Rio de Janeiro, 3 dez (Xinhua) -- A pobreza no Brasil caiu ao menor nível da história em 2024 (23,1%), após 8,6 milhões de pessoas saírem da pobreza no ano passado, anunciou nessa quarta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Este é o menor nível de extrema pobreza desde 2012, quando as medições começaram, e representa uma queda de 4,2 pontos percentuais em comparação com 2023, quando o índice era de 27,3%.
Segundo o IBGE, 48,9 milhões de pessoas no Brasil viviam com menos de US$ 6,85 por dia no ano passado. Em 2023, esse grupo chegou a 57,6 milhões de pessoas, mostrando uma redução significativa pelo terceiro ano consecutivo e a consolidação da recuperação socioeconômica após a pandemia de COVID-19.
Os dados indicam que a pobreza, que havia aumentado acentuadamente em 2021, atingindo 77 milhões de pessoas (36,8% da população), vem diminuindo desde 2022, quando se situava em 31,6%. Em 2024, a proporção caiu para 23,1%, a menor de toda a série histórica.
As tendências históricas mostram variações marcantes nos últimos anos. Em 2012, o país registrou 68,4 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza (34,7%). Esse número caiu ligeiramente para 67,5 milhões em 2019, o último ano antes da pandemia, o equivalente a 32,6% da população.
Em 2020, impulsionada por programas de assistência emergencial, a taxa de pobreza caiu para 31,1%, mas voltou a subir em 2021 devido ao enfraquecimento do mercado de trabalho e à redução dos benefícios sociais.
O pesquisador do IBGE André Geraldo de Moraes Simões, explicou que o recente aumento combina dois fatores decisivos: a melhora do mercado de trabalho e o fortalecimento dos programas de transferência de renda.
"A partir de 2022, o mercado de trabalho voltou a aquecer, acompanhado pelo aumento dos programas de assistência social. Tanto o emprego quanto os benefícios, especialmente o Bolsa Família e o Auxílio Brasil, que ampliaram seu alcance, possibilitaram esse aumento", observou.
O estudo lembra que o Auxílio de Emergência, pago em 2020 durante a fase mais aguda da crise sanitária, contribuiu para uma queda temporária da pobreza. No entanto, em 2021, os benefícios foram reduzidos e o emprego permaneceu frágil, o que aumentou os níveis de vulnerabilidade social.
No segundo semestre de 2022, o programa Auxílio Brasil aumentou seus pagamentos para 600 reais (US$ 113) e, em 2023, o programa voltou a se chamar Bolsa Família.
"A partir de 2022, o Bolsa Família manteve valores mais altos e ampliou sua cobertura." O IBGE também registrou uma queda acentuada na pobreza extrema, definida como a população que vive com menos de US$ 2,15 por dia. O número de pessoas nessa condição caiu de 9,3 milhões em 2023 para 7,4 milhões em 2024, o que significa que 1,9 milhão de pessoas saíram dessa situação. A proporção correspondente caiu de 4,4% para 3,5%, o menor índice registrado desde o início da série histórica, em 2012.
Em perspectiva histórica, a pobreza extrema atingiu seu pico em 2021, com 18,9 milhões de pessoas (9% da população). Em 2012, esse índice era de 6,6%, o que evidencia a magnitude da recuperação observada desde 2022.
Apesar do progresso, o estudo destaca a persistência das desigualdades regionais. As regiões Norte e Nordeste apresentam índices muito superiores à média nacional. Em 2024, a pobreza afetava 39,4% dos habitantes do Nordeste e 35,9% do Norte, em comparação com a média nacional de 23,1%. No Sudeste, o índice era de 15,6%; no Centro-Oeste, 15,4%; e no Sul, 11,2%.
A pobreza extrema seguiu a mesma tendência: 6,5% no Nordeste e 4,6% no Norte, em comparação com 3,5% em nível nacional. No Sudeste, a taxa era de 2,3%; no Centro-Oeste, 1,6%; e no Sul, 1,5%.
O relatório também destaca a desigualdade entre os grupos raciais. Entre os brancos, 15,1% viviam em situação de pobreza e 2,2% em extrema pobreza. Entre a população negra, esses percentuais chegaram a 25,8% e 3,9%, respectivamente. Entre pessoas mestiças, as taxas de pobreza foram de 29,8% e de extrema pobreza, de 4,5%.
Outro dado relevante é a redução do Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda. Em 2024, o indicador atingiu 0,504, o menor valor desde 2012 e inferior aos 0,517 registrados em 2023. Os cálculos do IBGE mostram que o índice teria sido de 0,542 sem os programas de transferência de renda, demonstrando seu efeito redistributivo.
Em outro cenário hipotético, o instituto avaliou a situação de idosos sem benefícios previdenciários. Segundo o estudo, a pobreza extrema entre pessoas com 60 anos ou mais saltaria de 1,9% para 35,4%, enquanto a pobreza subiria de 8,3% para 52,3%.
A pesquisa também mostra que a pobreza afeta desproporcionalmente os trabalhadores informais. Entre os que trabalham sem contrato formal, a proporção chegou a 20,4%, enquanto entre os trabalhadores com carteira assinada foi de 6,7%.

