Hangzhou, 14 out (Xinhua) -- "O que realmente me tocou não foram apenas as impressionantes conquistas de desenvolvimento da China, mas a sinceridade por trás da cooperação", afirmou Henrique da Nóbrega, presidente da Associação de Amizade Brasil-China.
Ele testemunhou a trajetória da relação sino-brasileira na última década: do conhecimento mútuo e das visitas recíprocas à cooperação institucional cada vez mais profunda. Cada contato, cada diálogo foi parte de um processo de construção de confiança, alicerçado não apenas na complementaridade industrial, mas também na atitude de abertura, cooperação e benefício compartilhado.
"Brasil e China estão comprometidos conjuntamente em construir uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade. Somos parceiros naturais", disse ele.
Nóbrega visitou a China pela primeira vez em 2015, em uma viagem repleta de exploração e expectativas. Nos dez anos seguintes, retornou outras quatro vezes. Lembra-se da eficiência das cidades chinesas, da calorosa recepção das delegações e da fusão entre modernização e cultura tradicional.
Na sua visão, a característica mais marcante da cooperação sino-brasileira é "basear-se na confiança e ter como meta o benefício mútuo". Trata-se de uma relação de cooperação que atravessa ciclos e aponta para o futuro.
Diante de um cenário internacional turbulento, em que algumas grandes economias utilizam tarifas para remodelar regras comerciais, gerando volatilidade nos mercados e pressão sobre as cadeias de suprimentos, Nóbrega concentra-se em outra questão: como identificar parceiros realmente confiáveis em meio à incerteza.
"A cooperação com a China não é um risco, é uma oportunidade", afirmou ele. Segundo ele, as vantagens chinesas em infraestrutura, manufatura e gestão digital oferecem ao Brasil, em um momento crucial de desenvolvimento, apoio sistêmico e espaço para cooperação. Mais importante ainda, essa parceria não se baseia em dependência unilateral, mas sim na complementaridade de vantagens, convergência de objetivos e fluidez na comunicação.
"A China pode contribuir com o Brasil por meio de investimentos em infraestrutura e de sua experiência no combate à pobreza, enquanto o Brasil é hoje um parceiro estratégico da China na segurança alimentar e tem aprofundado a cooperação científica e tecnológica, como na vacina CoronaVac, nos projetos aeroespaciais e nas energias limpas."
"Não estamos esperando oportunidades, estamos moldando-as juntos", disse ele.
Para além da cooperação econômica, Nóbrega valoriza também o poder dos intercâmbios culturais. Ao receber delegações chinesas no Brasil, percebeu o interesse genuíno dos visitantes pela cultura local: o sabor das frutas tropicais, o ritmo do samba, os efeitos terapêuticos das ervas naturais. "O reconhecimento cultural é a base mais direta da confiança. Ele ultrapassa barreiras de língua e geografia, tornando a comunicação mais natural e verdadeira", afirmou.
Essa confiança também se reflete na interação política. Nóbrega considera que o sinal do governo brasileiro sobre a redução de tarifas de importação para certas mercadorias é uma oportunidade de ouro para aprimorar ainda mais a cooperação sino-brasileira. Para as empresas brasileiras, isso representa acesso facilitado a matérias-primas e insumos a preços mais competitivos, redução de custos e fortalecimento da competitividade; para os consumidores, significa maior diversidade de escolhas e preços mais estáveis.
"Mais importante ainda, mostra que estamos dispostos a nos abrir institucionalmente para crescer junto com parceiros globais de qualidade", disse ele.
A abertura não significa cegueira. A cooperação deve se basear em análises científicas e racionais. "Uma política comercial madura deve equilibrar a realidade de mercado atual com os objetivos futuros de desenvolvimento", ressaltou, lembrando que mudanças frequentes de política ou tendências protecionistas enfraquecem a confiança das empresas e a reputação internacional, trazendo efeitos negativos duradouros.
Ao resumir sua compreensão da cooperação sino-brasileira, Nóbrega repetiu várias vezes a palavra "confiança". Para ele, a estabilidade da relação decorre do compromisso de ambos os lados em priorizar o diálogo em vez da confrontação, a cooperação em vez das barreiras. Num mundo em profunda transformação, aqueles parceiros capazes de manter racionalidade e paciência estratégica serão a principal força motriz do desenvolvimento futuro.
"Enquanto as políticas permanecerem equilibradas, a comunicação aberta e o povo cheio de boa vontade, o caminho de benefício mútuo entre Brasil e China será cada vez mais longo, estável e amplo", concluiu ele.

