Esforços incansáveis ​​para atingir o reconhecimento global do Massacre de Nanjing-Xinhua

Esforços incansáveis ​​para atingir o reconhecimento global do Massacre de Nanjing

2024-12-15 11:36:49丨portuguese.xinhuanet.com

* Muitos acreditam que o Massacre de Nanjing continua menos reconhecido no Ocidente em comparação a outras atrocidades da Segunda Guerra Mundial.

* Em 13 de dezembro de 1937, tropas japonesas capturaram Nanjing, iniciando seis semanas de devastação que mataram cerca de 300.000 civis e soldados desarmados.

* Em 2014, a principal legislatura da China definiu 13 de dezembro como o dia nacional em memória às vítimas.

Por Cheng Lu, Bai Xu e Qiu Bingqing

Nanjing, 13 dez (Xinhua) -- Por 20 anos, o sino-americano Lu Zhaoning fez uma peregrinação anual quase todo mês de dezembro, saindo de sua casa nos Estados Unidos ao seu local de nascimento, Nanjing, uma cidade marcada pelos horrores da Segunda Guerra Mundial.

Em sua mala há relíquias frágeis, como jornais, fotos e cartas, fragmentos da memória global que viram as atrocidades dos invasores japoneses na China, incluindo o Massacre de Nanjing, um dos capítulos mais sombrios da guerra.

As atrocidades começaram em 13 de dezembro de 1937, quando as tropas japonesas capturaram a então capital chinesa, desencadeando seis semanas de devastação que custaram a vida de cerca de 300.000 civis e soldados desarmados.

11ª cerimônia memorial nacional para as vítimas do Massacre de Nanjing é realizada no Memorial Hall das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos Invasores Japoneses em Nanjing, capital da província de Jiangsu, no leste da China, no dia 13 de dezembro de 2024. (Xinhua/Ji Chunpeng)

"A cada dia que passa, a história fica mais distante", disse o homem de 60 anos à Xinhua. "Artefatos estão desaparecendo com o tempo. É meu dever proteger essas histórias para que elas não sejam esquecidas".

 

GUARDIÕES GLOBAIS DA HISTÓRIA

A autora sino-americana, Iris Chang, publicou seu livro "O Estupro de Nanjing: O Holocausto Esquecido da Segunda Guerra Mundial" em 1997, mostrando ao mundo ocidental um pouco do que aconteceu naquele inverno na China.

"Ela ficou muito angustiada com as dificuldades dos sobreviventes, com muitos deles carregando cicatrizes físicas e emocionais para o resto da vida", disse Yang Xiaming, tradutora da falecida autora durante sua viagem de pesquisa de 20 dias a Nanjing.

"Ela até mostrou interesse em estudar direito e lutar pelos direitos deles", lembrou Yang.

O best-seller de Chang chamou muita atenção global para o massacre, inspirando muitos como Lu Zhaoning a conhecerem mais sobre esse capítulo sombrio da história.

Livros de Iris Chang "O Estupro de Nanjing: O Holocausto Esquecido da Segunda Guerra Mundial" expostos em sala de leitura do Memorial da Guerra do Pacífico da Segunda Guerra Mundial de São Francisco em São Francisco, Estados Unidos, no dia 20 de agosto de 2022. (Xinhua/Wu Xiaoling)

Quando a família de Lu imigrou para os Estados Unidos em 1980, ele tinha 16 anos e raramente falava sobre o assunto. Mas uma pesquisa mais completa revelou uma tragédia familiar: o irmão de seu avô foi morto a baionetas pelas tropas japonesas. Seu nome agora está entre mais de 10.660 outros no "muro das lamentações" fora do Memorial Hall das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos Invasores Japoneses.

Ao longo das décadas, Lu doou mais de 3.000 artefatos e materiais para museus e instituições. Entre suas peças mais importantes estão um diário de veterano japonês detalhando como soldados chineses foram queimados vivos em uma montanha e também uma foto, tirada por um americano, mostrando três crianças deitadas mortas em uma rua de Nanjing após um bombardeio.

"Passei cerca de quatro horas por dia acessando sites, procurando materiais históricos e participando de leilões", disse Lu, inspetor de construção aposentado de uma empresa de energia de Nova York. "Às vezes eu tinha que parar, tinha receio de ser consumido pelo desespero".

O que dá segurança a Lu é a dedicação da China em preservar a memória do massacre em nível nacional.

Em 2014, a legislatura máxima da China definiu 13 de dezembro como o dia nacional de memória das vítimas do Massacre de Nanjing. Décadas antes, o Memorial Hall das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos Invasores Japoneses foi inaugurado em 1985.

11ª cerimônia nacional de memória das vítimas do Massacre de Nanjing é realizada no Memorial Hall das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos Invasores Japoneses em Nanjing, capital da província de Jiangsu, no leste da China, no dia 13 de dezembro de 2024. (Xinhua/Ji Chunpeng)

Com mais de 194.000 relíquias culturais, o salão se destaca como um lembrete da história, sediando a cerimônia anual de memória nacional e atraindo cerca de 5 milhões de visitantes anualmente. Também organizou conferências acadêmicas e exposições em países como Estados Unidos, Japão e França, de acordo com o ex-curador, Zhu Chengshan.

Thomas Rabe, neto do empresário alemão John Rabe, está entre os comprometidos em preservar essa história. Durante o massacre, o velho Rabe se juntou a outros estrangeiros para estabelecer uma zona de segurança internacional, salvando mais de 250.000 vidas chinesas. Seus diários continuam sendo um dos registros históricos mais abrangentes sobre a atrocidade.

Thomas Rabe doou os manuscritos originais dos diários de Nanjing de seu avô para a Administração de Arquivos Nacionais da China. Ele também foi autor do livro "Rabe e China" e, ao lado de sua esposa, estabeleceu seis Centros de Comunicação John Rabe em todo o mundo.

A milhares de quilômetros de distância, em Melbourne, Austrália, o fotógrafo Chris Magee, 66 anos, está em uma missão parecida. Seu avô John Magee, missionário americano, gravou secretamente 105 minutos de filmagem documentando a barbárie dos invasores japoneses em Nanjing. Acredita-se que essa filmagem seja o único registro em vídeo do massacre.

A conexão de Chris Magee com esse legado aumentou na sua primeira visita a Nanjing para o documentário "A Garota e a Foto". O filme, que conta a história de Xia Shuqin, que está entre os 32 sobreviventes ainda vivos registrados do Massacre de Nanjing, ganhou vários prêmios em festivais de cinema americanos.

Liu Minsheng (3º à direita, frente), sobrevivente do Massacre de Nanjing, e veteranos participam da 11ª cerimônia memorial nacional para as vítimas do Massacre de Nanjing realizada no Memorial Hall das Vítimas do Massacre de Nanjing pelos Invasores Japoneses em Nanjing, capital da província de Jiangsu, no leste da China, no dia 13 de dezembro de 2024. (Xinhua/Ji Chunpeng)

Magee visitou Nanjing várias vezes desde então, refazendo os passos de seu avô e registrando a transformação da cidade através de suas próprias lentes.

"É importante lembrar a história", disse ele em um e-mail para a Xinhua. "Caso contrário, ela continuará se repetindo, como vimos e ainda vemos hoje".

 

UM CAPÍTULO ESQUECIDO

Muitos acreditam que o Massacre de Nanjing continua menos reconhecido no Ocidente em comparação com outras atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Foi somente em 2015, 78 anos após o evento, que seus registros foram inscritos no Registro da Memória do Mundo da UNESCO. Em contraste, o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, ganhou o status de Patrimônio Mundial da UNESCO em 1979.

Chris Magee se lembrou de ter feito um curso de história chinesa no ensino médio nos Estados Unidos, onde o massacre não foi mencionado nos livros didáticos. "Geralmente, as pessoas ao meu redor não sabem do massacre, a menos que sejam amigos que conheçam a história da minha família", disse ele.

O bisneto de John Rabe, Christoph Reinhardt, observou uma disparidade semelhante, dizendo que, embora os visitantes chineses frequentemente deixem flores no túmulo de Rabe, ele continua relativamente desconhecido na Europa.

"Nanjing não é manchete na Europa, e John Rabe não é um herói conhecido aqui", disse Reinhardt à Xinhua. "As empresas de mídia ocidentais são, até hoje, muito influenciadas pelas perspectivas americanas. Não havia espaço para notícias da China".

Christoph Reinhardt, bisneto de John Rabe, em luto no túmulo de John Rabe em Berlim, Alemanha, no dia 6 de julho de 2024. (Xinhua/Li Hanlin)

"A China foi o primeiro país a enfrentar o ataque das Potências do Eixo em 1937, dois anos antes do Reino Unido e da França, e quatro anos antes dos Estados Unidos", escreveu a historiadora britânica Rana Mitter em seu livro "Aliada Esquecida: Segunda Guerra Mundial da China, 1937-1945".

Historiadores e especialistas argumentam que as narrativas ocidentais frequentemente diminuem o papel da China durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto as forças de direita japonesas não demonstraram remorso pelas ações de guerra de seu país e frequentemente tentam encobrir seus crimes de guerra.

A escritora chinesa Yang Xiaoyan defende a narrativa visual para aumentar a conscientização. "Filmes como ‘A Lista de Schindler’ aumentaram a conscientização global sobre o Holocausto. Precisamos de narrativas igualmente poderosas sobre o Massacre de Nanjing", disse ela.

Marcin Tomasz Damek, estudante polonês da história chinesa em Nanjing, concorda com essa visão. Ele defende o aproveitamento de novas mídias e vídeos curtos para tornar o Massacre de Nanjing conhecido por públicos mais jovens e conectar a história de Nanjing com narrativas mais amplas a fim de gerar um entendimento global.

Quando perguntado por que continua sendo essencial lembrar do massacre, ele disse: "Para as comunidades, é uma forma de curar traumas. Para os historiadores, é sobre conhecer melhor o passado. Para os educadores, é uma lição essencial para evitar a recorrência dessas tragédias".

Lu Zhaoning se orgulha de ajudar até mesmo um de seus colegas americanos ou seu barbeiro a entender o que aconteceu há 87 anos em uma cidade a mais de 11.000 quilômetros de distância.

"Não é sobre incentivar o ódio", disse ele. "É sobre ajudar todos a perceber o quão inestimável é a paz".

(Repórteres da Xinhua que também contribuíram para a matéria: Chu Yi, Jiang Fang, Jiang Wenxi e o estagiário Tang Min'an. Repórteres de vídeo: Yu Weiya, Deng Hansi, Xia Peng, Lin Kai e Gao Han. Edição de vídeo: Hong Yan, Zak Zuzanna e Luo Hui).

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