trás desses nomes. O objetivo da cidade é garantir que mais pessoas entendam seu legado de guerra e se lembrem de seu nome corretamente.
Para Ecaussinnes, Qian também se tornou uma ponte entre a Bélgica e a China. Deschamps disse que a cidade está trabalhando para transformar essa memória compartilhada em conexões reais, explorando intercâmbios culturais e turísticos com sua cidade natal, Yixing.
"Seus feitos", acrescentou ele, "há muito tempo são um vínculo sólido entre os povos chinês e belga".



