Bandeiras da União Europeia fora do Edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, Bélgica, no dia 29 de janeiro de 2025. (Xinhua/Meng Dingbo)
Embora as tarifas dos EUA afetem apenas 5% das exportações da UE, elas atingirão duramente as indústrias siderúrgica e automotiva, que já lutam com altos custos e fraca demanda.
Bruxelas, 15 mar (Xinhua) -- As ações europeias caíram esta semana, com uma ampla liquidação, alimentada por crescentes preocupações sobre as consequências da "Trumpcessão", um termo criado por economistas para descrever a turbulência desencadeada pelas políticas comerciais e econômicas "erráticas" do presidente dos EUA, Donald Trump.
A crescente tensão nas relações comerciais transatlânticas gerou receios de que a União Europeia (UE) talvez não escape ilesa se a "Trumpcessão" acontecer.
ESCALAÇÃO EM ESPIRAL
No começo desta semana, a UE disse que retaliaria contra as tarifas de 25% de Trump sobre aço e alumínio com contramedidas sobre 26 bilhões de euros (28 bilhões de dólares americanos) em importações dos EUA, incluindo barcos, bourbon e motocicletas.
"Enquanto os Estados Unidos estão impondo tarifas no valor de 28 bilhões de dólares, estamos respondendo com contramedidas no valor de 26 bilhões de euros", disse em comunicado a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, observando que as tarifas dos EUA afetam aproximadamente 5% do total de exportações de bens da UE para os Estados Unidos.
Trump reagiu rapidamente, ameaçando aplicar uma tarifa de 200% sobre vinhos e outros produtos alcoólicos da UE.
Veículos parados em semáforo perto da sede da UE em Bruxelas, Bélgica, no dia 4 de outubro de 2024. (Xinhua/Zhao Dingzhe)
"Se essa tarifa não for removida imediatamente, os Estados Unidos em breve aplicarão uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos, champanhes e produtos alcoólicos vindos da França e de outros países representados pela UE", escreveu Trump na plataforma de mídia social Truth Social.
Samina Sultan, economista do Instituto Econômico Alemão, disse que a incerteza resultante prejudica os investimentos corporativos e a economia em geral. "Isso também pode colocar empregos em risco nos dois lados do Atlântico".
Thomas Gitzel, economista-chefe do VP Bank em Liechtenstein, alertou que as tarifas atuais dos EUA são apenas o começo de barreiras comerciais crescentes. "Uma guerra comercial global está ganhando força, com riscos crescentes de maior intensificação", disse ele.
MAIS COMBUSTÍVEL
Embora as tarifas dos EUA afetem apenas 5% das exportações da UE, elas atingirão duramente as indústrias siderúrgica e automotiva, que já estão lutando com altos custos e fraca demanda.
As tarifas de aço dos EUA "atingirão vários níveis, em um momento já desafiador", disse Gunnar Groebler, presidente da Associação Alemã de Aço. De acordo com a associação, até 20% das exportações de aço da UE vão para os Estados Unidos, o segundo maior mercado de exportação para produtores de aço da UE.
As tarifas de 25% de Trump sobre automóveis "não são um problema pequeno para a UE", de acordo com um estudo da Oxford Economics. Citando suas estimativas de que as exportações de montadoras alemãs e italianas para os Estados Unidos podem cair em 7,1% e 6,6% devido à tarifa de automóveis, o estudo alertou que a indústria automotiva da UE é "altamente vulnerável" às ameaças tarifárias dos EUA.
Pessoas visitam pavilhão da BMW no Salão do Automóvel de Paris 2024 em Paris, França, no dia 14 de outubro de 2024. (Xinhua/Gao Jing)
David Bahnsen, diretor de investimentos do Bahnsen Group, destacou que "conversas sobre tarifas, reversão, especulação e caos só aumentam as incertezas".
Concordando com esse ponto de vista, Angel Gavilan, diretor de economia do Banco da Espanha, disse que as incertezas podem desacelerar significativamente a economia, pois pessoas e empresas podem atrasar o consumo e os investimentos, o que reduz a demanda geral e desacelera o crescimento econômico.
CRISE DA DÍVIDA
Desmond Lachman, pesquisador sênior do Instituto Empresarial Americano e ex-funcionário do FMI, alertou que as tarifas de Trump podem desencadear uma recessão em toda a Europa e outra crise da dívida na zona do euro.
Ele disse que a economia alemã está em uma desaceleração prolongada, enquanto a Itália e a França enfrentam graves problemas de dívida soberana, citando dados que mostram que suas taxas de dívida pública/PIB estão mais altas agora do que na crise da dívida da zona do euro de 2010 a 2012.
Os países da zona do euro estão vinculados a uma política monetária unificada do Banco Central Europeu. Isso significa que países como Itália e França não podem definir taxas de juros independentes ou políticas de taxa de câmbio para impulsionar as exportações e o consumo domésticos.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, faz declaração à imprensa sobre contramedidas da UE às tarifas dos EUA em Estrasburgo, França, no dia 12 de março de 2025. (União Europeia/Divulgação via Xinhua)
Além disso, esses países com dívida alta estão lutando para reduzir sua carga de dívida aumentando as exportações para a Alemanha. Mas a economia alemã está em uma fase de crescimento fraco e a demanda por importações está diminuindo.
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, disse que era "impossível" garantir que os formuladores de políticas atingiriam a meta de inflação de 2% no curto prazo, citando a volatilidade global. Ela acrescentou que as tarifas "não são boas, mas sim negativas em praticamente todas as contas".
"Quando a magnitude e a distribuição de choques ficam altamente imprevisíveis, não podemos dar certeza ao nos comprometermos com uma trajetória específica de taxa (de juros)", observou ela.